A realeza britânica começou nesta semana uma prática anual adotada há mais de 800 anos na Inglaterra.
Durante o mês de julho, as margens do rio Tâmisa são tomadas por pequenos barcos a remo com equipes encarregadas de uma única tarefa: contar e manter o controle dos cisnes que vivem na região.
A tradição começou no século XII, época em que os animais eram considerados um alimento importante para os banquetes e festas em grandes palácios e castelos da monarquia.
Por causa disso, os cisnes passaram a ser reivindicados pela realeza como propriedade, o que tornava ilegal machucá-los ou matá-los.
Mais de sete séculos depois, essa proibição ainda existe e os animais ainda são, tecnicamente, propriedade do atual chefe de Estado, o rei Charles III.
Mas, desde o século XV, essa propriedade é compartilhada com duas empresas, que ajudam no processo de contagem.
“Swan Upping”
Apesar de a tradição ter sido mantida, os cisnes não são mais comidos em festas. Hoje, eles são protegidos por uma questão de conservação da vida selvagem na Inglaterra. E o censo representa uma parte importante disso.
Contar e manter o controle é o que os britânicos chamam de “Swan Upping”. É uma forma de cuidar dos cisnes que estão nas margens do rio, avaliar ameaças às espécies e a reprodução entre eles.
A contagem é feita durante o mês de julho, quando é verão no hemisfério norte, e acontece por cinco dias, começando numa segunda-feira e terminando na sexta.
São percorridos quase 130 quilômetros a partir da região de Sunbury, perto de Londres, até Abingdon, perto de Oxford.
Equipes em pequenos barcos se aproximam dos animais, fazem a contagem e colocam etiquetas de identificação que auxiliam no censo do ano que vem.
O trabalho é liderado pelo Contador Oficial de Cisnes do rei, um dos cargos mais peculiares dentro da monarquia do Reino Unido.

Atualmente, o posto é ocupado por David Barber. Em entrevista à agência Reuters, ele deu mais detalhes sobre como funciona o processo. “Eles são amarrados com laços especiais para cisnes. São levados para a margem. Então são pesados, medidos e, o mais importante, verificados quanto a quaisquer ferimentos”, explicou Barber.
Após o censo, é ele o responsável por produzir um relatório detalhado sobre o acompanhamento dos animais.
Desafios recentes e educação
Nos últimos dois anos, houve um declínio significativo no número de cisnes jovens, principalmente por causa de surtos da gripe aviária. Em 2024, foram encontrados 86 animais, uma redução de 45% nesse período.
Há muito tempo, essa tradição deixou de ser um evento puramente cerimonial e passou a ser uma parte importante da agenda de preservação da vida animal no país, um tema precioso para o rei Charles III.
A prática, inclusive, passou a ter um aspecto educativo na Inglaterra, atraindo alunos de escolas que aprendem sobre a conservação dos animais, segundo Barber.
“O entusiasmo das crianças em demonstrar seu conhecimento sobre cisnes e seus habitats é muito gratificante, e é sempre uma alegria tê-las conosco ao longo do percurso. Elas ficam fascinadas e têm muitas perguntas interessantes a fazer”, completa o contador de cisnes.
*Com informações da Reuters