De cadeiras feitas de micélio de cogumelo e sofás de couro vegano a tecidos originados de algas marinhas, materiais inesperados têm, aos poucos, conquistado espaço em nossos lares.
Com a indústria sob pressão para se tornar mais sustentável, designers e fabricantes têm buscado alternativas inovadoras para criar produtos com um ciclo de vida circular (ou seja, móveis ou outros itens domésticos que podem ser reutilizados, compostos e, em última análise, não se tornam lixo).
O mercado global de produtos sustentáveis para casa deve atingir até €45 bilhões em 2030 (cerca de $51 bilhões), impulsionado por móveis e artigos domésticos de produção sustentável, contendo materiais sustentáveis, de acordo com a McKinsey & Company, uma empresa de consultoria de gestão.
Feitos de sobras
No início do ano, durante a Semana de Design de Milão — um evento global onde novos produtos são lançados e tendências são estabelecidas —, a circularidade e a inovação material surgiram como temas centrais.
A empresa de design Particle, com estúdios em Nova York e Los Angeles, estreou a coleção “Parts of a Whole” (“Partes de um Todo”), uma coleção de móveis de sala de jantar esculturais, inspirados na Bauhaus, feitos de tecidos reaproveitados e jeans, além de uma mesa com castiçais impressos em 3D e acessórios de borracha criados a partir de solas de tênis reaproveitadas.
Fundada em 2020 pelas arquitetas Krissy Harbert e Amanda Rawlings, a ideia para a Particle surgiu enquanto ambas trabalhavam em projetos de design internos na Nike, onde frequentemente faziam experimentos com resíduos industriais.
“Estávamos usando materiais excedentes — a Nike tem essa borracha Nike Grind que eles usam — e começamos a pensar em onde e como mais ela poderia ser aplicada”, disse Rawlings à CNN.
O trabalho delas com móveis reciclados – especialmente usando resíduos de tênis – ganhou maior atenção em 2023 com a cadeira e os bancos “I Got Your Back” (“Eu Te Apoio”), feitos inteiramente de calçados reciclados.
“Borrachas, plásticos, resíduos de calçados e tecidos reciclados possuem um potencial vastamente inexplorado. São materiais extremamente versáteis, o que abre espaço para muitas possibilidades criativas diferentes”, disse Rawlings.
“Krissy e eu estamos explorando como estender seu ciclo de vida — e fazendo isso através de artigos domésticos com os quais as pessoas realmente queiram viver.”
Davide Balda, um designer multidisciplinar com sede em Milão, compartilha de um sentimento semelhante. Durante o festival, ele apresentou “Telare la Materia”, um projeto em colaboração com o Grupo Benetton que transformou peças de vestuário não vendidas da linha Green B da United Colors of Benetton (projetada para minimizar o uso de produtos químicos em seus tecidos) em novas matérias-primas para arquitetura e design.
Uma proposta no projeto transforma argila e resíduos têxteis em azulejos e gesso naturais. Em outra, técnicas tradicionais de fabricação de feltro são usadas para criar um tecido durável e flexível feito de fibras sintéticas, animais e vegetais, para mobiliário doméstico.
“Telare la Materia é uma exploração de maneiras mais sustentáveis de reduzir a pegada ambiental da indústria têxtil e gerenciar o resíduo de produção localmente”, disse Balda à CNN.
“Em vez de exportar o excedente têxtil para países da África ou América do Sul — como é frequentemente o caso —, podemos reaproveitá-lo em algo significativo e duradouro.”

Para Balda, que se identifica como um “archeodesigner” — alguém cujo trabalho se concentra em encontrar e criar novos materiais sustentáveis, e dar um novo propósito aos descartados —, essa abordagem não é apenas uma escolha criativa, mas um imperativo moral.
“Não estou interessado em projetar apenas mais uma luminária bonita”, ele disse. “Os designers de hoje precisam desafiar sistemas, repensar materiais e oferecer soluções escaláveis e reais para problemas como o lixo.”
Enquanto isso, a The New Raw, um escritório com sede em Roterdã, revelou uma impressionante coleção de móveis para áreas externas feitos inteiramente de plástico reciclado, proveniente de fluxos de resíduos locais holandeses. As peças são impressas em 3D sob demanda.
“Estamos constantemente nos perguntando: o que significa fazer algo verdadeiramente duradouro em um mundo de descarte? E como podemos projetar objetos que não se tornem lixo?”, disse Foteini Setaki, uma das cofundadoras da empresa.
“Materiais como os que usamos — mas também biomateriais e outras alternativas emergentes — nos dão as ferramentas para começar a responder a essas perguntas. Eles não se tratam apenas de fazer as coisas de maneira diferente, mas de remodelar todo o ciclo de vida do design.”
Essa nova abordagem também precisa ser bonita. “A narrativa sustentável precisa caminhar lado a lado com a beleza”, ela disse. “É importante que as pessoas sejam (também) atraídas visualmente pelos nossos produtos, não apenas porque são confortáveis ou se alinham com seus valores.”
Materiais modestos, elevados
Algumas empresas de design têm explorado o potencial de materiais de origem vegetal. Escolhidos por sua natureza renovável, durabilidade e biodegradabilidade, eles podem ser alternativas atraentes a materiais tradicionais como madeira ou plástico.
O estúdio polonês Husarska revelou seu próprio conjunto de jantar feito de um novo material natural, criado em colaboração com a “The True Green”, que combina cânhamo e adesivos de origem vegetal. Apontado como uma alternativa sustentável à madeira, o cânhamo pode sequestrar de 15 a 25 toneladas de CO₂ por hectare anualmente — significativamente mais do que as florestas temperadas em um ano (elas sequestram em média de 2 a 5 toneladas).
O Rockwell Group, um escritório de arquitetura e design multidisciplinar fundado por David Rockwell, fez da humilde cortiça a estrela de sua exposição “Casa Cork” — um espaço criado quase inteiramente com o material, do interior aos móveis e luminárias.
A instalação apresentou trabalhos de um grupo diversificado de designers, estudantes e profissionais da área de hospitalidade, cada um explorando um uso criativo diferente para a cortiça. Em sua essência estava a missão da Cork Collective, uma iniciativa sem fins lucrativos cofundada pelo Rockwell Group que coleta, recicla e reaproveita rolhas de cortiça de restaurantes e hotéis em toda a cidade de Nova York.
“Não é um material chamativo que vira a cabeça… mas a cortiça está madura para a reinvenção”, explicou Rockwell por e-mail. “Com a Casa Cork, queríamos criar surpresa e deleite — transformando algo tido como garantido em objetos bonitos e funcionais.”
A cortiça absorve CO₂ e se regenera a cada nove anos, tornando-a inerentemente de baixo impacto. E com uma estimativa de 13 bilhões de rolhas de cortiça descartadas a cada ano, o material oferece uma vasta — e em grande parte inexplorada — oportunidade para a transformação circular.
Outros materiais modestos também estão ganhando uma segunda chance. “Enhance” — uma exposição com curadoria da plataforma de design italiana DesignWanted — desafiou as ideias convencionais sobre o que constitui um material de design “digno”, destacando inovações de materiais alinhadas com sete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) chave identificados pela Organização Mundial de Design.
A mostra apresentou uma impressionante variedade de objetos feitos de recursos negligenciados ou descartados — pense em conchas, madeira derrubada por tempestades e vidro não reciclado —, cada um reimaginado por designers em peças que eram tão visualmente atraentes quanto ambientalmente conscientes.
“Novos materiais estão abrindo diferentes maneiras do que significa projetar hoje”, disse o curador Juan Torres. “Eles refletem uma mentalidade que vê o design como uma ferramenta para a responsabilidade — especialmente para a próxima geração.”
Nada disso sinaliza uma revisão total da indústria, observou Torres, pelo menos não ainda. Muitas dessas soluções permanecem locais, em pequena escala e nos estágios iniciais de adoção. “Grandes marcas estão prestando atenção, mas ainda são lentas para agir”, ele disse. “A verdadeira mudança está vindo de baixo para cima.”
Mas, embora possa levar mais alguns anos para que se tornem totalmente convencionais, “a mudança está em curso”, disse Torres. “E está ganhando velocidade.”
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