A diabetes é uma condição crônica que afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo. A doença exige cuidados constantes com a alimentação, o uso de medicamentos e o controle da glicemia.
Também é de conhecimento comum que a diabetes aumenta o risco de doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Mas você sabe por que isso acontece?
Segundo o cardiologista Rafael Côrtes, do Hospital Sírio-Libanês e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), esse risco envolve uma série de fatores.
A glicose elevada no sangue de forma contínua desencadeia um processo inflamatório que compromete a saúde dos vasos. “A hiperglicemia crônica favorece a formação de produtos de glicação avançada, gera estresse oxidativo e prejudica o endotélio, a película que reveste os vasos”, explica.
Esses efeitos combinados aceleram o processo de aterosclerose, que é a formação de placas de gordura nas artérias. O médico compara a ação da glicose no organismo ao atrito de grãos de areia dentro de um cano novo.
“O açúcar no sangue age como uma ‘areia’ fina, arranhando as paredes internas. Esses microarranhões facilitam o acúmulo de gordura e, com o tempo, formam placas que podem obstruir o fluxo sanguíneo, principal causa de infarto e derrame”, esclarece.
Além da própria glicose elevada, a diabetes geralmente está acompanhada de outros fatores de risco. “É comum vir junto com pressão alta, colesterol alterado, excesso de peso e sedentarismo. É como se vários inimigos cercassem o coração ao mesmo tempo”, completa o especialista.
Por que é importante controlar o açúcar no sangue?
- O excesso de açúcar no sangue pode causar sintomas como cansaço, sede intensa e visão embaçada.
- Ficar com os níveis desregulados por muito tempo favorece o surgimento de problemas mais graves, como a diabetes.
- Na diabetes tipo 2, o corpo até produz insulina, mas as células passam a não responder bem ao hormônio, o que faz com que a glicose se acumule no sangue em vez de ser usada como fonte de energia.
- O alto índice de açúcar no sangue também pode aumentar o risco de complicações cardíacas, renais e oculares.
Tipo 1 e tipo 2 apresentam riscos diferentes
O risco cardiovascular não é o mesmo para todos os tipos de diabetes. No tipo 2, que responde pela maioria dos casos, a combinação de resistência à insulina, obesidade e outros fatores metabólicos aumenta de forma expressiva as chances de complicações cardíacas.
Já no tipo 1, embora o paciente nem sempre tenha essas condições associadas, o risco está relacionado ao tempo de exposição à glicose elevada, já que a doença costuma se manifestar ainda na infância.
“Mesmo com bom controle, estudos mostram risco residual maior, sobretudo em portadores de longa data”, afirma Côrtes. Ele acrescenta que, em ambos os tipos, a presença de hipertensão e alterações no colesterol potencializa o risco ao longo da vida.
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Sinais de alerta podem ser discretos
Os primeiros sintomas de que o coração pode estar sendo afetado nem sempre são claros. “Alguns sinais comuns são dor no peito, falta de ar, cansaço ao fazer esforço, palpitações e inchaço nas pernas”, diz o cardiologista Sidney Borges, que atua em São Paulo.
No entanto, em pessoas com diabetes, esses sinais podem ser mais sutis. “Às vezes é só um cansaço discreto, uma tontura ou uma dor leve no tórax que irradia para as costas. Chamamos isso de sintomas atípicos”, explica.
Por isso, mesmo que não haja sinais evidentes, o acompanhamento com cardiologista e a realização de exames periódicos são essenciais para detectar alterações precocemente.
A diabetes é uma doença que tem como principal característica o aumento dos níveis de açúcar no sangue. Grave e, durante boa parte do tempo, silenciosa, ela pode afetar vários órgãos do corpo, tais como: olhos, rins, nervos e coração, quando não tratada
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A diabetes surge devido ao aumento da glicose no sangue, que é chamado de hiperglicemia. Isso ocorre como consequência de defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas
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A função principal da insulina é promover a entrada de glicose nas células, de forma que elas aproveitem o açúcar para as atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação ocasiona o acúmulo de glicose no sangue, que em circulação no organismo vai danificando os outros órgãos do corpo
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Uma das principais causas da doença é a má alimentação. Dietas ruins baseadas em alimentos industrializados e açucarados, por exemplo, podem desencadear diabetes. Além disso, a falta de exercícios físicos também contribui para o mal
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A diabetes pode ser dividida em três principais tipos. A tipo 1, em que o pâncreas para de produzir insulina, é a tipagem menos comum e surge desde o nascimento. Os portadores do tipo 1 necessitam de injeções diárias de insulina para manter a glicose no sangue em valores normais
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Já a diabetes tipo 2 é considerada a mais comum da doença. Ocorre quando o paciente desenvolve resistência à insulina ou produz quantidade insuficiente do hormônio. O tratamento inclui atividades físicas regulares e controle da dieta
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A diabetes gestacional acomete grávidas que, em geral, apresentam histórico familiar da doença. A resistência à insulina ocorre especialmente a partir do segundo trimestre e pode causar complicações para o bebê, como má formação, prematuridade, problemas respiratórios, entre outros
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Além dessas, existem ainda outras formas de desenvolver a doença, apesar de raras. Algumas delas são: devido a doenças no pâncreas, defeito genético, por doenças endócrinas ou por uso de medicamento
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É comum também a utilização do termo pré-diabetes, que indica o aumento considerável de açúcar no sangue, mas não o suficiente para diagnosticar a doença
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Os sintomas da diabetes podem variar dependendo do tipo. No entanto, de forma geral, são: sede intensa, urina em excesso e coceira no corpo. Histórico familiar e obesidade são fatores de risco
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Alguns outros sinais também podem indicar a presença da doença, como saliências ósseas nos pés e insensibilidade na região, visão embaçada, presença frequente de micoses e infecções
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O diagnóstico é feito após exames de rotina, como o teste de glicemia em jejum, que mede a quantidade de glicose no sangue. Os valores de referência são: inferior a 99 mg/dL (normal), entre 100 a 125 mg/dL (pré-diabetes), acima de 126 mg/dL (Diabetes)
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Qualquer que seja o tipo da doença, o principal tratamento é controlar os níveis de glicose. Manter uma alimentação saudável e a prática regular de exercícios ajudam a manter o peso saudável e os índices glicêmicos e de colesterol sob controle
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Quando a diabetes não é tratada devidamente, os níveis de açúcar no sangue podem ficar elevados por muito tempo e causar sérios problemas ao paciente. Algumas das complicações geradas são surdez, neuropatia, doenças cardiovasculares, retinoplastia e até mesmo depressão
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Controle glicêmico ajuda a proteger o coração?
Manter a glicose sob controle é uma das formas mais eficazes de proteger o sistema cardiovascular. “Quanto mais estável a glicemia, menor o ‘ataque químico’ às paredes dos vasos”, afirma Côrtes. Isso vale tanto para as pequenas lesões que afetam olhos e rins quanto para as placas que entopem grandes artérias.
Um dos exames mais usados para avaliar o controle glicêmico é a hemoglobina glicada, que mostra a média da glicose nos últimos três meses. “Estudos mostram que, para cada queda de 1 ponto percentual na HbA1c, o risco de infarto baixa em torno de 15%”, afirma o cardiologista.
No entanto, ele reforça que o controle da glicemia deve vir acompanhado de outras estratégias. “O benefício cardiovascular é maior quando o controle glicêmico é combinado ao manejo agressivo de fatores como pressão arterial e perfil lipídico”, diz.
O que fazer para reduzir o risco?
Para quem convive com diabetes, a prevenção das complicações cardíacas exige um plano de cuidado completo. “É importante manter a glicemia controlada, cuidar da pressão e do colesterol, parar de fumar, praticar atividade física e seguir uma alimentação equilibrada”, Sidney.
O uso de medicamentos com benefício cardiovascular e o acompanhamento médico frequente também são fundamentais.
Além disso, ele destaca que a prevenção deve ser ajustada ao longo do tempo, conforme o perfil de risco de cada pessoa. O acompanhamento com cardiologista e endocrinologista faz parte do cuidado contínuo com a saúde de quem vive com diabetes.
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Fonte: Metrópoles