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Brasil será protagonista mundial em data centers, diz VP da Siemens Energy

Brasil será protagonista mundial em data centers, diz VP da Siemens Energy

Um data center (ou centro de dados, a gosto do freguês) é um local que armazena e processa informações. A estrutura pode assumir duas funções: operar serviços de internet – chamados data centers de nuvem – ou treinar modelos de linguagem complexos – os data centers de inteligência artificial.

Segundo dados do Data Center Map, o Brasil é casa para 188 deles — todos de nuvem. Isso coloca o país em 12º lugar no mundo em quantidade de centros de dados.

Mas os próximos anos prometem uma alavancagem da posição brasileira na lista. Esta é a visão compartilhada por André Clark, vice-presidente sênior da Siemens Energy para América Latina, com o CNN Money.

Segundo o executivo, a quantidade de energia renovável disponível no país, somada a marcos regulatórios maduros e relativa estabilidade política, fazem do Brasil o lugar certo para implementação das “mastodônticas” estruturas.

“Eu não tenho a menor sombra de dúvida que seremos um dos lugares mais importantes do mundo para isso”, defendeu.

Essa e outras discussões sobre tecnologia e transição energética serão pauta da Siemens Energy na COP30 deste ano, realizada em novembro na cidade de Belém (PA).

Em entrevista exclusiva, André comenta a participação da companhia no evento, o papel dos data centers no Brasil, e as perspectivas de investimento da companhia no país para os próximos anos. Confira.

Siemens Energy fala sobre data centers no Brasil, energia e COP30

Como a Siemens Energy enxerga o papel dos data centers na matriz de consumo energético no Brasil? 

O Brasil é um dos maiores mercados do mundo para data centers. O país é um grande consumidor de dados, seja por conta do seu histórico de digitalização bancária ou de outros serviços. O brasileiro está muito acostumado a entregar imposto de renda pela internet há muitos anos, por exemplo.

Pela natureza de grande responsabilidade elétrica e crescimento do setor, os data centers têm sido clientes importantes para a gente nos últimos 10 anos. Agora, mais do que nunca.

Eles estão ficando maiores, neste momento, pelo crescimento da computação em nuvem. O Brasil ainda não está surfando os grandes data centers de IA que estão ocorrendo em outros lugares do planeta. Mas é relevante. Os de nuvem estão concentrados no sudeste brasileiro, São Paulo, Jundiaí e outras cidades no interior.

Diante desse crescimento, a Siemens Energy está ajudando os data centers a otimizarem seu consumo energético?

Profundamente. Na hora que se ganha escala e esses data centers se tornam muito grandes, eles começam a pedir uma disponibilidade de energia bastante avançada.

Eles são medidos em níveis: padrão 1, 2, 3, até o 4. O padrão 4, por exemplo, pode ficar 25 minutos por ano fora do ar. São precisas várias camadas de sistemas e automações elétricas para mantê-los em funcionamento.

À medida que o data center fica muito grande, você precisa conectá-lo a uma subestação troncal, que abastece várias cidades simultaneamente. O responsável pela transmissão, que precisa oferecer eficiência e segurança ao centro, começou a ser nosso cliente também. 


André Clark, Vice-Presidente Sênior da Siemens Energy para a América Latina • Divulgação/ Siemens Energy

O Brasil pode se tornar um polo de hospedagem de data centers sustentáveis, aproveitando fontes renováveis locais? Quais os principais obstáculos?

Sem sombra de dúvidas. Dada a nossa escala, já é.

Além da forte demanda local, nós somos um país com grande excedente de energia. Cerca de 50% do que é produzido sobra. Somado a isso, 92% da nossa energia é renovável. 

Além disso, um dos nossos principais marcos regulatórios é a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), que traz uma política de governança de dados relativamente madura. 

O país também é um lugar estável, neutro geopoliticamente, seguro juridicamente. Por estes motivos, o Brasil é o lugar certo para colocar esses data centers, e já estamos vendo esta expansão por parte de empreendedores e companhias tradicionais. 

Apesar disso, a corrida global, essa febre gigante de IA, ainda não começou no país. Essas decisões ainda estão para ser tomadas. Mas o Brasil será, eu não tenho a menor sombra de dúvida, um dos lugares mais importantes do mundo para isso.

Falta incentivo para a construção de data centers no Brasil?

Discordo. Não são necessários subsídios para isso. 

Qual é o incentivo que o Brasil tem que mostrar para qualquer indústria? Simplificação. Não ter um sistema tributário do jeito que temos. Mas o país já entendeu isso, tem uma reforma tributária em andamento. 

Os esforços do ReData [regime fiscal especial voltado aos data centers] também são interessantes. Podermos importar equipamentos que você não produz aqui como grandes computadores, grandes chips etc., para facilitar a construção. Obviamente ajuda. Isso é para qualquer indústria.

O Brasil é o lugar certo para colocar esses data centers, e já estamos vendo esta expansão por parte de empreendedores e companhias tradicionais. 

Dito isso, há um ponto que eu acho importante. Não para agora, mas para a próxima geração de centros de dados: a legislação sobre o regulamento de IA.

O Brasil tem escolhido padrões mais europeus. Não que isso esteja errado, mas, se for muito restritivo, você diminui o ritmo de crescimento da indústria. Ao mesmo tempo, se a legislação for muito aberta, você pode estar sujeito aos perigos da tecnologia. O Brasil está procurando qual é a posição correta disso. O equilíbrio certamente atrairá mais negócios.

Vamos falar um pouco sobre a presença da Siemens Energy na COP30. O que vocês pretendem levar à mesa de discussão? 

A gente organizou nossa participação de uma forma diferente este ano. É nossa terceira COP e, ao invés de levarmos 200 executivos nossos a Belém, um ecossistema relativamente frágil, decidimos utilizar o dinheiro que iria para transporte e estadia da comitiva para um projeto social, em parceria com o Instituto Federal do Pará.

É um treinamento, com bolsa, para formação de profissionais técnicos na área de transição energética. O programa tem duração de dois anos, porque queremos deixar um legado que transcende a COP. 

Agora, estaremos lá para falar do quê? Três assuntos. O primeiro, a contabilidade e intensidade de carbono. A precisão disso é muito importante para as empresas, certamente para o setor privado. É importante que se tenha clareza e padrões internacionais de como o carbono é contado e como prestar contas aos seus acionistas e investidores. 

O segundo elemento é a discussão sobre energia e inteligência artificial. Os algoritmos de IA serão muito importantes para a eficiência, segurança e gerenciamento dos sistemas elétricos. O último assunto será a transição energética justa e ordenada.

Quais são os principais investimentos da Siemens Energy planejados para o Brasil nos próximos anos? Que oportunidades de negócio vocês vem identificando na intersecção entre data centers e energia limpa?

Recentemente, fechamos mais um ciclo de investimento de grande porte. Somos acionistas do Gás Natural do Açú, inaugurado no começo de agosto pelo presidente Lula. É o maior polo termelétrico a gás da América Latina. Estamos terminando alguns ciclos nessa direção.

Os algoritmos de IA serão muito importantes para a eficiência, segurança e gerenciamento dos sistemas elétricos.

Os mercados brasileiros são crescentes. Os equipamentos de transmissão, estão demandando cada vez mais produção para as nossas fábricas. Somado a isso, o Brasil é exportador de equipamentos para o exterior. Estamos sempre atentos a oportunidades de expansão. Claro, não ajudam as questões que estão ocorrendo pelo mundo sobre tarifas, mas o case é muito robusto.

Inclusive, estamos vivenciando uma demanda muito alta por novos centros de dados também no vizinho norte-americano. As tarifas afetaram o braço brasileiro da companhia de alguma forma? 

Somos, sim, grandes exportadores. Mas a demanda por equipamentos elétricos nos Estados Unidos é grande no mundo, não somente no Brasil. 

Além disso, o que exportamos são grandes equipamentos, com contratos mais longos. Fechamos projetos agora para entregarmos daqui a 2 anos. No longo prazo, se isso perdurar, impactará nossas vendas. Mas é cedo para a gente sentir impactos estruturais, aqueles que nos fazem tomar decisões grandes nessa direção. 

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