Os Estados Unidos apresentaram ao Líbano uma proposta para desarmar o Hezbollah até o final do ano, juntamente com o fim das operações militares de Israel no país e a retirada de tropas de cinco posições no sul do país, segundo uma cópia da agenda do gabinete libanês analisada pela agência de notícias Reuters.
O plano, apresentado pelo enviado do presidente dos EUA, Donald Trump, à região, Tom Barrack, e discutido em uma reunião do gabinete libanês na quinta-feira (7), define as etapas mais detalhadas até o momento para desarmar o grupo radical apoiado pelo Irã que rejeitou os crescentes apelos para o desarmamento desde a devastadora guerra do ano passado com Israel.
O ministro da Informação do Líbano, Paul Morcos, disse após a reunião da quinta-feira (7) que o gabinete aprovou apenas os objetivos do plano de Barrack, mas não o discutiu completamente.
Mas afinal, o que é o Hezbollah e como surgiu?
O Hezbollah foi fundado em 1982 pela Guarda Revolucionária do Irã, durante a guerra civil libanesa de 1975–1990, como parte do esforço de Teerã para exportar a Revolução Islâmica de 1979 e combater as forças israelenses que invadiram o Líbano em 1982.
Enquanto outros grupos se desarmaram após a guerra civil no Líbano, o Hezbollah manteve as armas para combater as forças israelenses que ocupavam o sul predominantemente muçulmano xiita.
Em 2006, durante uma guerra de cinco semanas, o grupo disparou milhares de foguetes contra Israel. A guerra irrompeu depois que o Hezbollah invadiu Israel, sequestrando dois soldados e matando outros.
O arsenal do Hezbollah cresceu após 2006. O World Factbook da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) estima que o grupo possuía até 150 mil foguetes e mísseis em 2020 e, em 2022, estima-se que tenham 45 mil combatentes.
O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, morto por Israel em 2024, afirmou que o grupo tinha 100 mil combatentes.
Como o grupo se envolveu na guerra em Gaza?
Após a guerra de 2006, o Hezbollah também se envolveu em conflitos fora do Líbano. O grupo aprofundou os laços com o grupo militante palestino Hamas, tornando-se a ponta de lança do chamado Eixo da Resistência, apoiado pelo Irã.
Após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, o grupo Hezbollah abriu fogo contra posições israelenses na região da fronteira, declarando solidariedade aos palestinos.
Os dois lados trocaram tiros por quase um ano, até setembro de 2024, quando Israel detonou milhares de pagers com armadilhas explosivas usados por membros do Hezbollah e intensificou os ataques aéreos, matando Nasrallah e outros comandantes.
Israel também enviou tropas para o sul do Líbano.
Qual a influência regional do Hezbollah?
O Hezbollah inspirou e apoiou outros grupos apoiados pelo Irã em toda a região, inclusive as milícias xiitas iraquianas.
O grupo desempenhou um papel importante ao ajudar seu aliado, o presidente sírio Bashar al-Assad, a lutar na guerra na Síria, onde ainda tem combatentes.
A Arábia Saudita diz que o grupo também lutou em apoio aos Houthis, aliados do Irã, no Iêmen, mas o Hezbollah nega isso.
Qual é o papel do grupo no Líbano?
A influência do Hezbollah é sustentada tanto por seu armamento quanto pelo apoio de muitos xiitas libaneses que dizem que o grupo defende o Líbano de Israel.
Os partidos libaneses opositores afirmam que o grupo prejudicou o Estado e arrastou unilateralmente o Líbano para guerras.
O Hezbollah entrou na política libanesa em 1992, disputando eleições, e começou a assumir um papel mais proeminente nos assuntos de Estado em 2005, depois que a Síria retirou suas forças do Líbano após o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik al-Hariri, um político sunita que simbolizava a influência saudita em Beirute.
Um tribunal apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) condenou três membros do grupo à revelia, julgamento realizado na ausência do acusado, pelo assassinato de Rafik al-Hariri. O Hezbollah nega qualquer participação, descrevendo o tribunal como uma ferramenta de seus inimigos.
Em 2008, uma luta pelo poder entre o Hezbollah e seus inimigos políticos libaneses, levou a um conflito armado, após o governo prometer tomar medidas contra a rede de comunicações militares do grupo. Assim, os combatentes assumiram o controle de partes da capital Beirute.
Em 2018, o Hezbollah e os aliados que apoiam sua posse de armas conquistaram uma maioria parlamentar. Essa maioria foi perdida em 2022, mas o grupo ainda tem grande influência política.
Por que alguns países consideram o Hezbollah como um grupo terrorista?
Os Estados Unidos responsabilizam o Hezbollah pelos atentados suicidas de 1983 que destruíram o quartel-general da Marinha americana em Beirute, matando 241 militares, e um quartel francês, matando 58 paraquedistas franceses. Também culpam o grupo por um ataque suicida à Embaixada dos EUA na capital libanesa em 1983.
Autoridades do Líbano e agências de inteligência ocidentais afirmaram que grupos ligados ao Hezbollah sequestraram ocidentais no Líbano na década de 1980.
Referindo-se a essas ofensivas e à tomada de reféns, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou em uma entrevista de 2022 que eles foram realizados por pequenos grupos não ligados ao grupo.
Governos ocidentais, incluindo Washington, e países do golfo árabe, incluindo a Arábia Saudita, consideram o Hezbollah um grupo terrorista.
Alguns, notadamente a União Europeia, designaram sua ala militar como grupo terrorista, estabelecendo o que os críticos consideram uma distinção artificial com sua ala política.
Já a Argentina, culpa o Hezbollah e o Irã pelo atentado a bomba contra um centro comunitário judaico em Buenos Aires, no qual 85 pessoas morreram em 1994, e por um ataque à embaixada de Israel em Buenos Aires em 1992, que matou 29 pessoas. Tanto o Hezbollah quanto o Irã negam qualquer responsabilidade.