O Dia do Trabalhador, celebrado em 1º de maio, é um momento para reconhecer conquistas trabalhistas e refletir sobre as condições de trabalho atuais. Em meio a jornadas intensas, prazos apertados e cobranças constantes, nem sempre é fácil perceber quando a rotina profissional começa a prejudicar a saúde mental — e, em alguns casos, até a física.
Entre os sinais mais comuns estão o cansaço persistente, a irritabilidade e a sensação de estar sempre sobrecarregado, mesmo fora do expediente. A psicóloga Laís Rodrigues, do Grupo Reinserir Psicologia, explica que muitas vezes a pessoa perde o interesse em atividades que antes faziam sentido.
“Há um alto nível de cobrança com os próprios resultados ou até mesmo desengajamento drástico. E é importante lembrar que a razão do estresse corporativo vem do ambiente de trabalho, não do colaborador”, diz.
Para a psicóloga Luana Silva, que atua em São Paulo, o esgotamento pode afetar também as relações pessoais. “Muitas pessoas deixam de sair ou de se relacionar com amigos e familiares. É como se o trabalho estivesse sempre presente na cabeça, impedindo o verdadeiro descanso”, afirma.
O estresse no trabalho não afeta apenas a mente. Problemas físicos como insônia, enxaqueca, gastrite e até coceiras podem ter origem no ambiente profissional.
“O ritmo acelerado, somado à insegurança financeira e à falta de apoio psicológico nas empresas, tem levado ao aumento desses sintomas. E muitas vezes as pessoas tratam isso de forma isolada, sem perceber a conexão com a saúde mental”, aponta Luana.
Burnout não passa com um fim de semana de descanso
Diferenciar o cansaço normal de um quadro de esgotamento emocional é essencial para buscar ajuda no momento certo. “O cansaço comum melhora com folgas ou férias. Já o esgotamento, não. Mesmo com descanso, a pessoa continua sentindo fadiga, ansiedade, irritabilidade. Isso pode ser o início de um burnout”, alerta Laís.
Ela explica que, com o tempo, o esgotamento pode comprometer habilidades profissionais e até sociais. “Uma pessoa que sempre teve facilidade para dar treinamentos, por exemplo, pode começar a ter dificuldades de comunicação e interação por causa do burnout”, destaca.
De acordo com Luana, é comum ouvir de pacientes que dormiram o fim de semana inteiro, mas acordaram exaustos. “No Brasil, isso se agrava com jornadas intensas, como a escala 6×1, e com a sobrecarga das mulheres, que muitas vezes ainda acumulam tarefas domésticas”, acrescenta.
O que fazer quando o trabalho começa a pesar?
Nem sempre é possível pedir afastamento ou trocar de emprego, especialmente quando o trabalho é a principal fonte de renda. Por isso, encontrar alternativas dentro da realidade de cada um é fundamental.
“Estabelecer limites claros, reservar momentos de descanso e conversar com colegas ou superiores sobre a sobrecarga pode ajudar. Até mudanças simples, como ajustar a forma de organizar o tempo, fazem diferença”, orienta Luana.
Além disso, é importante reavaliar a rotina. “É preciso entender se a carga de trabalho está dentro do escopo da vaga ou se a pessoa está assumindo demandas que deveriam ser divididas. Outro ponto crucial: horário para começar e terminar o expediente. Trabalhar além do combinado vira um ciclo que compromete ainda mais a saúde”, explica Laís.
Quando buscar ajuda profissional
A hora de procurar ajuda especializada é quando o sofrimento começa a interferir nas relações, no desempenho profissional ou na autoestima. “Não é preciso esperar chegar ao limite. A psicoterapia ajuda a entender o que está acontecendo e a buscar formas mais saudáveis de lidar com a situação”, afirma Luana.
Ela lembra que existem alternativas de atendimento acessíveis, como clínicas-escola de universidades, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e iniciativas comunitárias. “A saúde mental precisa ser tratada como um direito, não um privilégio. O mais importante é não enfrentar esse sofrimento sozinho”, conclui.
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Fonte: Metrópoles