Psiquiatra descobre aos 50 que tem autismo e seus 3 filhos, também

A psiquiatra Aurora Andrade só descobriu que tem autismo em nível 2 de suporte aos 50 anos. Mesmo que tenha lidado com pessoas com o transtorno do espectro autista (TEA) ao longo de sua vida, incluindo seus três filhos com a neurodivergência, Aurora demorou a perceber os sinais em si mesma.

Quando finalmente veio, o diagnóstico foi um divisor de águas, trazendo sentido a décadas de dificuldades emocionais, sociais e sensoriais.

“Passei a vida toda me sentindo estranha e desajustada. Vivi um calvário tentando usar minha máscara de normalidade para me adequar ao que a sociedade espera de um neurotípico e isso me custou incontáveis crises de exaustão mental, bloqueio criativo, crises de pânico e o pior: a não compreensão de onde vinham esses sentimentos. Faço uso de ansiolíticos desde meus 13 anos. O diagnóstico literalmente me libertou”, diz a médica de Balneário Camburiú.

Na juventude, Aurora recebeu diversos diagnósticos – depressão, ansiedade – mas nenhum explicava por completo seus sintomas. Já adulta, quando os filhos estavam na pré-adolescência, ela decidiu realizar o sonho de cursar medicina.

Ao se interessar pelo tema, porém, ela começou a investigar mais profundamente sobre o autismo e se reconhecer naqueles sintomas. “O espectro é amplo, mas acabei percebendo que sensações físicas, comportamentais e até subjetivas que eu tinha eram relacionadas com o autismo”, lembra ela. A descoberta do TEA em si permitiu que ela o enxergasse também em seus filhos: os três foram diagnosticados como autistas de nível 1 ou 2 de suporte.

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Embora diagnóstico tenha chegado tarde, os sinais já estavam presentes desde a infância

Família se adaptou ao diagnostico de autismo e renovou os laços familiares
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Todos os filhos de Aurora foram diagnosticados com diferentes graus de autismo

Reprodução/Acervo pessoal

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Embora diagnóstico tenha chegado tarde, os sinais já estavam presentes desde a infância

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Família se adaptou ao diagnostico de autismo e renovou os laços familiares

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O espectro autista

O autismo é um espectro que envolve uma série de necessidades especiais. Em geral, pessoas com o transtorno possuem dificuldades de comunicação e interação social, tendência a comportamentos repetitivos e ao hiperfoco em temas específicos, além da dificuldade para interpretar as emoções dos outros e de expressar as próprias emoções.

“Muitas pessoas passam muitos anos sem diagnóstico por terem níveis leves de autismo simplesmente porque não parecem autistas. Esse autismo invisível traz desafios profundos, como esgotamento emocional, isolamento e dificuldades no ambiente de trabalho e social”, explica a psiquiatra Danielle Admoni, supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM).


Os diferentes níveis de autismo

  • O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição que acomete de 2 a 3% da população. Ele possui três diferentes níveis: leve, moderado e severo.
  • Os graus do autismo não são definidos a partir da capacidade do paciente, e sim pela necessidade de suporte.
  • Porém, como o próprio nome diz, trata-se de um espectro e há pessoas que transitam nas fronteiras entre graus a depender do momento da vida e do tratamento ao qual estão submetidas.
  • Nível 1 (autismo leve): costumam ser mais adeptos à rotina e ter um pensamento fechado, mas são independentes e costumam suavizar os sinais de forma involuntária. Resistem a iniciar interações sociais, a trocar olhares e são focados em si mesmos.
  • Nível 2 (autismo moderado): nestes casos, a condição já é mais evidente e o indivíduo necessita de apoio no dia a dia e terapias direcionadas. Possuem dificuldade de socializar, podendo ter atraso de fala ou se comunicar de forma desconexa.
  • Nível 3 (autismo severo): precisa de apoio constante. Tendem ao isolamento e a uma forte fixação em objetos de interesse. Mesmo com acompanhamento terapeutico, têm pouca autonomia e podem, inclusive, chegar a ser considerados juridicamente incapazes.

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A percepção materna e os primeiros sinais

Além de sentir na pele a dificuldade de chegar a um diagnóstico, Aurora também enfrentou os percalços de reconhecer a diversidade de sinais em seus filhos.

“A experiência de descobrir meu próprio TEA me deu uma perspectiva única, permitindo-me identificar os sinais com maior clareza e empatia. Por exemplo, meu filho mais velho demonstrava uma hipersensibilidade auditiva extrema, manifestada ainda bebê. Minha filha do meio, por outro lado, apresentava seletividade alimentar e tinha dificuldade em fazer amigos. Ao entender como esses sinais se encaixavam, pude abordar suas necessidades com uma compreensão e empatia que talvez não tivesse antes”, afirma a psiquiatra.

A observação contínua levou à busca por diagnóstico para os filhos, mesmo que todos já fossem adultuos. “Cada membro da família trouxe uma perspectiva única que nos ajudou a entender melhor as nuances da neurodivergência. Com os diagnósticos e níveis de suporte variados, desenvolvemos estratégias personalizadas para apoiar um ao outro”, conta.

O filho mais velho foi o primeiro a ser diagnosticado, há dois anos, quando tinha 30 anos. Além do autismo, ele tem altas habilidades. Após a confirmação da neurodivergência, é praxe que se leve a uma avaliação clínica familiar quando um ou mais membros da família são neurodivergentes. Foi nesta avaliação que se descobriu que a filha do meio (hoje com 30 anos) e a caçula (de 28) possuem, ambas, nível 1 de suporte do TEA. A caçula possui também TDAH, combinação comum entre autistas.

Na universidade, Aurora se especializou em psiquiatria, mas critica a baixa proporção que os transtornos neurossensoriais têm na formação de um médico: “Em todo o curso, tive no máximo oito horas de curso sobre essa ampla gama de transtornos”.

Transformações dentro da família

A descoberta da neurodivergência mudou a dinâmica familiar. “Compreendemos que não somos frios. Só expressamos o afeto de outra forma”, relata Aurora. A partir do diagnóstico, eles criaram estratégias de convivência respeitando as particularidades de cada um.

“A adaptação a essas novas informações não foi imediata. Passamos por um período de ajustamento, onde cada membro da família precisou aprender a lidar com as particularidades. Desenvolvemos uma compreensão mais profunda sobre o que significa ser neurodivergente e como isso afeta nossas vidas diárias”, diz Aurora.

A aceitação da neurodivergência permitiu construir um ambiente de apoio mútuo. “Sempre fui absolutamente presente na vida deles, mas também sou autista! Nosso amor é imenso e incondicional, mas sinto que o demonstramos de outras formas e que isso nos é suficiente”, completa.

Vida teria sido diferente com diagnóstico precoce

Embora a família tenha se adaptado bem ao se entender no TEA, Aurora lamenta que o diagnóstico tenha chegado tão tarde para todos.

“Autismo não é um superpoder. Tenho seletividade alimentar. Evito restaurantes: comer para mim é um ritual. Não tenho percepção de temperatura. Não sinto sede. Sinto dor quando me tocam, mesmo que delicadamente. Falo tudo isso para dizer que autistas necessitam de avaliação comportamental desde que nascem! Observem seus filhos. Tenham um olhar atento sobre comportamentos pouco convencionais. Seu filho odeia que lhe toquem nos cabelos? Ou só come determinado tipo de comida? Seus filhos não dormem como deveriam? Andam nas pontas dos pés?”, completa a psiquiatra.

Por isso, o psicólogo Fábio Coelho, especialista em autismo do Rio de Janeiro, também destaca a importância de um diagnóstico precoce do autismo. “Quanto mais cedo identificamos os sinais, maior é a chance de apoiar o desenvolvimento pleno da criança nas áreas social, comunicacional e comportamental, promovendo sua autonomia e bem-estar”, diz.

“Crianças diagnosticadas precocemente com TEA tendem a ter melhores resultados na escola e nas interações sociais, pois recebem intervenções e suporte adequados. Isso pode incluir desde terapias comportamentais até estratégias educacionais personalizadas que ajudam a criança a se desenvolver de forma mais equilibrada e confiante”, conclui Fábio.

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Fonte: Metrópoles

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