Roberto Mangabeira Unger, ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e professor da Universidade de Harvard, defendeu, em entrevista ao Bastidores CNN, que o Brasil adote uma postura mais audaciosa diante da crise comercial com os Estados Unidos, propondo a abertura do setor de serviços brasileiro como moeda de troca para amenizar as sobretaxas impostas por Donald Trump aos produtos nacionais.
Segundo Mangabeira Unger, o Brasil encontra-se em posição vulnerável por não produzir itens essenciais para os Estados Unidos. No entanto, ele destaca que os americanos podem contribuir significativamente para a qualificação do aparato produtivo brasileiro e a reindustrialização do país na era da economia do conhecimento.
O professor ressalta que o Brasil possui instrumentos institucionais únicos que poderiam ser utilizados para impulsionar essa transformação produtiva, citando organizações como Sebrae, Senai, Senac, Embrapa e bancos públicos de desenvolvimento. “Temos os instrumentos que são o legado do corporativismo varguista da época interior de indústria convencional, mas não temos o projeto”, afirma.
De acordo com Mangabeira Unger, o principal obstáculo nas relações bilaterais é o fechamento do setor de serviços brasileiro, com exceção dos serviços financeiros, área em que o país se destaca globalmente devido ao domínio da economia pela agropecuária, mineração e rentismo financeiro.
A abertura do setor de serviços, historicamente uma das principais demandas americanas, poderia ser apresentada como proposta em troca da moderação nas tarifas impostas às mercadorias brasileiras, sugere Mangabeira Unger. Esta iniciativa representaria uma mudança significativa na política comercial entre os dois países.