A PF (Polícia Federal) encontrou, entre 101 páginas de uma agenda do general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), uma folha com anotações sobre um possível episódio de espionagem contra um ex-sócio de Jair Renan Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A CNN teve acesso com exclusividade ao material, que foi apreendido pela PF e serviu de subsídio nas investigações relacionadas a um suposto esquema de espionagem ilegal montado na Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
O caso mencionado por Heleno ocorreu em março de 2021, quando o empresário e personal trainer Allan Lucena percebeu que estava sendo monitorado em seu prédio, em Brasília, e acionou a Polícia Militar.
Os policiais abordaram um suspeito em um veículo, que se identificou como agente da PF. O episódio foi registrado em um boletim de ocorrência da Polícia Civil.
Posteriormente, durante as investigações sobre o esquema de espionagem ilegal na gestão Bolsonaro, a PF confirmou que o empresário foi alvo da chamada “Abin paralela”. As investigações da PF concluíram que sistemas da agência foram utilizados para beneficiar Jair Renan.

Em uma das páginas da agenda de Heleno, o general escreveu à mão sobre o caso: “Após notícias na imprensa de que o filho do presidente [Jair Renan] estava utilizando um veículo cedido por um estranho, apenas apuramos que o referido carro, na realidade, estava na posse de outra pessoa. Na verdade, o filho do presidente, cuja segurança é de responsabilidade do GSI, nunca utilizou aquele carro. Ele é filho do presidente. Portanto, é atribuição da Abin verificar o fato”.
Segundo a PF, o agente federal Marcelo Araújo Bormevet e o militar Giancarlo Gomes, que à época atuavam de forma cedida na Abin, eram os responsáveis por espionar Allan Lucena.
Entrevista à CNN
Allan Lucena tornou-se desafeto da família Bolsonaro após romper relações comerciais com o filho do ex-presidente. À CNN, afirmou em janeiro de 2024 que já tinha consciência de estar sendo espionado.
“O carro que eu ‘peguei’ na minha garagem era pessoal da Abin, me perseguindo”, relatou Lucena.
Acionada, a Polícia Militar abordou o suspeito, que se identificou como Luiz Felipe Barros Felix, agente da PF cedido para a Abin.
Ao ser chamado para prestar esclarecimentos, Felix contou que trabalhava na Abin vinculado diretamente a Alexandre Ramagem, então diretor-geral da agência.
O episódio apareceu no relatório que serviu de base para o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizar a operação que mirou o ex-diretor da agência e atual deputado federal Ramagem (PL-RJ), além de sete agentes da PF cedidos para a Abin, entre eles, Luiz Felipe Barros Félix.
“Assim, relata-se que Luiz Felipe Barros Félix, agente de confiança de [Alexandre] Ramagem, que operava sob suas ordens, exerceu monitoramento, sem causa legítima, sobre Allan Lucena, personal trainer de Jair Renan Bolsonaro, com vistas a livrar este último de investigações já então em curso no inquérito policial”, dizia trecho do inquérito da PF.
A CNN buscou a defesa do general Heleno e aguarda retorno.