O anúncio das novas tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros acendeu o alerta em diferentes setores da economia, e o segmento de bares e restaurantes não passou incólume.
De acordo com dados da Receita Federal, o Brasil tem mais de 1,7 milhão estabelecimentos de alimentação “fora do lar”, e São Paulo concentra 9% deste montante.
As tarifas devem começar no dia 1º de agosto e, para representantes do setor, a medida deve afetar o tradicional happy hour do brasileiro — mesmo que não imediatamente —, sobretudo nos preços de matéria-prima.
Segundo Humberto Munhoz, sócio do Grupo 3T Brasil, responsável por marcas como O Pasquim Bar e Coffee & Beyond, de 20% a 30% de todo o faturamento do setor é reinvestido em material, sem contar os outros custos indiretos.
“Em um ano em que o faturamento já não está incrível, em que a gente trabalha para faturar praticamente igual ao ano passado, qualquer notícia que tende a aumentar a inflação é muito ruim”, disse.
Em um cenário onde analistas enxergam o aumento do dólar pela instabilidade global e menor exportações brasileiras, itens como carne, café, laticínios e bebidas podem sofrer reajustes.
Consequentemente, o setor é pressionado em uma temporada já marcada por promoções, como “double drinks” e menus com preços mais acessíveis, estratégia para driblar a demanda ainda fragilizada.
Esse cenário, aponta Munhoz, acaba diminuindo a margem para aumento na ponta final.
“O happy hour deveria ficar mais caro, mas o setor pensa duas, três vezes antes de aumentar o preço, porque a elasticidade preço-demanda é muito complicada”, diz.
Segundo ele, os bares e restaurantes estão monitorando semanalmente os possíveis aumentos e, quando possível, antecipam compras para segurar o preço, embora os estoques sejam curtos, de sete a dez dias.
“Recebemos a notícia, sentamos com o fornecedor, apertamos um pouco, e tentamos, em alguns casos, dividir esse ‘prejuízo’ para não repassar ao consumidor de imediato”, explica.
A expectativa de maior tempo para possíveis aumentos chegarem ao consumidor final também foi exposta pela Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), que sinaliza a maior disponibilidade no mercado doméstico de itens que antes iriam ao mercado dos EUA, como a laranja.
Porém, os preços a médio e longo prazo preocupam. A associação engrossa o couro de outras entidades e empresários em defesa de uma solução diplomática, que preserve empregos e investimento em um segmento que ainda se recupera dos efeitos da pandemia.
Enquanto isso, os bares e restaurantes seguem atentos. “No fim, é um equilíbrio difícil: o setor precisa faturar, mas o consumidor não aguenta mais pagar mais caro. Vamos tentando segurar para não perder o cliente”, resume Humberto Munhoz.
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