Paramilitares sudaneses estão formando um governo paralelo o país. Com isso, analistas políticos avaliam o Sudão, país do norte da África, passará a ficar de fato dividido em duas partes.
Após mais de dois anos de guerra, o Exército sudanês e luta atualmente contra as FRS (Forças de Apoio Rápido) paramilitares sudanesas pelo controle da cidade de al-Fashir – a última base do Exército na região de Darfur.
O conflito entre os dois lados já deixou um rastro de assassinatos étnicos, fome e deslocamentos em massa.
Uma coalizão liderada pelos paramilitares da FRS anunciou quem seriam os membros de um governo paralelo na semana passada. Embora ainda não tenha estabelecido instituições, nem ter sido reconhecido, analistas afirmam que o Sudão pode se encaminhar para se dividir novamente. Isso já aconteceu em 20211, quando parte do território foi separada e passou a se chamar Sudão do Sul.
Como chegamos a esse ponto?
O Exército sudanês e as FRS trabalharam juntos em 2021 para expulsar os políticos civis que assumiram o governo deposto do presidente Omar al-Bashir, em 2019.
Mas em abril de 2023, começou uma guerra entre os militares e os combatantes das FRS depois de uma tentativa de integrar paramilitares ao Exército sudanês.
Em maio, o Exército do Sudão instalou um primeiro-ministro, Kamil Idris, que por sua vez começou a nomear ministros para o chamado “Governo Esperança”.
A formação do gabinete foi prejudicada por disputas entre líderes do Exército e grupos rebeldes.
O que cada lado controla no território do Sudão?
O Exército sudanês mantém o controle dos estados do norte e do leste do Sudão. No início deste ano, também reconquistou estados da região central e Cartum, atual capital do país. O comando do Exército promete se estabelecer oficialmente em Cartum.
Já as FRS (Forças de Apoio Rápido) tomaram a maior parte de Darfur, com exceção da cidade al-Fashir, onde os combates continuam, causando fome em massa.
Os paramilitares também se aliaram ao grupo rebelde SPLM-N, que controla áreas do estado de Kordofan do Sul, na fronteira com o Sudão do Sul. Os estados de Kordofan Ocidental e Kordofan do Norte, ricos em petróleo, também continuam sendo disputados.
Mais recentemente, as FRS assumiram o controle do “triângulo fronteiriço” ao norte, com a Líbia e o Egito, expandindo as fronteiras internacionais do território que controla.
Como os paramilitares formaram um governo?
Em fevereiro, as FRS formaram a coalizão “Tasis”, composta por várias facções políticas e grupos rebeldes sudaneses, com o objetivo de construir o que, segundo eles, seria um governo único para todo o Sudão.
Em maio, a coalizão paramilitar assinou uma constituição que estabelece um parlamento e um gabinete. Em julho, a coalizão anunciou a formação de um conselho presidencial liderado pelo chefe das FRS (Forças de Apoio Rápido), Mohamed Hamdan Dagalo.
O conselho também inclui governadores regionais e um primeiro-ministro, o ex-funcionário do governo Mohamed Hassan al-Taishi.

O que isso significa para o Sudão?
Analistas afirmam que a formação de governos paralelos pode levar a um impasse semelhante ao da Líbia ou a uma fragmentação ainda pior, à medida que outros grupos armados reivindicam seus próprios territórios e seguem o exemplo das FRS (Forças de Apoio Rápido).
Os dois governos também podem ter dificuldades para garantir a cooperação internacional necessária para reconstruir a economia e a infraestrutura destroçadas do Sudão.
Nenhum país até agora reconheceu o governo paralelo dos paramilitares, que a ONU e a União Africana condenam. Milícias também proliferaram em todo o território dominado pelos paramilitares e se tornam um problema, inclusive, para o controle das próprias FRS (Forças de Apoio Rápido).
As FRS (Forças de Apoio Rápido) mantêm a sede do governo na cidade de Nyala. A região enfrenta crescentes índices de criminalidade, incluindo sequestros, além de protestos de moradores. A cidade também tem sido alvo frequente de ataques aéreos e de drones do Exército sudanês.
A coalizão do Exército, que inclui antigos grupos rebeldes e milícias tribais, é igualmente frágil. E embora o Exército tenha reconhecimento internacional, com o apoio de potências regionais como o Egito, muitos países permanecem hesitantes em lidar com os militares por causa do golpe de 2021 e à influência de radicais islâmicos.
O chefe do Exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan, é alvo de sanções dos EUA.