Da Playboy ao OnlyFans: a sexualização feminina na mídia mudou?

A forma como o corpo da mulher é retratado na mídia passou por transformações nas últimas décadas, mas o tema ainda gera debates sobre liberdade, poder e padrões. Nos anos 1980 e 1990, revistas como a Playboy ditavam os rumos da sensualidade feminina com capas estampadas por grandes nomes da indústria cultural, como Déborah Secco, Cláudia Ohana e Adriane Galisteu. Hoje, plataformas como o OnlyFans parecem oferecer mais autonomia às mulheres sobre a própria imagem. Mas será que essa mudança é tão profunda quanto parece?

Para a psicóloga e sexóloga Alessandra Araújo, há, sim, um novo cenário, mas ele ainda carrega velhas estruturas. “A principal diferença está na mediação do desejo. Enquanto a Playboy representava uma mulher produzida por e para o olhar masculino, geralmente branco, hétero e de classe média-alta, o OnlyFans permite que muitas mulheres assumam o protagonismo da própria narrativa sensual, com controle sobre o que mostram, como mostram e para quem”, afirma em entrevista ao Metrópoles.

Do ponto de vista psicológico, isso representa uma ampliação da mulher sobre o próprio corpo e sexualidade. Segundo a especialista, essa autonomia pode ser positiva, mas não é absoluta. “Não podemos ignorar que muitos padrões antigos ainda se reproduzem: corpos magros, jovens, dentro de um ideal estético ainda muito normativo e eurocentrado.”

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A psicóloga ressalta que a vitrine mudou, mas o que se vende, muitas vezes, segue os mesmos moldes de décadas atrás. Segundo ela, “há mais autonomia, sim, mas ela ainda opera dentro de estruturas culturais marcadas por velhas expectativas sobre o que é desejável, aceitável ou vendável”.

Quando a produção de conteúdo sensual parte das próprias mulheres, surge uma tensão entre empoderamento e mercado. Alessandra explica que existem pessoas que veem esse processo como um gesto de liberdade, mas também de descoberta do prazer em se exibir e de ganhar dinheiro com a imagem delas sem que precisem da validação de uma grande empresa.

“É uma forma de retomar o corpo como território de decisão”, enfatiza. Mas a especialista alerta que ainda vivemos em um sistema que lucra com a sexualização feminina.

“Mesmo com mais liberdade formal, é preciso refletir: essa escolha é genuinamente livre ou responde ao desejo do outro, à necessidade financeira ou à busca por validação social?”

5 imagensAnittaDeborah Secco Galisteu é apresentadoraClaudia OhanaFechar modal.1 de 5

MC Mirella

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Anitta

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Deborah Secco

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Galisteu é apresentadora

Instagram/Reprodução5 de 5

Claudia Ohana

Instagram/Reprodução

Segundo ela, a hiperssexualização feminina, especialmente na juventude, também provoca impactos importantes. Pode distorcer a autoimagem, gerar baixa autoestima, ansiedade em relação ao corpo, sensação de inadequação e erotização precoce, principalmente entre adolescentes e jovens.

Fenômeno das plataformas de conteúdo adulto

Ela aponta que plataformas de conteúdo adulto como o OnlyFans, que hoje são lideradas por nomes como MC Mirella e até a cantora Anitta, têm prós e contras. Por um lado, oferecem ferramentas para que a mulher ressignifique a própria sexualidade, mas, por outro, reforçam a ideia de que o valor da mulher cresce na medida em que ela se torna desejável.

Outro ponto essencial é reconhecer que nem todos os corpos recebem o mesmo tratamento ao se mostrarem.

“Mulheres brancas e de classe média/alta muitas vezes são vistas como sensuais, ousadas, empoderadas. Já mulheres negras, periféricas ou trans enfrentam hipersexualização racista, violência simbólica e moral, e um julgamento social muito mais severo”, afirma a psicóloga.

Para a pesquisadora e antropóloga Ana Lídia Sousa, que estuda gênero, imagem e tecnologias digitais, a internet ampliou o alcance da performance sensual, mas também sofisticou os mecanismos de vigilância e cobrança estética.

“Hoje, a mulher que decide mostrar o corpo on-line pode, sim, ser autora de sua narrativa, mas ela também está sob o olhar permanente de uma plateia exigente, muitas vezes cruel e moralista. O jogo parece mais livre, mas as regras continuam sendo impostas de fora para dentro“, afirma.

Ana Lídia também chama atenção para um paradoxo geracional: “As jovens cresceram ouvindo que têm o direito de decidir sobre seus corpos, o que é um avanço. Mas, ao mesmo tempo, são bombardeadas por expectativas irreais sobre beleza, desejo e sucesso. A exposição se torna quase uma exigência, e não uma escolha genuína”.

Para Ana, o debate não deve ser moralista, mas estrutural. “A pergunta central não é se é certo ou errado vender conteúdo sensual, mas por que esse tipo de visibilidade se tornou um dos caminhos mais acessíveis para mulheres obterem reconhecimento, renda e até afeto. Isso diz mais sobre o mundo do que sobre elas”, conclui.



Fonte: Metrópoles

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