Em um cenário internacional marcado por incertezas e complexidades, as democracias enfrentam desafios significativos para sua sobrevivência e eficácia, segundo análise de Alberto Pfeifer, coordenador-geral do Grupo de Análise de Estratégia Internacional em Defesa, Segurança e Inteligência da Universidade de São Paulo (DSI-USP), ao discutir as dinâmicas que moldam o panorama geopolítico atual.
Pfeifer destaca três níveis de análise fundamentais para compreender as movimentações no tabuleiro global: o econômico, o político e o estratégico-militar. Cada um desses níveis opera em uma temporalidade distinta, influenciando as decisões e ações dos atores internacionais de maneiras diferentes.
O nível econômico, segundo o especialista, é caracterizado por mudanças rápidas e frequentes, como exemplificado pelas políticas tarifárias de Donald Trump. Já o tempo político é regido por normas e regras específicas de cada regime. Por fim, o tempo estratégico-militar é associado ao uso da força e à gestão de conflitos potenciais ou em curso.
Alberto Pfeifer ainda ressalta a importância de considerar essas diferentes temporalidades ao analisar conflitos como a guerra entre Rússia e Ucrânia ou entre Israel e o Hamas, em Gaza. Ele também destaca a disputa hegemônica entre China e Estados Unidos como exemplo crucial dessa dinâmica complexa.
Regimes políticos e suas implicações
O coordenador do DSI-USP traça um paralelo entre os sistemas políticos de potências como China, Rússia e países ocidentais. “Enquanto a China, sob o regime autoritário do Partido Comunista, opera com uma visão de longo prazo, e a Rússia, com seu sistema autocrático, mantém uma continuidade estratégica, as democracias ocidentais enfrentam desafios únicos devido à alternância de poder e eleições periódicas”, explica Pfeifer.
“No caso dos Estados Unidos e da Europa, as frequentes mudanças políticas internas podem afetar a consistência das políticas externas e a capacidade de resposta a desafios de longo prazo. “Esta dinâmica pode colocar as democracias em desvantagem inicial frente a regimes mais estáveis como China e Rússia”, acrescenta.
O futuro das democracias
O grande desafio, segundo Pfeifer, é entender como as democracias conseguirão sobreviver aos riscos econômicos, políticos e militares ao longo do tempo. Ele questiona se o regime democrático, com seu primado das liberdades individuais, livre iniciativa e liberdade de expressão, conseguirá se manter sólido e oferecer boas condições de vida aos cidadãos no futuro.
“O equilíbrio entre a flexibilidade necessária para responder a crises imediatas e a consistência para abordar desafios estratégicos será crucial para a sobrevivência e o fortalecimento dos sistemas democráticos no cenário global em constante evolução”, conclui.