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Taxa sobre taxa. Brasileiros pagaram R$ 2 tri em impostos em 2025

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Taxa sobre taxa. Brasileiros pagaram R$ 2 tri em impostos em 2025

O Impostômetro, painel eletrônico que registra a quantidade de tributos pagos em todo país, deve contabilizar, na tarde desta quinta-feira (3/7), que os brasileiros desembolsaram R$ 2 trilhões no pagamento de impostos neste ano.

O total representa um aumento de 11,1% em relação ao mesmo período de 2024, quando o painel marcava R$ 1,8 trilhão. No ano passado, essa marca só foi alcançada em 21 de julho.

Economistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que o crescimento da arrecadação com impostos está relacionado ao avanço da atividade econômica, à melhora na fiscalização e à adoção de novas medidas por parte do governo federal.

Dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) indicam que o Impostômetro registrou, pela primeira vez, o valor de R$ 2 trilhões em impostos pagos 10 anos atrás, em 9 de dezembro de 2015.

Impostômetro

Por que bateu os R$ 2 tri tão rápido?

Para Ulisses Ruiz de Gamboa, economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV), uma combinação de fatores impulsionou a arrecadação tributária em 2025, com destaque para o aquecimento da atividade econômica.

“A inflação também teve papel relevante, já que o sistema tributário brasileiro é majoritariamente baseado em impostos sobre o consumo, que incidem diretamente sobre os preços dos bens e serviços”, explica o economista.

Além disso, segundo ele, o avanço da arrecadação se deve a fatores como:

Apesar da alta arrecadação até agora, Ruiz de Gamboa pondera que as perspectivas para o restante do ano são mais modestas, diante do alto patamar da taxa básica de juros, a Selic, que tende a conter o crescimento econômico.

A taxa Selic está em 15% ao ano após o Comitê de Política Monetária (Copom) engatar a sétima elevação consecutiva no ciclo de aperto monetário. Em contrapartida, o Copom indicou o fim da onda de altas nos juros.

As medidas do governo e melhora na fiscalização

Para Cristina Helena Pinto de Mello, professora de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o Brasil tem cobrado tributos de forma “mais eficiente”, o que ajuda a explicar o aumento da arrecadação.

No entanto, não enxerga que houve um aumento expressivo da carga tributária.

“O que vai explicar o aumento da arrecadação, para além dessa base que cresceu e está crescendo [atividade econômica], é o fato de que tem uma eficiência tributária maior e o governo está, sim, tentando fazer um aumento da carga tributária”, diz.

Mello argumenta que o aumento da carga tributária ocorreu em razão da “distorção tributária enorme”, herdada da década de 1980. Para a professora, esse desequilíbrio é resultado da cobrança de impostos indiretos, que considera menos justos.

“Com a redemocratização, a gente acabou cobrando muitos impostos indiretos, porque eles eram mais fáceis de arrecadar e as pessoas não entendiam que estavam pagando, de fato, esse imposto”, declara.

“Tem uma questão de uma facilidade política na cobrança do imposto indireto, mas o imposto indireto é muito ruim. Ele é regressivo, cobra mais percentualmente de quem é mais pobre do que de quem é mais rico”, acrescenta Mello.

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Enrico Gazola, economista e sócio-fundador da Nero Consultoria, afirma que a escalada do Impostômetro resulta de três vetores principais: expansão nominal da economia; reversão de desonerações (como a dos combustíveis) e criação de novas fontes de receita (como a taxação de offshores e apostas); e melhora na fiscalização eletrônica da Receita Federal.

No caso das mudanças na desoneração e criação de fontes de receita, Gazola ressalta que o resultado das medidas é “um crescimento da carga tributária bruta que já ultrapassa 32 % do PIB [Produto Interno Bruto], algo que o Brasil não via há 15 anos”.

“Em suma, a marca de R$ 2 trilhões é, ao mesmo tempo, um termômetro da resiliência nominal da economia e um sinal de que a política fiscal continua a preferir a rota mais fácil — ampliar a fatia da torta em vez de fazer dieta”, expõe.

O economista defende que o governo apresente “um plano crível” de contenção de gastos e revisão de subsídios. Sem isso, ainda conforme ele, a discussão seguirá centrada em aumentos pontuais de alíquotas e novas bases de incidência.

“A pergunta deixa de ser quando romperemos outro recorde no Impostômetro; passa a ser quanto crescimento estamos dispostos a sacrificar para sustentá-lo?”, indaga Gazola.


Fonte: Metrópoles

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