A reforma tributária é apontada como a única mudança estrutural significativa implementada pelo governo Lula até o momento, segundo Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do grupo Eurasia. Em análise sobre o cenário político brasileiro, Garman destaca os desafios enfrentados pela atual administração para aprovar legislações consideradas “dolorosas” para a classe política.
O analista ressalta que o Brasil enfrenta uma situação de alta polarização, onde cada lado do espectro político enxerga o outro como uma ameaça à democracia. Esse cenário, segundo Garman, tem influenciado diretamente as decisões do governo Lula, especialmente no que diz respeito às políticas econômicas e fiscais.
Inversão da lógica econômica tradicional
Garman explica que, tradicionalmente, governos tendem a implementar reformas difíceis no início do mandato, arcando com custos econômicos para, posteriormente, colher os benefícios. No entanto, o governo Lula optou por uma abordagem diferente por causa do 8 de janeiro.
“Em vez de você apertar o cinto primeiro para poder gastar lá na frente, o pensamento dentro do governo foi de diminuir os risco de a economia entrar num desaquecimento com aperto fiscal, o que na visão de integrantes do governo, poderia abrir as portas para o que eles consideram uma ameaça bolsonarista”, afirma o analista.
Essa estratégia resultou em um aumento de gastos no primeiro ano de governo, por meio da PEC da Transição, com a expectativa de reduzir o ritmo de gastos nos anos seguintes. Garman ressalta que essa abordagem torna ainda mais desafiador o manejo das contas públicas.
Apesar das dificuldades, Garman reconhece a aprovação da reforma tributária como um ponto positivo da atual administração. “A única reforma estruturante que foi feita nesse governo está na reforma tributária. E vinha de 40 anos”, destaca o analista.
No entanto, ele pondera que essa reforma não representava um ajuste doloroso para a classe política, diferentemente de outras mudanças fiscais necessárias que o governo ainda não abordou. Garman conclui que, embora a reforma tributária seja um ganho de médio prazo, o governo ainda precisa enfrentar reformas fiscais mais difíceis e impactantes.