“Entrei na puberdade aos 4 anos e na menopausa aos 16”, diz jovem

Desde muito pequena, Julia Micaelly Ribeiro Carvalho, hoje com 20 anos, sentia que havia algo de diferente em seu corpo. Nascida em Pedreiras, no interior do Maranhão, ela se lembra do desconforto que sentia ao notar os pelos e os seios já em desenvolvimento, enquanto as colegas da mesma idade ainda mantinham os traços típicos da infância.

“Eu fazia natação na escola e via que meu corpo não era igual ao das outras meninas. Elas não tinham pelos, tinham um corpinho infantil. Eu já tinha seios e isso me deixava muito envergonhada”, conta Julia em entrevista ao Metrópoles.

Com vergonha, ela evitava trocar de roupa junto com as outras alunas e se escondia no banheiro. A família demorou a procurar ajuda médica, até que, por sugestão da mãe de uma colega, a menina foi levada a uma endocrinopediatra, especialista em hormônios infantis.

A médica pediu uma série de exames, que mostraram que, aos 7 anos, Julia já tinha idade óssea de 12 e estava prestes a menstruar. Foi quando veio o diagnóstico de puberdade precoce.

O tratamento hormonal começou de forma intensa, com injeções frequentes até os 11 anos. “No começo eram três por mês. Depois foi diminuindo, mas ainda assim era doloroso. Até hoje passo mal só de ver uma agulha”, diz.

Julia também conta que viveu a infância com muita dúvida e tristeza. “Sentia que tinha algo errado comigo. O tratamento doía e eu não entendia por que tudo aquilo estava acontecendo”, relembra.

A menstruação veio aos 11 anos, trazendo confusão e revolta. “Minha mãe sempre dizia que o tratamento era pra eu não menstruar. Quando aconteceu, achei que tudo tinha sido em vão. Chorei muito, fiquei indignada. Meu pai tentava me acalmar, mas eu só chorava”, afirma a jovem.

Julia foi levada a uma endocrinopediatra. Os exames mostraram que a idade óssea dela era de 12 anos, embora tivesse apenas 7

Casos como o de Julia, em que a puberdade começa antes dos 9 anos, são considerados  raros e precisam ser interrompidos com tratamento para evitar problemas de saúde. A puberdade precoce aumenta o risco de alterações ósseas, baixa estatura, infertilidade e até uma menopausa precoce, segundo a ginecologista e obstetra Camilla Pinheiro, do Hospital Sírio-Libanês.

“Aos 4 anos, é completamente fora do padrão, e nesses casos o bloqueio da puberdade é necessário. Existem inúmeras causas e muitas possíveis consequências físicas e mentais. O cérebro da criança ainda não está preparado para passar por esse processo”, explica a médica.

Menopausa precoce

Aos 16 anos, Julia teve uma hemorragia inesperada. Até então, não sentia dores ou sintomas fora do comum. “Não tive nenhum sinal antes. Queria ter sentido algo, pra ter chance de investigar. Mas aconteceu de uma hora pra outra e tive que aceitar que minha vida tinha mudado”, desabafa.

O sangramento levou à descoberta de um cisto no ovário e à remoção dos dois ovários. Foi quando ouviu, pela primeira vez, que estava na menopausa. “Pra mim, menopausa era coisa de mulher com 50 anos. Quando me disseram, achei que era brincadeira. Depois que entendi, entrei em pânico. Achei que minha vida tinha acabado”, relata.

De acordo com a médica Camilla Pinheiro, a menopausa causada pela retirada dos ovários costuma ser mais intensa do que a que ocorre de forma natural, especialmente quando acontece em mulheres muito jovens. Isso porque a mudança hormonal é repentina e o corpo não tem tempo de se adaptar gradualmente.

“Tudo acontece de forma abrupta. O organismo não é preparado aos poucos, então os sintomas tendem a ser mais intensos. Há mais ondas de calor, irritabilidade, alterações de humor. É uma mudança que ocorre de um dia para o outro, sem transição”, explica a ginecologista.

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Julia começou a reposição hormonal, mas o processo foi longo e marcado por muita dor física e emocional. Nos primeiros meses, as crises de cólica eram tão intensas que ela chegava a gritar de dor.

As pernas ficavam dormentes, a pressão baixava, e os episódios de irritação extrema se alternavam com momentos de choro e tristeza profunda. Foi uma fase de desequilíbrio intenso, agravada pelos efeitos dos hormônios no organismo em adaptação. “Foi o pior período da minha vida”, resume.

Sintomas da menopausa

  • Irregularidades menstruais, hemorragias ou escassez no fluxo.
  • Ondas de calor ou fogachos, com episódios súbitos de sensação de calor no rosto, pescoço e na parte superior do tronco. Geralmente, vêm acompanhados de vermelhidão.
  • Dificuldade para esvaziar a bexiga, dor ao urinar e escape de urina.
  • Ressecamento vaginal, dor na penetração e diminuição da libido.
  • Aumento da irritabilidade, instabilidade emocional, choro descontrolado.
  • Depressão, ansiedade, melancolia, perda da memória.
  • Mudanças no ritmo de sono.
  • Alterações na vitalidade da pele, dos cabelos e das unhas, que ficam mais finos e quebradiços.
  • Alterações na distribuição da gordura corporal, que passa a se concentrar mais na região abdominal.
  • Perda de massa óssea característica da osteoporose e da osteopenia.

Descoberta de tumor

Durante o tratamento, exames de rotina mostraram alterações na prolactina, um hormônio produzido pela glândula hipófise. Um dia, Julia notou que seus seios começaram a produzir leite.

A suspeita de tumor foi confirmada por uma ressonância. “Fui buscar o exame sozinha, achando que não era nada. Quando li que tinha um nódulo na hipófise, eu desabei ali mesmo. Achei que ia morrer”, diz.

Apesar do susto, o tumor era benigno e pôde ser tratado com medicamentos. Aos poucos, a jovem conseguiu retomar o controle da própria saúde física e emocional. Fez tratamento com antidepressivos e terapia, e hoje, aos 20 anos, já recebeu alta do acompanhamento psicológico.

Camilla explica que, em alguns casos, as alterações no eixo hormonal da paciente — que envolvem estruturas como a hipófise e os ovários — já estão presentes desde antes do início do tratamento para a puberdade precoce. “O bloqueio hormonal pode, sim, trazer algumas consequências, mas quando há alguma disfunção no eixo, ela geralmente já existia antes do uso das medicações”, afirma.

Perspectivas para o futuro

Casada e prestes a iniciar a faculdade de medicina no Paraguai, Julia já tem planos para o futuro. “Minha mãe congelou os próprios óvulos quando tinha 38 anos. No começo, eu não queria que ela fizesse isso, porque estava revoltada. Mas hoje agradeço. Vou poder fazer uma fertilização quando for o momento certo”.

Apesar de tudo o que passou, Julia ainda precisa lidar com comentários maldosos sobre a maternidade e sobre a origem genética do futuro bebê. “Tem gente que diz que não vai ser meu filho, vai ser meu irmão. Mas isso não me abala. É burrice. Vai ser meu filho, sim”, afirma.

A jovem maranhense carrega as marcas do que viveu, mas encontrou formas de transformar a dor em força. “Claro que ainda sinto tudo o que passei, mas hoje estou bem. Estou vivendo. E quero mostrar para outras pessoas que não é o fim, mesmo quando tudo parece ser”, finaliza.

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Fonte: Metrópoles

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