O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou as tarifas de importação sobre aço e alumínio a partir dessa quarta-feira (4/6). As taxas, que haviam subido 25% em março, agora passam para 50%. A ação atinge diretamente a indústria brasileira, gerando um cenário de incertezas frente às mudanças no mercado norte-americano, que comprou 4,1 milhões de toneladas de aço do Brasil no ano passado.
Esse volume coloca o Brasil como o segundo maior exportador de aço para os EUA, atrás apenas do Canadá, que forneceu 6 milhões de toneladas. A elevação da tarifa pode representar um desafio adicional para a indústria siderúrgica brasileira, que tem nos Estados Unidos um de seus principais mercados.
Impactos no Brasil
- A elevação das tarifas dos EUA para 50% sobre o aço e alumínio impacta diretamente a indústria brasileira, que é o 2º maior exportador para os norte-americanos.
- Economistas apontam que é muito difícil para o mercado brasileiro absorver as novas taxas, mantendo a rentabilidade das exportações.
- As medidas geram grande incerteza para o comércio exterior, e podem elevar os custos de produção para setores que usam aço e alumínio como insumos.
- Entidades e governo brasileiro buscam diálogo e negociações específicas com os EUA, destacando a necessidade de defesa comercial e visão de longo prazo para o Brasil.
Leandro Barcelos, secretário do Instituto Brasileiro de Comércio Internacional, Investimentos e Sustentabilidade (IBCIS), comenta que as ações do governo de Trump trazem implicações significativas para as cadeias produtivas globais e podem desencadear retaliações comerciais.
Na visão dele, o impacto econômico para as empresas brasileiras é duplo. Por um lado, setores que utilizam aço e alumínio como insumos básicos, tendo a indústria automobilística e da construção civil como exemplos, enfrentam o risco de elevação dos custos produtivos devido às oscilações do mercado internacional. Isso pode reduzir as margens de lucro e comprometer a competitividade no mercado global.
Segundo Barcelos, por outro lado, uma possível retaliação comercial por parte dos EUA pode gerar barreiras para as exportações nacionais, prejudicando o fluxo de comércio bilateral e forçando o setor a buscar alternativas para diversificação de mercados e insumos. Ainda, o desvio de comércio de outros países, como a China, para o Brasil pode afetar a competitividade da indústria brasileira.
“Diante desse cenário, é imperativo que as empresas e o governo brasileiro adotem medidas estratégicas para mitigar os efeitos adversos dessa política protecionista. O governo brasileiro deve intensificar as negociações comerciais bilaterais com os EUA para tentar chegar em um acordo específico para redução das tarifas para o Brasil, assim como o Reino Unido já fez e foi o único país não afetado pela nova medida”, aponta o secretário do IBCIS.
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Lia Valls, pesquisadora associada da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e chefe do Departamento de Análise Econômica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), alerta para uma conjuntura de dúvidas geradas pelas medidas do governo dos Estados Unidos: “Isso é o pior de tudo, essa incerteza que ele [Trump] causa. O comércio exterior precisa de previsibilidade. Quer dizer, ele tira qualquer noção de previsibilidade em termos das operações de comércio exterior”.
A professora indica que será muito difícil para a indústria brasileira absorver completamente as novas taxas já que vão perder muita rentabilidade no processo de exportação. Além disso, agora o Brasil encontra também um espaço de maior competitividade com o mercado chinês, sobretudo em relação à venda de aço no mundo.
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Valls relata que as ações de Trump encontram uma pressão vinda das indústrias americanas que utilizam o aço, como a automobilística: “O próprio investidor americano também tem as suas dúvidas. Ainda tem esse grande panorama de incerteza em relação ao futuro, pode ser que não tenha consequências, agora, já aparecendo porque os efeitos financeiros demoram um pouco para aparecer”.
Associação cobra resposta estratégica
A Associação Brasileira do Alumínio (Abal) classificou que o ato de Trump amplia incertezas e reforça a necessidade de defesa comercial. Segundo a organização, estamos em um cenário em que medidas protecionistas passam a conviver com agendas industriais mais coordenadas.
“O Brasil dispõe de ativos únicos para responder a essa nova realidade: a 4ª maior reserva de bauxita, a 3ª maior produção global de alumina e uma cadeia produtiva verticalizada, com alta taxa de reciclagem e investimentos crescentes em energia limpa”, descreveu a entidade.
A Abral também alertou sobre os riscos da nova escalada tarifária dos EUA e defendeu uma resposta estratégica e calibrada. Além disso, apontou que a atitude norte-americana mostra a importância de uma visão de longo prazo para reposicionar o Brasil nas cadeias globais.
A resposta do governo brasileiro, indicada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin nessa quarta-feira (4/6), estaria em incentivar mais o diálogo porque a nova taxa de 50% seria ruim para todo o mundo. Ele ainda informou que já foi criado um grupo de trabalho para tratar sobre o tema junto aos norte-americanos.
“Já tivemos reuniões presenciais e por videoconferência. Então, vamos aprofundar esse diálogo. E destacar que o Brasil não é problema para os Estados Unidos”, concluiu Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Fonte: Metrópoles