A partir desta quarta-feira (6/8), boa parte das exportações brasileiras serão sobretaxadas em 50% para entrar nos Estados Unidos. A medida faz parte de um conjunto de medidas protecionistas impostas pelo presidente Donald Trump. Economistas avaliam que tanto Brasil quanto EUA serão impactados pelo chamado “tarifaço”.
Motores, máquinas, combustíveis e aeronaves são os bens mais importados pelo Brasil dos EUA. Só em 2024, o Brasil comprou US$ 40,6 bilhões de produtos norte-americanos e, em contrapartida, vendeu US$ 40,4 bilhões. Essa relação comercial resultou em um déficit na balança comercial de US$ 200 milhões para os brasileiros — diferente do que alega a Casa Branca.
Do total importado dos Estados Unidos, 15,2% correspondem a compra de motores e máquinas não elétricos, além de suas partes. Na sequência estão os combustíveis e aeronaves e outros equipamentos, com 9,7% e 4,9% respectivamente.
Confira a participação de produtos importados dos EUA:
- 15,2% – Motores e máquinas não elétricos, e suas partes;
- 9,7% – Óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos;
- 4,9% – Aeronaves e outros equipamentos, incluindo suas partes (isento do tarifaço);
- 4,1% – Gás natural, liquefeito ou não;
- 3,9% – Polímeros de etileno, em formas primárias;
- 3,6% – Óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, crus;
- 3,5% – Carvão, mesmo em pó, mas não aglomerado (isento do tarifaço);
- 2,7% – Instrumentos e aparelhos de medição, verificação, análise e controle;
- 2,6% – Medicamentos e produtos farmacêuticos, exceto veterinários;
- 2,3% – Outros medicamentos, incluindo veterinários.
*Estatísticas de comércio exterior recolhidas no sistema Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Tarifaço de 50%
O Brasil é um dos mais impactados pela medida, com tarifa de 50% sobre os produtos exportados aos EUA. O tarifaço é considerado uma ação política pelo governo Lula (PT). Isso porque um dos motivos expressos por Trump é a alegação de uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro (PL), que é acusado de participar da susposta trama golpista. Bolsonaro e outros réus enfrentam um julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o golpe de Estado.
Economistas avaliam que as medidas promovidas pelo governo norte-americano terão impactos significativos, seja do lado positivo ou negativo, tanto para Brasil quanto para os próprios Estados Unidos.
Inicialmente, a imposição de tarifas unilaterais estava prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, mas o prazo foi prolongado pata 6 de agosto, esta quarta-feira. Nas vésperas do tarifaço, Trump assinou uma ordem executiva que oficializou a sobretaxa de 50% contra os produtos comprados do Brasil, além de isentar cerca de 700 produtos da taxação.
O tarifaço de Donald Trump
- O presidente norte-americano Donald Trump assinou, em 31 de julho, ordem executiva que oficializou a tarifa de 50% contra os produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos.
- Na prática, os 50% são a soma de uma alíquota de 10% anunciada em abril, com 40% adicionais anunciados no começo do mês e oficializados na última quarta-feira (30/7).
- Apesar disso, o líder norte-americano deixou quase 700 produtos fora da lista de itens afetados pela tarifa extra de 40%. Entre eles, suco de laranja, aeronaves, castanhas, petróleo e minérios de ferro.
- Os produtos isentos serão afetados apenas com a taxa de 10%.
- A previsão do governo norte-americano é de que o tarifaço entre em vigor em 6 de agosto, esta quarta-feira.
Com a extensão do prazo, o governo brasileiro ganhou mais alguns dias para avançar em negociações com a Casa Branca e amadurecer o plano de contingência contra o tarifaço. No entanto, as tratativas com o governo Trump não progrediram.
Em declarações recentes, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as medidas de proteção ao tarifaço estão sendo “calibradas” pela equipe econômica.
A expectativa é que algumas das ações apresentadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sejam implementadas ainda nesta semana. Segundo Haddad, o plano de contingência ficará dentro da meta fiscal.
A relação comercial entre Brasil e EUA
A relação comercial entre brasileiros e norte-americanos perdura há pelo menos 200 anos. Em 2024, o Brasil exportou o valor recorde de US$ 40,4 bilhões. Nunca o Brasil exportou tanto para os EUA como no ano passado.
Segundo dados oficiais, o Brasil tem registrado déficits comerciais com os Estados Unidos nos últimos 16 anos (desde 2009). Ou seja, o país compra mais do que vende aos norte-americanos.
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Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, os EUA vem logo atrás, de acordo com dados do MDIC. À época, os chineses desbancaram os norte-americanos e se tornaram os maiores compradores de produtos brasileiros.
Nesse período, a China despontou como o principal comprador de mercadorias brasileiras. Por outro lado, os EUA mantiveram uma relação comercial estável, sem apresentar crescimentos no número de importações de produtos do Brasil.
Importações norte-americanos ao Brasil
- 2025: US$ 21,7 bilhões (até junho)
- 2024: US$ 40,6 bilhões
- 2023: US$ 37,9 bilhões
- 2022: US$ 51,3 bilhões
- 2021: US$ 39,4 bilhões
- 2020: US$ 27,9 bilhões
Exportações brasileiras aos EUA
- 2025: US$ 20 bilhões (até junho)
- 2024: US$ 40,4 bilhões
- 2023: US$ 36,9 bilhões
- 2022: US$ 37,4 bilhões
- 2021: US$ 31,1 bilhões
- 2020: US$ 21,5 bilhões
Saldo da balança comercial para o Brasil
- 2025: -US$ 1,7 bilhão (até junho)
- 2024: -US$ 200 milhões
- 2023: -US$ 1 bilhão
- 2022: -US$ 13,9 bilhões
- 2021: -US$ 8,3 bilhões
- 2020: -US$ 6,4 bilhões
Fonte: Metrópoles