Quando o técnico Carlo Ancelotti foi apresentado na última semana como novo treinador da Seleção Brasileira, a CBF aproveitou a oportunidade para apresentar também a comissão técnica do italiano.
Basicamente, Ancelotti trouxe ao Brasil grande parte dos profissionais que estiveram com ele neste último ciclo no Real Madrid. Mas um dos nomes anunciados para o cargo de auxiliar soou como novidade: Paul Clement.
Formado em Educação Física, o inglês de 53 anos já havia trabalhado como assistente de Carlo Ancelotti no Chelsea, no Paris Saint-Germain, no Real Madrid e no Bayern de Munique, onde formaram parceria pela última vez, em 2016.
Desde então, Clement assumiu equipes como técnico principal e também somou novas experiências como assistente (de Frank Lampard no Everton). Agora, nove anos depois, volta a integrar a comissão técnica de Ancelotti, que inicia seu trabalho à frente da Seleção Brasileira.
Ancelotti conheceu Clement no sub-16 do Chelsea
Ancelotti chegou em 2009 ao Chelsea para o seu primeiro desafio fora da Itália. Além dos profissionais que levou consigo do Milan, ganhou a colaboração de Ray Wilkins, auxiliar fixo do clube inglês e que, como jogador, havia atuado no futebol italiano na década de 1980 — os dois, inclusive, chegaram a se enfrentar no Calcio.
Wilkins se transformou em um elo importante entre Ancelotti e o elenco do Chelsea. Mas o técnico sentia que precisava de mais um assistente e convidou Paul Clement, então treinador do sub-16, para um período de experiência.
“Conversei com o diretor esportivo, Frank Arnesen, e concordamos em chamar Paul [Clement], que trabalhava com os juniores, para ficar, a princípio, quinze dias para ver como se sairia. Quando esse período terminou, Paul me procurou e disse: ‘Devo voltar para o time júnior?’. Respondi: ‘Não, não, não. Você fica comigo’. Paul passou a fazer parte de minha família futebolística e me acompanhou em Paris e em Madri”, disse Ancelotti em seu livro “Liderança Tranquila”.
Técnico repreendeu atleta que desrespeitou o auxiliar
Ainda que seja o responsável por tomar as decisões e comunicá-las ao elenco, Carlo Ancelotti não tem um perfil centralizador. Em seus trabalhos, o italiano costuma dar muita autonomia aos seus assistentes e deixa isso claro para os jogadores.
Contudo, essa relação entre auxiliares e atletas pode gerar conflitos, como aconteceu no Chelsea em um episódio envolvendo o lateral-direito português José Bosingwa.
“Na véspera de um jogo a ser disputado fora de casa, Carlo queria realizar um breve trabalho tático. A equipe que começaria a partida já havia sido divulgada, e organizáramos um coletivo entre titulares e reservas. José Bosingwa estava atuando como lateral direito para o time reserva”, conta Paul Clement em “Liderança Tranquila”.
O lateral português não estava trabalhando direito, deixando evidente seu descontentamento. Na prática, ele tinha desistido do treino. Eu o alertei acerca da importância de ser profissional, dizendo: “Temos um jogo amanhã para o qual todos têm de estar preparados, não importando se vão começar jogando ou não”, e ele me respondeu de maneira bastante veemente e desrespeitosa. Continuei me dirigindo a ele e no final algumas pessoas precisaram intervir, entre elas Didier Drogba e Carlo, não para evitar um confronto físico, mas certamente uma agressão verbal
Paul Clement em ‘Liderança Tranquila’
Na mesma noite do treino, véspera da partida, Ancelotti reuniu todo o grupo de jogadores no hotel onde a equipe estava hospedada e falou que esse tipo de incidente com qualquer um de seus assistentes era inaceitável.
“Carlo afirmou que não iria permitir que algo assim voltasse a acontecer e deixou isso claro na frente de todos para que Bosingwa soubesse”, completou Clement.

Importante para Gareth Bale no Real Madrid
Após a passagem pelo Chelsea e uma experiência difícil no Paris Saint-Germain, apesar da conquista do título da Ligue 1, Carlo Ancelotti e Paul Clement seguiram juntos para o Real Madrid.
Logo em sua primeira temporada sob o comando do italiano, o time espanhol conquistou a tão sonhada décima Champions League, em 2014.
De acordo com Ancelotti, seu auxiliar foi fundamental no trato com os atletas, especialmente com o galês Gareth Bale, um dos grandes nomes do Real no título europeu.
“No Real Madrid, Paul Clement foi importante para Gareth Bale, auxiliando-o em seu processo de adaptação ao clube, tanto linguístico quanto cultural, e
ele frequentemente conseguia explicar-lhe as coisas melhor do que eu”, disse o treinador.

Experiências como técnico principal e retorno à comissão de Ancelotti
Em 2016, Paul Clement acompanhou Carlo Ancelotti no Bayern de Munique. A experiência do inglês na Alemanha, porém, foi curta.
Clement recebeu uma proposta para ser técnico principal do Swansea City, que na época disputava a Premier League. Sob seu comando, a equipe, que se encontrava na zona de rebaixamento quando ele assumiu, conseguiu evitar o descenso.
Na temporada seguinte, entretanto, Clement foi demitido. Sua carreira seguiu com trabalhos no Reading, da segunda divisão da Inglaterra, e no Cercle Brugge, da Bélgica, antes de aceitar o convite de Frank Lampard para integrar sua comissão no Everton.
Com a demissão de Lampard em janeiro de 2023, Paul Clement também deixou o clube.
O trabalho com a Seleção Brasileira marca o retorno do britânico ao futebol profissional e também às comissões técnicas de Carlo Ancelotti. Uma parceria que funcionou no passado e que agora, no Brasil, busca repetir o sucesso que alcançaram em alguns dos principais clubes do mundo.