Israel anunciou no domingo (27) que interromperá as operações militares por 10 horas diárias em partes da Faixa de Gaza e permitirá novos corredores de ajuda humanitária, enquanto Jordânia e Emirados Árabes Unidos lançaram suprimentos aéreos sobre o território palestino.
As imagens de fome e desnutrição em Gaza têm alarmado o mundo. Israel vem enfrentando críticas internacionais crescentes — rejeitadas pelo governo — devido à crise humanitária na Faixa. As negociações indiretas de cessar-fogo em Doha entre Israel e o grupo militante palestino Hamas foram interrompidas, sem acordo à vista.
Como funcionarão as pausas humanitárias em Gaza
De acordo com comunicado de Israel, três regiões dentro dos 40 quilômetros totais de extensão da Faixa de Gaza entrarão nas pausas humanitárias:
- Região de Al-Mawasi, localizada ao longo da costa de Gaza;
- Deir al-Balah, localizada no centro do território palestino, e
- Cidade de Gaza, localizada ao norte.
Nestes locais, a atividade militar ficará suspensa por um período de dez horas diários, das 10h às 20h, do horário local, até novo aviso.
O exército israelense informou, ainda, que rotas seguras designadas para comboios entrengando alimentos e medicamentos à população estarão disponíveis das 6h às 23h, no horário local, também a partir do domingo.
Retomada de ajuda humanitária em Gaza
Jordânia e Emirados Árabes Unidos lançaram 25 toneladas de ajuda na Faixa de Gaza no domingo, no primeiro lançamento aéreo em meses, segundo uma fonte oficial jordaniana.
A fonte afirmou que os lançamentos aéreos não substituem a entrega por terra.
Autoridades de saúde palestinas na Cidade de Gaza disseram que pelo menos 10 pessoas ficaram feridas pela queda das caixas de ajuda.
O chefe de ajuda humanitária da ONU, Tom Fletcher, disse que as equipes intensificarão os esforços para alimentar os famintos durante as pausas nas áreas designadas.
“Nossas equipes no local… farão tudo o que puderem para alcançar o maior número possível de pessoas famintas durante essa janela”, disse ele na rede X (antigo Twitter).
Welcome announcement of humanitarian pauses in Gaza to allow our aid through. In contact with our teams on the ground who will do all we can to reach as many starving people as we can in this window.
— Tom Fletcher (@UNReliefChief) July 27, 2025
Autoridades de saúde dos hospitais Al-Awda e Al-Aqsa, no centro da Faixa de Gaza, relataram que disparos israelenses mataram pelo menos 17 pessoas e feriram 50 que aguardavam caminhões de ajuda no domingo. O exército israelense não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Dezenas de habitantes de Gaza morreram de desnutrição nas últimas semanas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
O Ministério da Saúde relatou seis novas mortes nas últimas 24 horas devido à desnutrição, elevando o total de mortes por desnutrição e fome para 133 — incluindo 87 crianças.
No sábado, uma bebê de cinco meses, Zainab Abu Haleeb, morreu de desnutrição no Hospital Nasser, em Khan Younis, segundo profissionais de saúde.
“Três meses dentro do hospital e é isso que recebo em troca: ela está morta”, disse a mãe, Israa Abu Haleeb, ao lado do pai da bebê, que segurava o corpo da filha envolto em um lençol branco.
O Crescente Vermelho Egípcio informou que enviaria mais de 100 caminhões com mais de 1.200 toneladas de alimentos para o sul de Gaza neste domingo.
Uma fonte oficial palestina disse, na tarde de domingo, que os caminhões ainda estavam sendo inspecionados na passagem de Kerem Shalom e ainda não haviam entrado em Gaza.
Organizações de ajuda humanitária afirmaram na semana passada que há fome generalizada entre os 2,2 milhões de habitantes de Gaza, e a preocupação internacional com a situação humanitária tem aumentado — o que impulsionou a decisão do presidente francês Emmanuel Macron de reconhecer o Estado palestino em setembro.
Um grupo de 25 países, incluindo Reino Unido, França e Canadá, condenou na semana passada o “fornecimento lento e insuficiente de ajuda” e declarou inaceitável a recusa de Israel em permitir o acesso à ajuda humanitária essencial.
Israel, que bloqueou a entrada de ajuda em Gaza no início de março e reabriu com novas restrições em maio, afirma estar comprometido em permitir a entrada de ajuda, mas que precisa controlá-la para evitar que seja desviada por militantes.
O governo israelense afirma ter permitido comida suficiente durante a guerra e culpa o Hamas pelo sofrimento da população de Gaza.
Israel e os Estados Unidos aparentemente abandonaram as negociações de cessar-fogo com o Hamas na sexta-feira, alegando que o grupo militante não deseja um acordo.
Esperança e incerteza à população de Gaza
Muitos habitantes de Gaza expressaram certo alívio com o anúncio feito no domingo, mas afirmaram que o combate precisa acabar de forma permanente.
“As pessoas estão felizes que grandes quantidades de ajuda alimentar chegarão a Gaza”, disse Tamer Al-Burai, proprietário de um negócio local. “Esperamos que hoje marque o primeiro passo para encerrar esta guerra que destruiu tudo.”
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que Israel continuará permitindo a entrada de suprimentos humanitários, independentemente da via utilizada, e que está avançando tanto no combate quanto nas negociações.
“Continuaremos lutando, continuaremos agindo até alcançarmos todos os nossos objetivos de guerra — até a vitória completa”, afirmou.
O Hamas denunciou as medidas israelenses para permitir mais ajuda em Gaza, alegando que Israel está mantendo sua ofensiva militar.
“O que está acontecendo não é uma trégua humanitária”, disse o dirigente do Hamas, Ali Baraka, em comunicado no domingo.
O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, de ultra
direita, disse que a decisão sobre a ajuda foi tomada sem sua participação. Ele chamou a medida de rendição à “campanha enganosa” do Hamas e voltou a defender o corte total da ajuda a Gaza, a conquista do território e o incentivo à saída dos palestinos.
Um porta-voz de Netanyahu não respondeu imediatamente a uma pergunta sobre os comentários de Ben-Gvir.
A guerra começou em 7 de outubro de 2023, quando combatentes liderados pelo Hamas invadiram o sul de Israel, matando 1.200 pessoas — em sua maioria civis — e levando 251 reféns para Gaza, segundo dados israelenses.
Desde então, a ofensiva de Israel matou quase 60.000 pessoas em Gaza — em sua maioria civis — segundo autoridades de saúde do território, reduziu grande parte do enclave a ruínas e deslocou praticamente toda a população.