O papilomavírus humano (HPV) é uma realidade para grande parte da população sexualmente ativa. Estima-se que cerca de 80% das pessoas entrarão em contato com o vírus em algum momento da vida, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda assim, falar sobre o assunto — especialmente entre mulheres adultas — continua cercado de silêncio e desinformação.
Vacinação em adultos: por que ainda é controversa?
A vacina contra o HPV foi inicialmente desenvolvida para adolescentes, antes do início da vida sexual, porque a proteção é mais eficaz quando administrada antes da exposição ao vírus. No entanto, mulheres adultas — inclusive aquelas que já iniciaram a vida sexual — também podem se beneficiar da vacina.
A controvérsia reside no fato de que a vacina não trata infecções já existentes, nem elimina o vírus do organismo. Ela é preventiva, não curativa. Ainda assim, pode proteger contra outros tipos de HPV aos quais a pessoa ainda não foi exposta, especialmente os tipos oncogênicos, responsáveis por tumores como o câncer de colo do útero, e os tipos que causam verrugas genitais.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomendam que a vacinação seja discutida individualmente com o médico, especialmente para mulheres até 45 anos. Em muitos casos, vacinar-se na vida adulta é uma estratégia válida para ampliar a proteção.
Mitos e verdades sobre transmissão em relacionamentos estáveis
Outro fator que alimenta o tabu é o impacto do diagnóstico de HPV em casamentos ou relações estáveis. Mitos como “o vírus é sempre sinal de infidelidade” ou “se apareceu agora, é porque houve traição” são comuns — e incorretos.
O HPV pode permanecer dormente no organismo por anos antes de se manifestar. Isso significa que uma infecção adquirida no início da vida sexual pode permanecer silenciosa e só ser detectada muito tempo depois, inclusive em exames de rotina como o papanicolau.
Além disso, o sistema imunológico de cada pessoa responde de maneira diferente ao vírus. Em muitos casos, o próprio corpo elimina o HPV sem a pessoa sequer perceber que foi infectada. Por isso, o diagnóstico não deve ser encarado como uma acusação, e sim como um sinal de que é preciso cuidado e acompanhamento médico regular.
Como conversar abertamente com o parceiro sobre HPV
Falar sobre infecções sexualmente transmissíveis dentro de um relacionamento exige sensibilidade, mas é essencial para o bem-estar e a confiança do casal. Algumas dicas podem ajudar:
- escolha um momento tranquilo e privado para iniciar a conversa
- evite acusações ou suposições sobre o passado. Foque na saúde e na necessidade de cuidado mútuo
- informe-se antes: entender o que é o HPV, suas formas de transmissão e prevenção ajuda a esclarecer dúvidas e reduzir o medo
- proponha que ambos consultem um médico juntos, se possível. A vacinação e os exames preventivos são decisões que podem ser tomadas em conjunto
Desmistificar o HPV é um passo importante para cuidar da saúde íntima sem culpa ou vergonha. O conhecimento, a empatia e o diálogo são as melhores ferramentas para quebrar o tabu — e construir relações mais saudáveis e maduras.
*Texto escrito pela ginecologista Ana Horovitz (CRM 111739), membro da Brazil Health