Há quase cinco meses, um foguete da SpaceX decolou da Flórida carregando dois módulos lunares. A espaçonave Blue Ghost, da empresa Firefly Aerospace, sediada no Texas, voou rumo à Lua e, em março, tornou-se o primeiro veículo robótico comercial a pousar na superfície lunar em posição vertical.
A outra espaçonave, desenvolvida pela empresa japonesa Ispace, está apenas agora chegando ao seu destino.
Resilience, como é chamado o módulo lunar não tripulado, está programado para tentar seu pouso às 15h24 (horário de Brasília) desta quinta-feira (5) — três meses após sua companheira de lançamento ter feito história.
A Ispace não está muito preocupada com a perda de um “primeiro lugar” simbólico. Executivos da empresa afirmam que seguir um caminho mais lento e constante até a Lua pode trazer vantagens a longo prazo.
“O que é bom nessa trajetória de quatro ou cinco meses é que, todos os dias, acontecem pequenas coisas, algo que não esperávamos”, disse Jumpei Nozaki, diretor financeiro da Ispace, à CNN em janeiro. “Esta jornada até a Lua é realmente uma fase de aprendizado.”
Três equipes de funcionários da Ispace têm se revezado na sala de controle da missão, em Tóquio, acumulando meses de prática supervisionando a física imprevisível e ousada das viagens espaciais profundas — uma oportunidade rara, segundo o fundador e CEO da empresa, Takeshi Hakamada, também em entrevista à CNN.
No entanto, essa abordagem gradual até a Lua não garante o sucesso do pouso. A primeira tentativa da Ispace de pousar uma espaçonave na superfície lunar terminou com uma queda em abril de 2023, após uma jornada de quatro meses e meio desde a Terra.
No fim das contas, a longa trajetória da Resilience oferece à Ispace tanto vantagens quanto desvantagens.
Chegar à Lua em meses, semanas ou dias
A Resilience está seguindo um caminho até a Lua conhecido como transferência de baixa energia. É, essencialmente, uma rota lenta e suave — como ir à casa de um amigo de bicicleta, aproveitando as descidas, usando pouca energia ou combustível.
Nesse trajeto, a espaçonave percorre centenas de milhares de quilômetros, voando para o espaço profundo e aguardando que a gravidade da Lua a capture naturalmente em órbita lunar.
Em contraste, outras espaçonaves como a Blue Ghost da Firefly Aerospace e a Nova-C, desenvolvida pela empresa texana Intuitive Machines, usaram motores potentes para seguir um caminho muito mais direto. A mais recente Nova-C, por exemplo, chegou à Lua cerca de uma semana após o lançamento.
Comparada aos módulos lunares desenvolvidos pelos concorrentes da Ispace, a Resilience é mais leve e relativamente barata, com um motor de foguete menor.
Todo o tempo que essa espaçonave passa em órbita permite que os operadores da missão “verifiquem muitos tipos de sistemas durante essa longa jornada”, como sensores, navegação e softwares da espaçonave, segundo Nozaki.
Mas há desvantagens também.
E Nozaki afirmou que, independentemente do resultado da missão da Resilience, a Ispace vai abandonar a abordagem de transferência de baixa energia em sua terceira missão.
O próximo módulo lunar da empresa, chamado Apex 1.0, será lançado em parceria com a empresa Draper, sediada em Massachusetts, dentro do programa CLPS da Nasa, vinculado ao programa Artemis. O objetivo será adotar uma rota mais direta até a Lua.
Chegar ao satélite rapidamente também “é muito importante para nossos clientes”, disse Nozaki. Esses clientes incluem grupos de pesquisa, empresas e governos que pagam à Ispace para transportar cargas, como instrumentos científicos, a bordo dos módulos lunares.
Passar meses em trânsito pode causar desgaste adicional nos instrumentos, pois ficam expostos à intensa radiação e às oscilações extremas de temperatura do espaço antes mesmo de começarem a operar na superfície lunar, segundo a Ispace.
O que vem a seguir para o módulo Resilience da Ispace
Apesar disso, a empresa está otimista de que um conjunto de três instrumentos científicos atualmente a bordo da Resilience realizará testes promissores após o pouso na Lua, previsto para esta quinta-feira.
A espaçonave carrega um módulo projetado para testar a produção de alimentos à base de algas, um monitor de radiação espacial profunda e um experimento de eletrólise da água — um dispositivo que visa gerar hidrogênio e oxigênio no ambiente lunar.
O primeiro módulo lunar da Ispace estava descendo em direção à cratera Atlas, uma formação no lado nordeste da face visível da Lua, quando caiu em abril de 2023. Desta vez, a empresa pretende pousar em um local diferente: uma planície de 1.200 quilômetros chamada Mare Frigoris — ou “Mar do Frio” — localizada nas regiões mais ao norte da Lua.
A localização é significativamente mais plana do que a região da cratera Atlas, oferecendo um terreno possivelmente mais fácil de navegar. A Ispace declarou em nota que o novo local de pouso foi escolhido por oferecer “flexibilidade”.
A empresa irá transmitir a tentativa de pouso ao vivo nesta quinta-feira pelo YouTube e pela plataforma X.
Se a Resilience pousar em pé, a Ispace se tornará a primeira empresa comercial fora dos Estados Unidos a conseguir tal feito. A empresa também se juntará à Firefly, cuja Blue Ghost realizou um pouso perfeito em março, tornando-se as únicas duas empresas a completar com sucesso o pouso de um módulo lunar robótico.
A Intuitive Machines já pousou duas espaçonaves na Lua, ambas na região do polo sul do satélite. No entanto, cada uma delas aterrissou de lado, o que limitou as atividades científicas e experimentais que a empresa poderia realizar.
Tanto a Firefly Aerospace quanto a Intuitive Machines são contratadas da iniciativa Commercial Lunar Payload Services (CLPS) da Nasa, que integra o programa Artemis — plano da agência espacial norte-americana para levar humanos de volta à Lua pela primeira vez em mais de 50 anos. As missões robóticas do CLPS servem como precursoras científicas, preparando o caminho para o retorno dos astronautas.
Veja também: “Lua de sangue” é observada em todo o Brasil
Lua é incluída pela 1ª vez em lista de patrimônios mundiais em risco