Lula e Trump se acham os maiores negociadores do mundo. Lula disse hoje à CNN americana que Trump não chegou a negociar 10% do que ele, Lula, já negociou na vida inteira. Trump escreveu um best-seller chamado “A Arte da Negociação” — dizendo que foi assim que virou bilionário.
Mas ambos, na crise entre Brasil e Estados Unidos, escolheram hoje não negociar. Ao contrário: Lula dobrou sua aposta em cutucar o americano, dizendo, nessa mesma entrevista, que Trump não foi eleito para ser imperador do mundo — e afirmando depois, em rede nacional, que Trump faz uma chantagem inaceitável.
Trump escreveu hoje uma carta a Jair Bolsonaro, que descreveu como vítima de perseguição por parte de um ridículo regime de censura. É uma notável escalada em relação à primeira carta enviada a Lula na semana passada, e seu tom sugere fortemente a preparação das condições para decretar sanções contra o regime brasileiro.
A questão é essencialmente política e não chegou ainda a negociações técnicas de fato sobre tarifas. Lula enxerga, no repúdio generalizado no Brasil à agressão de Trump, benefícios político-eleitorais — e está chamando políticos da oposição de traidores da pátria.
Trump está sendo MAGA — Make America Great Again, a marca de seu movimento — ao usar comércio como arma política. Num raciocínio segundo o qual o que interessa é demonstrar força e defender valores, sem se importar com consequências geopolíticas ou mesmo econômicas.
O pano de fundo geopolítico é perigosíssimo. Trump vê no Brasil um aliado de seu principal inimigo, a China — além de adversário das big techs americanas.
Na prática, do jeito em que as coisas estão hoje, o Brasil está sendo empurrado a ter de fazer uma escolha que não é do nosso interesse nacional ter de fazer — ou seja, ter de optar entre Estados Unidos ou China.
Não está claro hoje se vamos conseguir escapar disso — e de suas severas consequências.