A Justiça Federal negou o pedido da família de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, para impedir a veiculação de áudios e vídeos que mostram conversas entre o líder da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) e a esposa Cynthia Giglioli Camacho.
Uma das gravações escancara o maior racha interno da história do Primeiro Comando da Capital (PCC). Em petição enviada à 15ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, a defesa de Cynthia Giglioli, esposa do líder da facção, solicitou que veículos de imprensa fossem proibidos de exibir trechos das conversas gravadas nos parlatórios da Penitenciária Federal de Porto Velho (RO), sob o argumento de que se tratavam de “diálogos de foro íntimo” e protegidos por segredo de Justiça. Em parte do conteúdo, Marcola e Cynthia tratam de assuntos familiares.
As gravações — que incluem conversas entre Marcola e a esposa — integram o material probatório de uma investigação sigilosa conduzida pela Polícia Federal e revelam que o líder histórico do PCC vinha sendo acusado de traição por outros integrantes da cúpula da facção. Segundo a apuração da CNN Brasil, o conteúdo foi omitido da defesa de um dos principais alvos da operação “Anjos da Guarda”, o advogado Davi de Oliveira Araújo, acusado de atuar como mensageiro e esconder os áudios comprometedores de seus próprios clientes.
A petição apresentada pelos advogados de Cynthia Camacho pede a abertura de investigação para apurar o vazamento das mídias e acusa os veículos de comunicação de “atiçar a população de maneira sensacionalista”, afirmando que as gravações, feitas em 2022, não teriam mais relevância pública. “A eventual desobediência à proibição de permitir, dar causa ou facilitar a publicidade das peças dos autos […] poderá dar ensejo à responsabilização penal”, diz o documento, referindo-se à decisão do juiz federal que impôs sigilo ao material.
Um dos áudios exibidos mostra Marcola relatando uma suposta emboscada feita por um agente penitenciário, que teria usado um gravador escondido para registrar uma conversa sobre homicídios de agentes públicos. Ele se diz alvo de uma “maldade” e afirma: “Eu sou acusado sempre de tudo”.
A tentativa da família de impedir a divulgação acontece em meio a um momento de crise interna do PCC, com troca de ameaças entre lideranças, reorganização de poder e disputas sobre os rumos da facção. Os áudios revelados nas reportagens reforçam que Marcola, mesmo isolado em presídio federal, ainda exerce influência — mas também enfrenta desconfiança e rejeição de antigos aliados.
A CNN confirmou que a Justiça negou a ação. Procurada, a defesa de Cynthia Giglioli Camacho preferiu não se manifestar sobre o caso.