Um funcionário do Departamento de Justiça deve investigar a governadora do Federal Reserve, Lisa Cook, depois que ela foi acusada por um membro do governo do presidente Donald Trump de cometer fraude hipotecária, de acordo com uma carta enviada na quinta-feira (21) ao chair do Fed, Jerome Powell.
A carta, vista pela CNN Internacional, foi escrita por Ed Martin, advogado do departamento responsável pela investigação de fraudes hipotecárias. Martin disse que a situação “requer uma análise mais aprofundada”.
Em documento datado de 15 de agosto, o diretor da Agência Federal de Financiamento Habitacional, Bill Pulte, afirmou que Cook reivindicou dois imóveis — uma casa em Michigan e um apartamento em Atlanta — como seus endereços residenciais principais.
Na quinta-feira, ele afirmou nas redes sociais que o governo está “investigando um terceiro imóvel de propriedade de Cook”.
Pulte, um aliado ativo de Trump, disse em entrevista à Bloomberg na quinta-feira que investigou Cook, então indicada pelo presidente Joe Biden, com base em uma denúncia. Ele acrescentou que sua agência utilizou um software de inteligência artificial da Palantir para rastrear potenciais fraudes hipotecárias.
Em sua carta, Martin também disse: “Eu os encorajo a remover a Sra. Cook do seu Conselho. Façam isso hoje, antes que seja tarde demais!”.
“Afinal, nenhum americano acha apropriado que ela sirva durante esse período com uma nuvem pairando sobre ela”, disse ele.
No entanto, apenas o presidente tem o poder de demitir um funcionário do Fed — e apenas por justa causa. Em resposta às acusações de Pulte, Cook se mostrou desafiadora, afirmando em um comunicado que “não tem intenção de ser pressionada a renunciar ao cargo por causa de algumas questões levantadas em um tuíte”.
Ela acrescentou que está “reunindo informações precisas para responder a quaisquer perguntas legítimas e fornecer os fatos”.
De acordo com documentos analisados pela CNN Internacional, a hipoteca de 2021 que Cook fez para comprar uma casa em Ann Arbor, Michigan, era de US$ 203.000 mais juros, e estipulava que ela deveria ocupá-la como sua “residência principal” dentro de 60 dias após a execução do empréstimo.
O Fed recusou o pedido de comentário da reportagem.
“Acredito que ela assinou esses documentos. É fraude hipotecária dizer que você mora em uma área e não em outra? Sim, é fraude hipotecária”, disse Pulte à Bloomberg. “Pessoas no poder, especialmente, têm a responsabilidade de ler documentos legais antes de assiná-los.”
Pulte afirmou que suas acusações não são políticas e que perseguiria qualquer pessoa suspeita de cometer fraude hipotecária, seja ela republicana ou democrata.
No entanto, o governo Trump tem se concentrado em investigar figuras públicas vistas como adversárias do presidente, como a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, e o senador Adam Schiff, da Califórnia.
E essas investigações, lideradas por Martin, foram conduzidas de forma inusitada. Em um vídeo divulgado anteriormente pela CNN Internacional, Martin foi visto posando para fotos do lado de fora da casa de James depois que ele enviou uma carta ao advogado dela, Abbe Lowell, instando-a a renunciar.
Assim como Pulte, Martin também é visto como um cão de ataque confiável para o governo Trump. Em entrevistas à imprensa, ele falou sobre investigar os inimigos de Trump, embora a política do Departamento de Justiça geralmente proíba a discussão pública de investigações criminais.
Desde o início de seu segundo mandato, Trump vem realizando uma intensa campanha de pressão contra o Fed, já que os banqueiros centrais não reduziram os custos dos empréstimos este ano. Os ataques de Trump têm se concentrado principalmente em Powell, mas agora o presidente está criticando Cook, indicada por Biden.
Não está claro se Trump e seus aliados irão, em última análise, prosseguir com a construção de um caso para demitir Cook por justa causa, o que inclinaria a composição do Fed a favor de Trump.
Se Cook fosse removida do conselho do Fed, restaria apenas dois governadores nomeados exclusivamente por um presidente democrata, de um total de sete cadeiras: Michael Barr e o vice-presidente do Fed, Philip Jefferson.
Stephen Miran, presidente do Conselho de Assessores Econômicos, foi indicado para preencher a vaga deixada pela ex-governadora do Fed, Adriana Kugler, após sua renúncia no início deste mês.
“O conselho do Fed é composto por sete governadores, um deles o presidente. Com uma maioria de quatro membros, o Conselho pode demitir presidentes regionais do Fed que desempenham um papel fundamental nas decisões sobre taxas de juros”, escreveu Jon Hilsenrath, consultor sênior da corretora StoneX, em um comunicado no LinkedIn na quinta-feira.
“Cada uma dessas cadeiras no conselho é muito importante para um presidente que deseja reformular o funcionamento do banco central e suas decisões. Livrar-se de Cook seria uma maneira de o presidente construir essa maioria de quatro pessoas”, acrescentou.
Com informações de Samantha Delouya, da CNN Internacional
Traduzido por João Nakamura