Pelo menos dois corpos de cidadãos britânicos foram repatriados de forma incorreta após o acidente de avião envolvendo o voo AI 171 da Air India, no mês passado, segundo advogados que representam familiares das vítimas. O caso envolve o acidente mais mortal da aviação em uma década.
O advogado James Healy-Pratt, especialista em aviação internacional, afirmou à agência de notícias britânica PA media que houve erros na identificação dos corpos, e restos mortais trocados foram enviados para o Reino Unido.
Em um dos casos, um legista em Londres constatou que o DNA de diferentes vítimas havia sido misturado em um único caixão. As alegações levantam dúvidas sobre os procedimentos adotados pelas autoridades indianas durante a identificação e repatriação dos corpos.
A Dra. Fiona Shaw “detectou anomalias no DNA” quando os corpos foram repatriados pela primeira vez, disse Healy-Pratt.
“Meu entendimento era de que a mistura estava bem no início, o que alertou a Dra. Wilcox para o fato de que ela precisava ser 100% assídua na verificação da identificação dos restos mortais que chegavam”, acrescentou o advogado.
“Ela então conseguiu determinar que um ente querido em particular não era quem a família pensava”, acrescentou.
Todos, exceto um, dos 242 passageiros e tripulantes morreram em 12 de junho, depois que o avião perdeu força e caiu em um bairro povoado em Ahmedabad, oeste da Índia.
A aeronave com destino a Londres mal havia deixado a pista do Aeroporto Internacional Sardar Vallabhbhai Patel quando perdeu o controle e caiu no alojamento do BJ Medical College and Hospital – matando também 19 pessoas no solo.
As autoridades ainda não divulgaram a causa definitiva do acidente, mas um relatório preliminar sugeriu que os interruptores de controle de combustível na cabine do Boeing 787 Dreamliner foram acionados, privando os motores de potência.
Em uma gravação de áudio da caixa-preta, ouve-se um dos pilotos perguntando ao outro por que ele acionou os interruptores, segundo a avaliação do Departamento de Investigação de Acidentes de Aeronaves da Índia, publicada na semana passada. O outro piloto responde que não.
Momentos depois, os interruptores foram acionados para religar o suprimento de combustível. Ambos os motores foram religados e um começou a “progredir para a recuperação”, mas era tarde demais para interromper a descida tumultuada do avião.
Das vítimas a bordo, pelo menos 169 eram cidadãos indianos, sete eram portugueses e um era canadense. O único sobrevivente foi Vishwash Kumar Ramesh, um dos 53 passageiros do Reino Unido naquele dia, que relatou à mídia local ter escapado agarrando-se a um pequeno espaço perto da porta, ao lado de seu assento.
“Profundamente perturbados”
Os familiares de três vítimas disseram estar “profundamente perturbados” com a notícia desta quarta-feira (23), pedindo às autoridades que tenham “cuidado, coordenação e respeito”.
“Os desenvolvimentos recentes apenas confirmaram o que muitos temiam: que erros graves podem ter sido cometidos e que a dignidade e os direitos das vítimas e de suas famílias não foram salvaguardados como deveriam”, disseram em um comunicado.
Os parentes de Akeel Nanabawa, sua esposa Hannaa Vorajee e sua filha de quatro anos, Sara Nanabawa, acrescentaram que, embora estejam “confiantes” de terem recebido os “corpos corretos”, ainda estão “profundamente preocupados com o que isso significa para outras famílias que ainda buscam certeza e um desfecho”.
“Esta não é apenas uma tragédia pessoal; é uma tragédia coletiva”, afirmaram os familiares.
O ministério das Relações Exteriores da Índia vem “trabalhando em estreita colaboração com o Reino Unido desde o momento em que essas preocupações e questões” foram levantadas, de acordo com um porta-voz.
As autoridades realizaram a identificação das vítimas usando “protocolos e requisitos técnicos estabelecidos”, disse o porta-voz Randhir Jaiswal, em uma publicação no X na quarta-feira.
“Todos os restos mortais foram tratados com o máximo profissionalismo e com o devido respeito à dignidade do falecido”, acrescentou Jaiswal.
“Continuamos trabalhando com as autoridades do Reino Unido para abordar quaisquer preocupações relacionadas a esta questão”, completou.
O caso ocorreu na sequência de uma reunião em Londres entre o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o britânico, Keir Starmer, durante a assinatura de um acordo histórico de livre comércio entre os dois países.
Healy-Pratt, que exige “justiça financeira” para as famílias, disse acreditar que as alegações estarão na pauta das negociações desta semana.