Lina Pereira encara recomeços e fala sobre reconstrução e vulnerabilidade
Lina Pereira é muito mais do que Linn da Quebrada. Multitalentosa, atriz, cantora e ativista, aos 34 anos ela vive uma das fases mais profundas de sua trajetória. Capa da edição de junho da revista Glamour, a artista revisita seu passado, fala sobre saúde mental, vício em substâncias e o reencontro com sua essência após o “Big Brother Brasil 22”.
Ela entrou no programa em 2022 como Linn da Quebrada, mas quem o público conheceu de verdade foi a Lina por trás da persona: humana, frágil, corajosa. “O Big Brother me deu o privilégio de entrar em contato com a minha vulnerabilidade”, afirmou.

O reality como ponto de virada
No papo com a Glamour, Lina revelou que o reality show representou mais do que visibilidade. Foi, segundo ela, o primeiro passo em direção à sobriedade.
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“Confesso que o BBB foi o meu primeiro rehab, de certa forma. Foi o meu primeiro momento de ficar mais distante das substâncias”, contou.
Mas essa história vem de longe. A artista relembrou duas internações que marcaram sua luta contra a dependência química. A primeira foi em uma comunidade terapêutica em Itu, interior de São Paulo. “Fiquei três meses, e estava muito relacionada à depressão e ao uso de substâncias”, disse. Após a alta, ela passou por um período de recuperação e recaída, que a levou de volta à clínica. “Hoje, olhando para trás, vejo o quanto esse processo foi necessário.”

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Infância marcada por ausências
Lina cresceu em Votuporanga, interior paulista. Uma infância dura, atravessada por abandono e carência afetiva. “Eu e minha mãe fomos abandonadas pelo meu pai”, contou. Criada por uma tia, aprendeu o significado do amor, mas também conviveu com a sensação de não pertencer completamente.
Ela viveu entre casas, afetos quebrados e expectativas frustradas. “Na minha família, as mulheres eram sempre mulheres de alguém. E minha mãe parecia ter falhado nesse lugar.” As marcas emocionais desse passado se tornaram matéria-prima para suas criações.
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Religião, sexualidade e exclusão
Ainda na infância, a tia que a criou apresentou Lina à religião. Como Testemunha de Jeová, ela passou a viver sob dogmas e culpas. Foi ali que surgiram os primeiros conflitos com a sexualidade. “Tenho a memória da masturbação como um ato doloroso. Me lembro de chorar, com as mãos ainda cheias de sêmen, e pedir perdão por aquilo.”
O momento decisivo veio aos 17 anos, quando se montou pela primeira vez. Alguns membros da congregação a viram vestida de mulher e a confrontaram.
“Eles anunciaram que, a partir daquele momento, o irmão Lino Pereira Júnior estava sendo expulso da congregação.” Foi doloroso, mas libertador. “Foi quando tomei o meu corpo para mim.”
A arte como cura
No teatro, encontrou abrigo e potência. “Eu tinha a sensação de que ganhava poderes especiais.” A arte a ensinou a habitar o próprio corpo, criar narrativas e assumir protagonismo. Linn da Quebrada nasceu da necessidade de enfrentar o mundo com coragem, sem abrir mão da sensibilidade. “Eu inventei essa persona para combater isso, para criar um lugar onde o meu corpo pudesse habitar com força.”
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BBB e exposição emocional
A participação no “Big Brother Brasil” foi um divisor de águas. “Por mais que eu entre como Linn da Quebrada, no camarote, eu entro com a perspectiva de querer que as pessoas conheçam a Lina Pereira”, refletiu. E foi exatamente isso que aconteceu. A exposição mostrou uma mulher em reconstrução. “Quando saí do programa, e vi o quão frágil eu estava, fiquei até com um pouco de raiva de mim, porque queria ter sido um pouco mais Linn da Quebrada lá dentro. Mas não consegui.”
Apesar disso, a travessia valeu a pena. “Ser humanizada enquanto uma travesti é algo muito valioso”, afirmou.
No cinema, um novo respiro
Atuar reacendeu sua paixão pela arte. No filme “Vitória”, dividiu cena com Fernanda Montenegro e viveu uma das experiências mais marcantes da carreira. “Me ver na tela foi emocionante. Eu estava precisando ser acalentada, olhar e dizer: ‘Poxa, eu sou uma artista’.”
A personagem, inspirada na história real de uma mulher forte, também a inspirou. “Tem cenas que me pegam, como quando a Bibiana convida a Vitória para dançar. Existe uma política da sensibilidade ali muito especial, que me dá ainda mais sede de atuar novamente.”
recomeçar é um ato de coragem
Hoje, Lina está em paz com suas múltiplas versões. Carrega marcas, dores e conquistas — e transforma tudo em arte e afeto. Ao revisitar o passado, ela reescreve o presente com mais maturidade, serenidade e autonomia. “Eu escolhi me ser. Escolhi não fazer parte de um ecossistema.”
Essa nova fase de Lina Pereira não é um apagamento de Linn da Quebrada, mas uma evolução. Uma mulher que decidiu se amar com mais verdade — e habitar o vazio com coragem.
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Fonte: OFuxico