Faustão: quais riscos ao realizar múltiplos transplantes sequenciais? Saiba

O apresentador Fausto Silva, 75, foi submetido nesta quinta-feira (7) a dois novos transplantes de órgãos, totalizando quatro procedimentos em menos de um ano.

Internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, desde 21 de maio, Faustão passou por um transplante de fígado e um retransplante renal — esse último já estava planejado há um ano, após complicações do procedimento anterior.

 

 

Essa nova etapa da internação acontece oito meses depois de seu primeiro grande transplante: o de coração, realizado em agosto de 2023.

Na ocasião, ele ficou cerca de dois meses hospitalizado. Faustão ocupava o segundo lugar na fila do órgão, de acordo com os critérios técnicos da Secretaria de Saúde de São Paulo, e recebeu o coração após a recusa da equipe do primeiro colocado.

Em abril de 2024, enfrentou nova batalha: um transplante de rim, resultado do agravamento de sua função renal após a insuficiência cardíaca. A recuperação foi longa — foram 53 dias de internação. No entanto, após esse procedimento, Faustão voltou a apresentar complicações, desta vez relacionadas à sepse, uma infecção generalizada que pode levar à falência de múltiplos órgãos.

O atual estado de saúde do apresentador segue como um dos mais delicados de sua trajetória médica. Desde o início da internação em maio, ele passou por reabilitação clínica, controle infeccioso e acompanhamento constante para estabilização.

Para entender melhor os riscos, critérios e consequências de múltiplos transplantes em um mesmo paciente, conversamos com o Dr. Wellington Andraus, chefe do Serviço de Transplante de Órgãos do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

1. Em que situações um transplante (como o de coração, fígado ou rim) pode sobrecarregar ou comprometer outro órgão?

Dr. Wellington Andraus: Principalmente quando o pós-operatório é mais conturbado, e especialmente se o paciente já tiver alguma doença pré-existente em outro órgão. Por exemplo, após um transplante de fígado, o processo inflamatório pode levar a uma insuficiência renal. Em casos mais graves, pode ser necessário diálise ou até um novo transplante. Situações de inflamação intensa no pós-operatório podem, sim, comprometer outros órgãos.

2. Quais os mecanismos fisiológicos que podem levar à falência de um órgão após o transplante de outro?
Dr. Wellington Andraus: Quando a pressão arterial cai por muito tempo, os órgãos podem sofrer isquemia, ou seja, falta de oxigenação. Além disso, o paciente pode apresentar uma resposta inflamatória exacerbada com liberação de citocinas e mediadores inflamatórios que acabam comprometendo outros órgãos. A inflamação e a isquemia são os principais mecanismos envolvidos.

3. Quais os perigos de realizar múltiplos transplantes em um só paciente?
Dr. Wellington Andraus: Isso é muito variável. Existem pacientes que recebem transplante de fígado e rim ao mesmo tempo e têm boa evolução. Em outros, o risco aumenta sim, principalmente se um dos órgãos não funcionar bem e prejudicar o outro. A gravidade do paciente no momento do transplante, a função dos órgãos e a resposta ao procedimento são fatores que influenciam diretamente. É um quadro multifatorial.

4. Como uma complicação como a sepse pós-operatória interfere no sucesso da cirurgia de transplante? Como é a recuperação e quanto tempo leva?
Dr. Wellington Andraus: A sepse é uma infecção grave e uma das complicações mais temidas. Após uma cirurgia de grande porte como o transplante, o paciente está imunossuprimido para evitar rejeição, o que o torna mais vulnerável. Além disso, há exposição de cavidades como abdômen ou tórax. A recuperação é muito variável e depende da gravidade da infecção, da resposta do organismo e das condições prévias do paciente.

5. Há alguma diferença entre a fila de transplante de SP e de outros estados?
Dr. Wellington Andraus: Sim. As listas são estaduais, exceto em São Paulo, que tem duas regionais por ser o estado mais populoso. Uma diferença importante é que, em São Paulo, um paciente que já fez um transplante e cujo órgão está funcionando pode ter prioridade para um segundo transplante — uma regra que não existe em outros estados. Além disso, os critérios de oferta e aceitação dos órgãos também variam entre os estados.

6. Quais critérios técnicos determinam a priorização de um paciente na lista de espera?
Dr. Wellington Andraus: Cada órgão tem critérios específicos. No fígado, por exemplo, usamos o score MELD, que determina a gravidade da doença hepática. Já para o coração, os critérios incluem necessidade de terapia intensiva, uso de suporte circulatório, entre outros. No caso do Faustão, a gravidade da insuficiência cardíaca o colocou entre os primeiros da lista. O transplante renal posterior teve prioridade por ele já ter recebido um coração, conforme a regra de São Paulo.

7. Existem formas de acelerar o processo de obtenção do órgão, como “furar a fila”?
Dr. Wellington Andraus: Não. Existem regras claras de priorização. Por exemplo, pacientes com hepatite fulminante têm prioridade por risco iminente de morte, mas isso não é “furar a fila”, e sim seguir critérios técnicos. Os demais pacientes seguem a ordem da fila de acordo com os seus critérios clínicos.

8. Quanto tempo, em média, os órgãos transplantados duram, como fígado ou rim?
Dr. Wellington Andraus: Não há um tempo exato. Existem pacientes com mais de 35 anos de transplante de fígado e com ótima função. O importante é o bom acompanhamento e uso correto dos medicamentos.

9. Qual a taxa de sobrevida de pacientes e órgãos transplantados nos primeiros anos após o transplante?
Dr. Wellington Andraus: No transplante de fígado, a taxa de sobrevida é de cerca de 80% no primeiro ano. Em cinco anos, esse número cai para cerca de 70%. Quem ultrapassa o primeiro ano com boa evolução tende a viver muitos anos, muitas vezes falecendo por outras causas que não têm relação com o fígado transplantado.

10. Como médicos avaliam o risco e os benefícios de realizar múltiplos transplantes em sequência?
Dr. Wellington Andraus: Avaliamos caso a caso, considerando a gravidade da falência orgânica e a chance de recuperação. Quando um órgão está comprometido e o transplante pode restabelecer sua função, o benefício geralmente é maior que o risco.

11. Quando você, como médico, decide que não é mais viável continuar tentando?
Dr. Wellington Andraus: Esse tipo de decisão nunca é individual. Discutimos em reuniões multidisciplinares com especialistas de várias áreas. Quando o paciente está extremamente grave e não há perspectiva de melhora com o transplante, pode-se optar por cuidados paliativos. Mas essa é uma decisão coletiva e muito difícil.

12. Um paciente com múltiplos transplantes é uma realidade no Brasil?
Dr. Wellington Andraus: Sim. Transplantes de múltiplos órgãos, como fígado-rim ou pâncreas-rim, já são realizados há muitos anos no Brasil. Em pacientes com cirrose, por exemplo, é comum haver também insuficiência renal, o que torna esse tipo de transplante combinado uma realidade consolidada no país.

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