A última vez que o presidente Donald Trump esteve na mesma sala que Vladimir Putin, a relação dos dois estava em um momento de ascensão.
“Temos um relacionamento muito, muito bom. E esperamos passar bons momentos juntos”, disse Trump enquanto as reuniões de 2019 aconteciam no Japão. “Muitas coisas muito positivas surgirão do relacionamento.”
Seis anos depois, não aconteceu muita coisa positiva entre a Rússia e aos Estados Unidos. Putin invadiu a Ucrânia um ano depois de Trump deixar a presidência no primeiro mandato. E nos meses desde que ele voltou à Casa Branca, Moscou não deu nenhuma indicação de que vai desacelerar o conflito. Trump, que já demonstrou esperança de colocar fim à guerra, ficou desiludido com o seu antigo amigo.
Isto cria um cenário mais sombrio para o encontro desta sexta-feira (15) entre Trump e Putin no Alasca, a sétima vez que os líderes se encontram presencialmente, e a primeira desde que o presidente americano voltou ao poder.
“Acredito que agora ele (Putin) está convencido de que fará um acordo”, disse Trump à Fox Radio na quinta-feira (14). “Acho que ele vai. E vamos descobrir – vou saber muito rapidamente.”
A reunião, que acontecerá em uma base aérea dos EUA a norte de Anchorage, no Alasca, carrega certa incerteza sobre o que será dito, sobre quais resultados serão acordados e o que acontecerá em seguida.
A Casa Branca já reduziu as expectativas e disse que o encontro será como um “exercício de escuta”, mas Trump adotou um tom mais otimista na quinta-feira em relação aos avanços da cúpula. Entretanto, Moscou insiste que vai discutir vários tópicos destinados a normalizar os laços entre os EUA e a Rússia.
No centro de tudo, estarão dois homens com uma relação complicada – muito examinada pelo público, muitas vezes secreta e nunca totalmente compreendida, mesmo por alguns dos aliados mais próximos de Trump.

Nos oito anos desde que os líderes se reuniram pela primeira vez à margem de uma cúpula do G20 na Alemanha, os laços enfrentaram altos e baixos. Trump elogiou Putin e adotou seus pontos de vista, mas também cancelou reuniões abruptamente, furioso, e disse a outros líderes que acha que Putin mudou para pior, disseram assessores.
“Há um ajuste realista e uma redução das expectativas”, disse John Herbst, antigo embaixador dos EUA na Ucrânia e diretor sênior do Centro da Eurásia do Atlantic Council. “Até Trump está apontando, corretamente, que talvez não se possa confiar em Putin.”
Se houve uma constante na relação, foram as marcas deixadas pelas eleições de 2016, nas quais as agências de inteligência dos EUA descobriram que a Rússia tentou interferir a favor de Trump.
Estas conclusões – e as tentativas do Congresso e de outras autoridades de responsabilizar os envolvidos – influenciaram a visão de Trump sobre a Rússia e Putin durante anos. Ele expressou uma certa afinidade com o líder russo e, no mês passado, ameaçou processar criminalmente funcionários do governo Obama – incluindo o próprio ex-presidente – por questões relacionadas com a investigação da interferência russa na eleição.
“Foi uma tensão no relacionamento”, disse Trump na quarta-feira (13) sobre as investigações. Ele acrescentou: “Isso tornou tudo muito perigoso para o nosso país, porque não consegui realmente lidar com a Rússia da maneira que deveríamos ter feito”.
Na verdade, a interferência eleitoral colocou uma sombra sobre todas as reuniões anteriores de Trump com Putin, incluindo aquela no G20 de Hamburgo, em 2017. O encontro daquele ano durou mais de duas horas, com apenas o então secretário de Estado de Trump, Rex Tillerson, na sala.
Depois, Trump pediu que seu intérprete entregasse suas anotações, para garantir que o conteúdo da discussão não fosse revelado. E em um jantar de líderes na mesma cúpula, Trump procurou Putin para outra conversa de uma hora – desta vez, sem quaisquer outras autoridades americanas por perto e apenas com o intérprete de Putin para traduzir.
Os dois líderes se encontraram várias vezes depois disso, incluindo em uma cúpula de líderes asiáticos em Da Nang, no Vietnã. Trump disse que Putin negou novamente ter interferido nas eleições dos EUA – e indicou que acreditava nele.
“Eu realmente acredito que quando ele me diz isso, ele está falando sério”, disse Trump na época. Quando Putin foi reeleito no ano seguinte, Trump parabenizou-o pela vitória.
O isolamento de Putin no cenário mundial
Putin, de 72 anos, resistiu a cinco presidências americanas.
Ele passeou por Moscou com Bill Clinton e visitou George W. Bush no seu rancho no Texas, onde Bush disse com entusiasmo sobre o líder russo: “Consegui ter uma noção da sua alma”.
Mas Putin tem ficado cada vez mais isolado ao longo da última década, punido por grande parte do mundo pela sua invasão da Ucrânia e da Crimeia em 2014, pelo abate de um avião polaco, por um ataque mortal no Reino Unido e por muitas outras atrocidades.
Uma tentativa de retomar os laços com Obama falhou, e a Rússia foi finalmente expulsa do Grupo dos Oito, agora G7.
Trump consegue enfrentar Putin?
Depois de Trump assumir o cargo, Putin procurou restaurar o seu lugar no cenário mundial, através de uma cúpula em Helsinque. Foi aquela reunião, onde Trump se encontrou com Putin à portas fechadas e sem conselheiros, que alimentou o ceticismo sobre a capacidade do presidente americano de enfrentar o autocrático líder russo.

Trump enfrentou um ataque de fúria tanto do Partido Democrata quando dos republicanos – e condenação global – por aceitar a palavra de Putin sobre a interferência nas eleições americanas.
“Todos nos lembramos daquela coletiva de imprensa perturbadora em Helsinque, onde o presidente Trump parecia se submeter a Putin, acima da análise da sua própria comunidade de inteligência”, disse Ret. Almirante James Stavridis, ex-comandante supremo aliado da Otan. “Eu realmente espero que isso não aconteça. Não acho que vá.”
Mas sete anos mais tarde, depois de adotar repetidamente um tom conciliatório em relação a Putin e de elogiar a sua profunda relação com o líder russo, Trump parece muito mais cético quanto à perspectiva de chegar a um acordo sobre a Ucrânia. Esta mudança só ocorreu em maio, quando Trump sugeriu que viajaria para a Turquia para presidir a uma reunião com Putin e com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
“Nada vai acontecer até que Putin e eu estejamos juntos, ok?” disse Trump.
A reunião nunca aconteceu de fato, e a Rússia intensificou a sua campanha de bombardeios sobre a Ucrânia. Depois disso, Trump diminuiu as expectativas de acabar com a guerra.
“Não estou feliz com Putin”, disse Trump no mês passado, uma das declarações mais fortes até agora sobre o líder russo. “Recebemos muita besteira de Putin, se você quer saber a verdade. Ele é muito legal, o tempo todo, mas isso não significa nada.”