A depressão pós-parto é uma condição marcada por tristeza intensa e desânimo que pode surgir logo após o nascimento do bebê. Mais do que um sofrimento silencioso, ela interfere diretamente no vínculo entre mãe e filho, afetando especialmente a construção do afeto nos primeiros meses de vida.
Alguns fatores tornam certas mulheres mais vulneráveis à depressão pós-parto. Histórico de depressão ou ansiedade, gravidez não planejada, relacionamento instável, dificuldades financeiras e até mesmo complicações no parto estão entre os elementos que elevam o risco.
“A pressão social para ser uma ‘mãe perfeita’ também pode aumentar a vulnerabilidade emocional nesse período”, aponta a psicóloga Mariane Pires Marchetti, que atua em São Paulo.
A vulnerabilidade à depressão pós-parto também é atravessada por fatores sociais, como a desigualdade de acesso a cuidados e o isolamento materno, especialmente entre mulheres em contextos de maior vulnerabilidade.
“Mulheres negras, periféricas ou em trabalhos precarizados enfrentam mais barreiras para acessar cuidados e estão mais expostas à solidão materna. Além disso, quando o parceiro se ausenta, quando a rede de apoio falha, quando a cobrança é maior do que o cuidado, tudo isso pesa”, afirma a psicóloga Raiani Cheregatto, do grupo Reinserir Psicologia.
Sintomas mais comuns
Ao contrário do cansaço esperado no pós-parto, a DPP apresenta sinais persistentes que merecem atenção. Tristeza prolongada sem motivo claro, choro frequente, irritabilidade, culpa por não estar bem, alterações no sono e dificuldade para se conectar com o bebê são alguns deles.
“Também pode haver sentimentos de culpa, perda de interesse por atividades prazerosas e, em casos mais graves, pensamentos de morte ou de machucar a si mesma ou o bebê”, diz Mariane.
Muitas vezes, a própria mãe não reconhece os sintomas, especialmente por estar imersa nos cuidados com o recém-nascido e por acreditar que o sofrimento faz parte da maternidade.
“O olhar das pessoas próximas é fundamental. Familiares e amigos devem estar atentos a mudanças de humor, isolamento, falas negativas sobre si mesma ou o bebê e sinais de exaustão emocional“, orienta Mariane.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da depressão pós-parto é clínico, feito por psicólogos ou psiquiatras, e leva em conta a duração e intensidade dos sintomas, bem como seu impacto na vida da mulher.
Segundo Mariane, o ideal é buscar ajuda se os sintomas persistirem por mais de duas semanas ou se estiverem atrapalhando a rotina. “Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, melhores são as chances de recuperação e fortalecimento do vínculo com o bebê”, afirma.
É possível evitar?
Não há uma fórmula para prevenir totalmente a depressão pós-parto, já que ela envolve múltiplos fatores. Mas criar condições mais seguras e acolhedoras para a mulher pode reduzir os riscos.
“Presença, escuta, informação e espaço para falar do que se sente são fundamentais. Quando a mulher não precisa fingir que está bem e tem apoio tanto emocional quanto material, o sofrimento encontra um lugar para ser transformado”, diz Raiani.
Mariane reforça a importância do acompanhamento ainda na gestação. “Orientação adequada, preparo emocional para o puerpério e fortalecimento da rede de apoio fazem toda a diferença na prevenção e no cuidado”, finaliza a especialista.
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Fonte: Metrópoles