A transição para a menopausa, marcada pela queda nos níveis hormonais, principalmente de estrogênio e progesterona, tem sido apontada como um fator de risco para a doença hepática gordurosa em mulheres acima de 50 anos.
Atualmente chamada de doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD) a condição tem se tornado uma das principais causas de transplante de fígado entre mulheres na pós-menopausa.
“Embora envelhecer naturalmente envolva mudanças no metabolismo, como maior acúmulo de gordura abdominal, menor gasto calórico e redução da atividade física, a depleção de estrogênio, uma das características da menopausa, pode ter papel ainda mais relevante na saúde do fígado”, explica a endocrinologista Deborah Beranger, com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ).
Pesquisas vêm reforçando a ligação entre menopausa e maior vulnerabilidade hepática. Uma revisão e meta-análise apontou que mulheres na menopausa têm risco cerca de 2,4 vezes maior de desenvolver a doença hepática gordurosa, mesmo quando não apresentam obesidade.
Outro estudo observou que mulheres submetidas à remoção dos ovários, condição que induz menopausa precoce, tiveram maior incidência da doença, sugerindo que o estrogênio desempenha um papel protetor fundamental com efeito anti-inflamatório e imunorregulador, ajudando a proteger o fígado contra o acúmulo de gordura e lesões.
Com a queda desse hormônio, o órgão pode ficar mais suscetível a inflamações e cicatrizes, mesmo em mulheres com peso normal e sem síndrome metabólica.
“Apesar de ser mais comum em mulheres com sobrepeso e obesidade, mesmo as mulheres com peso normal também têm um risco aumentado de desenvolver a doença hepática gordurosa, não alcoólica, só pela menopausa. E esse risco é da ordem de 2 a 12 vezes meia maior quando entra uma menopausa em relação à pré-menopausa, o que também confirma a importância do estrogênio para evitar o aumento de gordura no fígado e a tendência de que isso aconteça quando a mulher pede o estrogênio”, acrescenta o ginecologista Igor Padovesi, especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (NAMS) e membro da International Menopause Society (IMS).
Como tratar ou mesmo prevenir esse problema?
Esse cenário tem levado pesquisadores a estudar se a terapia hormonal da menopausa, já utilizada para aliviar sintomas como ondas de calor, alterações de humor e distúrbios do sono, poderia também beneficiar a saúde do fígado.
“Pesquisas iniciais indicam que formulações transdérmicas, como adesivos ou géis, podem ter efeito protetor, enquanto pílulas orais à base de estrogênio são metabolizadas no fígado e podem sobrecarregar o órgão”, diz Padovesi.
Existem fatores de risco para a doença como sobrepeso e obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, tabagismo, sedentarismo, ou histórico familiar de cirrose, de doenças do fígado, com consumo significativo de álcool. “Para essas mulheres seria recomendado os exames como ultrassom de abdômen e dosagem das enzimas do fígado, que são as chamadas aminotransferases, que é a ILT e a ST”, acrescenta Padovesi.
Para os especialistas ouvidos pela CNN, a prevenção é essencial, principalmente para mulheres que estão próximas ou já entraram na menopausa.
Para isso é importante que as mulheres adotem uma alimentação equilibrada, rica em vegetais, proteínas magras e gorduras boas, manter uma rotina de exercícios, reduzir o consumo de álcool, evitar cigarro e ultraprocessados, além de monitorar exames laboratoriais, como enzimas hepáticas, colesterol e glicemia.
“A maioria das mulheres vai viver um terço da vida na pós-menopausa. Cuidar da saúde do fígado faz parte do envelhecimento saudável”, conclui Deborah.
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