Será necessário esperar para ver exatamente o que o bombardeio dos Estados Unidos contra instalações nucleares do Irã realizou e até que ponto isso prejudicou as ambições nucleares do país.
Enquanto isso, a Casa Branca e o Pentágono lançaram um esforço conjunto para convencer os americanos de que a missão foi bem-sucedida e necessária.
Em uma entrevista coletiva no Pentágono, o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Dan Caine, detalhou os anos de planejamento que sustentaram a prontidão para o ataque e como ele foi executado.
Detalhes como os compartilhados por Caine podem ajudar a influenciar a opinião pública e fazer com que os americanos apoiem os ataques. Mas a avaliação inicial de como o público vê a operação provavelmente não é o que o governo esperava.
Uma pesquisa CNN divulgada na semana passada revelou que 56% das pessoas ouvidas desaprovou os ataques.
Os resultados da pesquisa da CNN seguem linhas ideológicas previsíveis. Os democratas quase sempre desaprovarão o que o governo Trump faz, e os republicanos quase sempre aprovarão.
Na reportagem, foi evidenciado que a maioria dos eleitores independentes (60%) e democratas (88%) desaprova a decisão de realizar uma ação militar no Irã.
Já os republicanos aprovam amplamente (82%), mas apenas 44% deles aprovam fortemente os ataques aéreos — um número bem menor do que o grupo de democratas que desaprova fortemente (60%), talvez refletindo a desconfiança generalizada de alguns na coalizão de Trump em relação à ação militar no exterior.
É uma regra da política dos Estados Unidos que os eleitores independentes são geralmente aqueles que podem, à medida que suas opiniões mudam de direção, influenciar o poder no país.
E em uma série de questões, eles têm se voltado contra Trump.
Aaron Blake, da CNN, analisou na semana passada diversas pesquisas sobre o abrangente projeto de lei de política interna de Trump, que é avaliado pelo Congresso americano.
“Os independentes se opuseram ao projeto de lei por uma margem de cerca de 3 para 1… As pesquisas da KFF e da Fox News – aquelas com o menor número de indecisos – mostraram que 7 em cada 10 independentes se opuseram a ele”, escreveu Blake.
Sobre deportações e política imigratória, o editor de pesquisas da CNN, Ariel Edwards-Levy, escreveu em abril: “mais da metade dos independentes agora dizem não ter confiança real nele para lidar com o assunto, com 56% dizendo que ele foi longe demais com as deportações”.
Sobre tarifas, economia e cortes governamentais, Trump falhou, pelo menos até agora, em convencer os americanos que não se identificam com nenhum dos partidos de que sua agenda é a coisa certa a se fazer.
Conversei com o analista-chefe de dados da CNN, Harry Enten, que acompanha essa tendência há algum tempo.
“Está bem claro que os independentes e os eleitores independentes se voltaram contra Trump”, ele me disse.
Em abril, a análise de Enten pontuou que Trump tinha o pior índice de aprovação já registrado entre os eleitores independentes naquele momento da Presidência.
“O problema dele é que ele perdeu completamente o centro do eleitorado”, ponderou Enten, apresentando duas razões para isso:
- Os independentes não gostam do que Trump está fazendo na economia
- Eles não parecem gostar da maior parte de sua agenda (como exemplo, há o projeto de lei abrangente).
Isso representará grandes problemas para Trump e o Partido Republicano daqui para frente.
“Agora, é possível que Trump e o Partido Republicano possam se sair bem sem que os independentes se apoiem esmagadoramente a eles”, avlaiou Enten, apontando que os independentes se apoiem em Trump em 2024.
“O problema é que não se pode perder mais de 20 pontos para os independentes e sobreviver na política americana”, acrescentou.
Ao mesmo tempo, os independentes são difíceis de “rastrear” por vários motivos. Ao contrário de republicanos e democratas, eles não agem como um bloco eleitoral unificado, segundo Edwards-Levy e Jennifer Agiesta, da CNN, escreveram alguns anos atrás.
“Muitos independentes são, de fato, partidários e certamente não são moderados de fato”, me disse Edwards-Levy.
O que os independentes têm em comum?
“Eles são menos fortemente atrelados a lealdades partidárias específicas e menos propensos a se envolverem intimamente com a política, o que torna suas opiniões potencialmente mais maleáveis do que as de partidários mais fortes”, destacou Edwards-Levy.
Em uma pesquisa recente do Washington Post sobre o projeto de lei de Trump, por exemplo, apenas 18% dos democratas e 25% dos republicanos disseram não ter ouvido nada sobre a controversa proposta de estender os cortes de impostos do primeiro mandato do presidente, criar novos cortes de impostos e cortar gastos, incluindo o Medicaid.
Uma parcela muito maior de independentes, 34%, não tinha ouvido nada sobre a principal prioridade legislativa do presidente.