Um ataque de Israel na Cidade de Gaza na noite deste domingo (10) matou seis jornalistas, segundo o hospital Al-Shifa, incluindo quatro integrantes da Al Jazeera.
O Exército israelense afirmou ter atacado e matado o repórter Anas Al-Sharif, acusando-o de liderar uma célula do Hamas. Mohammed Qreiqeh, outro proeminente jornalista da Al Jazeera em Gaza, também foi morto no ataque, informou a emissora.
“A ordem para matar Anas Al-Sharif, um dos jornalistas mais corajosos de Gaza, juntamente com seus colegas, é uma tentativa desesperada de silenciar vozes antes da ocupação de Gaza”, disse a Al Jazeera em um comunicado após o ataque.
Antes de ser morto, Al-Sharif publicou nas redes sociais: “Se essa loucura não acabar, Gaza será reduzida a ruínas, as vozes de seu povo silenciadas, seus rostos apagados — e a história se lembrará de vocês como testemunhas silenciosas de um genocídio que vocês escolheram não impedir”.
Al-Sharif estava em uma tenda com outros jornalistas perto da entrada do Hospital Al-Shifa quando foi morto, de acordo com o diretor do hospital, o doutor Mohammad Abu Salmiya.
O ataque matou pelo menos sete pessoas, de acordo com Salmiya.
Israel acusa jornalista de liderar célula do Hamas
As FDI (Forças de Defesa de Israel) acusaram Al-Sharif de liderar uma célula do Hamas em Gaza que “lançou ataques com foguetes contra civis israelenses e tropas das FDI”.
Os militares já haviam mostrado documentos que, segundo elas, eram “provas inequívocas” dos laços de Al-Sharif com o Hamas.
“As FDI já haviam divulgado informações de inteligência e muitos documentos encontrados na Faixa de Gaza confirmando sua filiação militar ao Hamas”, alegou o Exército em um comunicado após a ofensiva.
No mês passado, depois que as Forças de Defesa de Israel acusaram Al-Sharif de ser integrante do Hamas, ele respondeu com uma mensagem nas redes sociais.
“Reafirmo: eu, Anas Al-Sharif, sou um jornalista sem afiliações políticas. Minha única missão é relatar a verdade de onde se encontra — como ela é, sem preconceitos”, escreveu ele.
“Num momento em que uma fome mortal assola Gaza, falar a verdade tornou-se, aos olhos da ocupação, uma ameaça”, adicionou.
Al-Sharif, que era casado e tinha dois filhos, preparou uma mensagem final para o caso de sua morte, que foi compartilhada por seus colegas.
“Peço a vocês que não se deixem silenciar por correntes, nem sejam impedidos por fronteiras, e que sejam pontes para a libertação da terra e de seu povo, até que o sol da dignidade e da liberdade brilhe sobre nossa pátria ocupada”, escreveu Al-Sharif.
ONU e comitê defenderam jornalista morto
O CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas) afirmou em julho que estava “profundamente preocupado” com a segurança de Al-Sharif e que o jornalista temia por sua vida após ter sido alvo de “uma campanha de difamação militar israelense, que ele acredita ser um precursor de seu assassinato”.
Desde o início da guerra, há quase dois anos, o CPJ afirma que 186 jornalistas foram mortos em ataques israelenses.
A ONU também classificou as acusações de Israel contra Al-Sharif como “ataques online e acusações infundadas”.
“Estou profundamente alarmada com as repetidas ameaças e acusações do Exército israelense contra Anas Al-Sharif, o último jornalista sobrevivente da Al Jazeera no norte de Gaza”, pontuou Irene Khan, relatora especial da ONU sobre liberdade de expressão, há duas semanas.