O governo brasileiro comunicou, nesta quarta-feira (16/7), que já enviou uma carta à Casa Branca cobrando respostas para avançar nas negociações com os norte-americanos no âmbito da imposição de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras.
A carta, enviada nessa terça-feira (15/7), foi assinada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. O texto é endereçado ao secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer.
A mensagem é dividida em cinco termos. Em um deles, o governo brasileiro manifesta “indignação” com o anúncio das tarifas unilaterais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países”, destacaram Alckmin e Vieira, reforçando a relação de 200 anos entre os dois países.
No dia anterior, Alckmin confirmou que o governo brasileiro enviou uma “minuta confidencial de proposta” aos EUA. Na nova carta, o governo brasileiro diz que apresentou possíveis áreas de negociação para explorar “soluções mutuamente acordadas”.
“Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o Governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira”, diz trecho do texto.
O governo federal reforçou que “permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral”.
Reuniões com setores
Mais cedo, Alckmin se reuniu com representantes do setor da indústria e das frentes sindicais para debater soluções sobre o tarifaço imposto por Donald Trump. Além de Alckmin e do ministro Márcio Macêdo, estavam presentes os presidentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Participaram da reunião, do lado do governo federal:
- Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do MDIC;
- Marcio Elias Rosa, secretário-executivo do MDIC;
- Pedro Guerra, chefe de gabinete;
- Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior;
- Uallace Moreira, secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços;
- Rodrigo Zerbone, secretário-Executivo da Câmara de Comércio Exterior;
- Márcio Macêdo, ministro da Secretária-Geral da Presidência;
- Kelli Cristine Mafort, secretária-executiva;
- Flavio Camargo Schuch, assessor especial;
- Olavo Noleto, secretário-executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável;
- Embaixador Maurício Carvalho Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente;
- Embaixador Fernando Meirelles de Azevedo Pimentel, diretor do Departamento de Política Comercial do Ministério das Relações Exteriores;
- Embaixador Philip Fox-Drummond Gough, diretor do Departamento de Política Econômica, Financeira e de Serviços;
- Joao Brant, secretário de Políticas Digitais da Secom; e
- Embaixador Celso de Tarso, chefe da Assessoria Especial Diplomática.
Do lado dos setores, estavam presentes:
- Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI);
- André Passos, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim);
- Igor Calvet, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea);
- Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC);
- Sérgio Nobre, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT);
- Marcelo Carvalho, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT);
- Moacyr Tesch, presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST);
- Flavio Werneck, vice-presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB);
- Sergio Luiz Leite, vice-presidente da Força Sindical;
- Tânia Zanella, superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB);
- Renato Cunha, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de Pernambuco (Sindaçúcar/PE);
- José Hélio Fernandes, vice-presidente para Assuntos Políticos da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logísticas (NTC&Logística);
- Tatiana Farah, superintendente de Relações Internacionais em Exercício (CNI);
- Marcelo Almeida, diretor de Relações Governamentais da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES);
- Mário Sérgio Carraro Telles, diretor adjunto de Desenvolvimento Industrial, Tecnologia e Inovação (CNI);
- Ernesto Pereira, diretor parlamentar da CSB;
- Flauzino Antunes Neto, diretor nacional da CTB; e
- Armando José Giacomet, sócio fundador da BrasPine.
Há previsão de mais duas reuniões com representantes da indústria no período da tarde. Entre eles, o presidente da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil), Abrão Neto. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participa dessa última.
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Durante essa terça-feira, a cúpula do Planalto se reuniu com representantes dos setores da indústria e do agronegócio para buscar soluções ao tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump contra as exportações brasileiras.
Ao fim da roda de conversas, ficou decidido que a ideia não é pedir que o prazo seja estendido, mas procurar reverter a sanção comercial até 31 de julho. Para isso, Alckmin conta com a ajuda dos setores na interlocução com os parceiros nos EUA.
Brasil é principal alvo do tarifaço
Desde o início da semana passada, os EUA têm notificado oficialmente os países sobre a implementação de tarifas unilaterais na importação de produtos e bens. Até o momento, 24 países e a União Europeia foram taxados.
O Brasil foi o maior prejudicado pela sanção comercial de Trump, com uma tarifa de 50%. Em resposta, o governo brasileiro defendeu a soberania nacional e se mostrou aberto para negociar com os norte-americanos.
Lei de Reciprocidade Econômica
- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou o decreto que regulamenta a Lei de Reciprocidade Econômica.
- O texto estabelece critérios para suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual, em resposta a medidas unilaterais adotadas por países ou blocos econômicos que impactem o Brasil.
- O decreto também formaliza a criação do Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, responsável por deliberar sobre a aplicação de contramedidas provisórias e acompanhar as negociações sobre as medidas unilaterais impostas contra o país.
- Integram o comitê os ministros do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que o presidirá; da Casa Civil da Presidência; da Fazenda; e das Relações Exteriores.
Com o tarifaço, diversos setores produtivos podem ser afetados, com destaque para agricultura e indústria de produção. De acordo com dados oficiais, cerca de 12% das exportações brasileiras têm como destino o mercado norte-americano.
Entre os principais produtos exportados para os EUA estão: óleos brutos de petróleo, ferro, aço, celulose, café, suco de laranja, carne bovina, aeronaves e máquinas para o setor de energia.
Caso os países não cheguem a um acordo até 1º de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não descartou a possibilidade de aplicar o princípio da reciprocidade, previsto na Lei de Reciprocidade Econômica.
Confira a lista dos afetados pelo tarifaço:
- Brasil: 50%
- Laos: 40%
- Myanmar: 40%
- Camboja: 36%
- Tailândia: 36%
- Bangladesh: 35%
- Canadá: 35%
- Sérvia: 35%
- Indonésia: 32%
- África do Sul: 30%
- Argélia: 30%
- Bósnia e Herzegovina: 30%
- Iraque: 30%
- Líbia: 30%
- México: 30%
- União Europeia: 30%
- Sri Lanka: 30%
- Brunei: 25%
- Cazaquistão: 25%
- Coreia do Sul: 25%
- Japão: 25%
- Malásia: 25%
- Moldávia: 25%
- Tunísia: 25%
- Filipinas: 20%
*Todas as tarifas entram em vigor a partir de 1º de agosto.
Leia a carta de Alckmin na íntegra:
“No contexto do anúncio por parte do Governo norte-americano da imposição de tarifas contra exportações de produtos brasileiros para os EUA, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, enviaram ontem, dia 15 de julho, carta ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, nos seguintes termos:
1. O Governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto. A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países. Nos dois séculos de relacionamento bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos, o comércio provou ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas.
2 . Desde antes do anúncio das tarifas recíprocas em 2 de abril de 2025, e de maneira contínua desde então, o Brasil tem dialogado de boa-fé com as autoridades norte-americanas em busca de alternativas para aprimorar o comércio bilateral, apesar de o Brasil acumular com os Estados Unidos grandes déficits comerciais tanto em bens quanto em serviços, que montam, nos últimos 15 anos, a quase US$ 410 bilhões, segundo dados do governo dos Estados Unidos. Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de preocupação para o governo norte-americano.
3. Com esse mesmo espírito, o Governo brasileiro apresentou, em 16 de maio de 2025, minuta confidencial de proposta contendo áreas de negociação nas quais poderíamos explorar mais a fundo soluções mutuamente acordadas.
4. O Governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos EUA à sua proposta.
5. Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o Governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira. O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral.”
Fonte: Metrópoles