Em tempos em que correr virou tendência e muitas pessoas traçam metas para completar a primeira maratona, um brasileiro decidiu levar esse objetivo a outro nível. Hugo Farias, hoje com 45 anos, correu os 42,195 km de uma maratona todos os dias durante um ano, totalizando 366 maratonas em 366 dias consecutivos.
A ideia surgiu quando ele conheceu a história do belga Stefaan Engels, que havia completado 365 maratonas em um ano. Hugo quis ir além. Para superar a marca, montou um plano com um dia a mais.
“Foram 22 anos dedicados à tecnologia da informação. Mas, de repente, comecei a sentir um vazio que nada preenchia. Foi então que decidi fazer algo que me desafiasse ao extremo, que me conectasse a um propósito maior. Correr 366 maratonas não seria só sobre correr. Era sobre redescobrir quem eu sou e como poderia inspirar outros a se redescobrirem”, contou nas redes sociais.
O projeto exigiu oito meses de preparação. A rotina incluía planejamento logístico, apoio da família e acompanhamento de uma equipe multidisciplinar com treinador, fisioterapeuta, psicóloga e médicos.
Durante todo o desafio, o coração de Hugo foi monitorado por uma equipe do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. A proposta era entender os efeitos de longo prazo de um esforço físico extremo e diário. Os resultados foram publicados este ano, na revista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Benefícios da corrida
- A corrida é uma atividade acessível, que pode ser praticada em qualquer lugar e traz benefícios comprovados para a saúde física e mental.
- Logo nas primeiras sessões, já é possível sentir melhora no humor, redução do estresse e aumento da sensação de bem-estar. Os efeitos são provocados pela liberação de substâncias como endorfina e serotonina.
- O relaxamento promovido pela corrida também contribui para uma melhora da qualidade do sono.
- Com a prática regular, surgem ganhos duradouros, como mais fôlego, força e resistência muscular.
- Além de queimar muitas calorias durante o treino, o corpo continua gastando energia por até 36 horas depois.
O feito foi reconhecido pelo Guinness World Records como o maior número de maratonas consecutivas já realizadas por uma única pessoa
Mais do que buscar um recorde, Hugo queria entender como o corpo e, principalmente o coração, reagiriam a um esforço físico tão prolongado e intenso. O monitoramento durante as corridas permitiu coletar dados para estudos sobre os limites do desempenho humano e da saúde cardiovascular.
O desafio foi concluído em 28 de agosto de 2023. Ao final dos 12 meses, Hugo havia percorrido 15.569 quilômetros em cerca de 1.590 horas de corrida. O feito foi reconhecido pelo Guinness World Records como o maior número de maratonas consecutivas já realizadas por uma única pessoa.
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O que aconteceu com o coração do maratonista?
Hugo passou por uma bateria de exames no Instituto do Coração (InCor) antes de começar, incluindo eletrocardiograma, testes de sangue, avaliação física e um teste de esforço que mede a capacidade do corpo de consumir oxigênio durante o exercício. Esses exames foram repetidos periodicamente ao longo do ano.
Os resultados surpreenderam. Mesmo sob rotina extrema, o coração dele manteve um funcionamento considerado normal. A capacidade cardiorrespiratória permaneceu elevada para alguém da sua faixa etária. A força de contração do coração, o ritmo cardíaco e os marcadores de inflamação e lesão muscular também ficaram dentro dos parâmetros saudáveis.
Segundo os médicos, não foram detectadas arritmias perigosas nem sinais de sobrecarga cardíaca. O estudo, publicado recentemente na Sociedade Brasileira de Cardiologia, concluiu que o corpo de Hugo conseguiu se adaptar ao esforço contínuo sem apresentar danos ao coração.
Esse é um dos primeiros registros científicos com acompanhamento médico contínuo de um feito desse tipo. Para os especialistas, os dados ajudam a ampliar o conhecimento sobre os limites da resistência humana e os efeitos do exercício intenso e repetitivo sobre o sistema cardiovascular.
É importante lembrar que Hugo completou as 366 maratonas com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar especializada, que monitorava sua saúde em tempo real para evitar complicações. Desafios como esse não devem ser feitos sem a supervisão de profissionais.
“Esses resultados destacam a importância de uma avaliação cardiovascular cuidadosa em atletas submetidos a exercícios de resistência”, escreveram os pesquisadores no artigo científico.
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Fonte: Metrópoles