No novo bloco de episódios de “Guerreiros do Sol”, série original do Globoplay, Alinne Moraes destaca sua força e precisão dramática ao interpretar Jânia. A personagem, uma feminista que desafia as estruturas patriarcais do sertão nordestino dos anos 1920.
A atuação da atriz, longe das novelas desde “Um Lugar ao Sol” (2021), marca o retorno de uma presença que, sem dúvida, o público sentia falta. À reportagem de OFuxico, a atriz ressaltou que optou por tirar um empo para focar na criação do filho, Pedro, de 10 anos.
‘A cada dia estou mais realista’, diz Alinne Moraes
Jânia surge como uma personagem densa, com camadas que vão além do estereótipo de mulher à frente de seu tempo. Ao longo dos capítulos, o crescimento narrativo da personagem exige da intérprete um domínio que Alinne entrega com maturidade e intensidade.
Desde as cenas de maior enfrentamento político até os momentos de intimidade afetiva, a atriz conduz cada sequência com equilíbrio e expressividade.
A ausência de Alinne na televisão aberta não diminuiu em nada sua potência. Pelo contrário, o distanciamento talvez tenha fortalecido ainda mais seu foco.
Ao se deparar com uma personagem que desafia os costumes, ela respondeu com entrega e sensibilidade. A internet logo reagiu. Comentários que celebram sua performance se multiplicam nas redes sociais, especialmente após o episódio em que Jânia sofre um atentado.
Feminismo, opressão e resistência na trajetória de Jânia
Ao encarnar uma jovem nascida em uma família rica e tradicional, mas com sede por conhecimento e liberdade, Alinne explora com precisão o embate entre opressão social e desejo de autonomia.
‘Guerreiros do Sol’ tem cenários reais no sertão nordestino
Jânia não apenas contesta as regras que a cercam, como as enfrenta publicamente. Sua luta pelo direito ao voto das mulheres e sua recusa a se submeter a um casamento sufocante a colocam na linha de frente das transformações sociais da trama.
A personagem passa a ser alvo de ameaças depois de se posicionar com firmeza. A tensão atinge o ápice quando ela sofre um atentado em plena luz do dia. O momento, que exigia uma atuação convincente, torna-se um dos mais impactantes do bloco de episódios liberado. O olhar de Alinne, a dor silenciosa, o corpo tombado, tudo ecoa com veracidade.
Além disso, a atriz também domina as cenas mais sutis, aquelas em que Jânia tenta conciliar razão e emoção. A dualidade entre a mulher intelectualizada e a jovem vulnerável que ainda deseja amar e ser livre é apresentada com um domínio raro, que ressalta o talento de uma intérprete com trajetória consolidada.
Relação com Otília rompe convenções e comove a audiência
O romance entre Jânia e Otília (Alice Carvalho) acende ainda mais o brilho da atuação de Alinne. A relação das duas evolui de maneira orgânica. Primeiro, com trocas de olhares. Depois, com aproximações carregadas de tensão e carinho. O envolvimento entre elas representa um respiro dentro de uma narrativa marcada por opressão e violência.
Quando, enfim, Otília e Jânia compartilham a primeira noite de amor, a entrega das atrizes transforma a cena em um acontecimento. Não há excessos. Não há concessões ao apelo fácil. O que se vê é cumplicidade, desejo e humanidade. A atuação de Alinne se alinha perfeitamente à de Alice Carvalho, criando um equilíbrio que potencializa o impacto da sequência.
A resposta do público veio rapidamente. Comentários emocionados tomaram conta das redes sociais, exaltando o cuidado, a delicadeza e o significado da cena. Alinne publicou: “Quanta belezura”. Já Alice destacou a importância de representar uma história que, nas palavras dela, “é chique demais de contar livremente pra tanta gente”. O momento se tornou um marco da série.
Atuação elogiada reforça ausência sentida na televisão
Desde seu último papel fixo em 2021, Alinne Moraes manteve um ritmo mais discreto em relação à exposição pública. A escolha de se afastar dos projetos mais convencionais da TV aberta não apagou seu prestígio, mas causou expectativa entre os fãs. Guerreiros do Sol, portanto, surge como a retomada de um protagonismo que nunca deixou de ser reivindicado.
A força com que a atriz retorna deixa claro o motivo pelo qual seu nome continua sendo respeitado no meio artístico. Ao mesmo tempo, evidencia a carência de personagens femininas complexas e bem desenvolvidas nas grandes produções. Alinne demonstra que, quando o material é bom, ela entrega ainda mais.
Sua Jânia não soa forçada. É uma mulher de carne e osso, com falhas, angústias e coragem. O contraste entre a rigidez do ambiente e a delicadeza da personagem revela o domínio técnico da intérprete, que compõe com inteligência e emoção.
Autores valorizam protagonismo feminino
A escolha de Alinne Moraes para o papel não se deu por acaso. Os autores George Moura e Sérgio Goldenberg disseram que buscavam dar espaço para vozes femininas dentro de um universo dominado pelo cangaço e pelo conservadorismo.
“Não é porque a série é sobre cangaço que não poderia ter um amor feminino”, declarou Moura.
Ao desenhar a trajetória de Jânia, os roteiristas se inspiraram livremente em Nísia Floresta, uma das primeiras intelectuais feministas do Brasil. Alinne deu vida a essa inspiração com a intensidade necessária. Ela traduziu o peso histórico e emocional de forma sutil, sem recorrer a exageros. O resultado é uma personagem que não apenas representa, mas também simboliza.
A atriz mostra, mais uma vez, que sabe se reinventar. Após tantas protagonistas em novelas tradicionais, Alinne aceitou o desafio de mergulhar em uma trama original, marcada por tons áridos e temas densos. O público, que já demonstrava saudade, agora celebra o retorno de uma das atrizes mais completas de sua geração.
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Fonte: OFuxico