A dor começou em 2018, nas pernas, com a intensidade de um nervo comprimido. A enfermeira Danielle Staziaki, então com 31 anos, passou meses indo a médicos que não conseguiam explicar o que estava acontecendo. “Chegou o momento que eu não conseguia mais andar”, relembra.
O diagnóstico correto só veio após um exame específico: o HLA-B27, um teste genético que pode indicar predisposição à espondilite anquilosante, uma doença inflamatória autoimune que atinge principalmente as articulações da coluna e do quadril.
A enfermidade, silenciosa e progressiva, já havia causado a artrose grave do quadril de Danielle. “A artrose me tirou a possibilidade de ser uma mãe melhor para o meu filho, de ser uma melhor esposa para o meu marido”, conta emocionada.
A limitação era tão severa que ela não conseguia mais realizar tarefas básicas, como calçar uma meia ou cortar as unhas dos pés. “Durante sete anos, precisei ser cuidada”. afirma.
Espondilite anquilosante
- Sintomas iniciais: dor nas articulações (principalmente da coluna, quadril e ombros), rigidez matinal, fadiga intensa e dificuldade progressiva de mobilidade.
- Causas e diagnóstico: é uma doença autoimune com possível predisposição genética. O exame HLA-B27 ajuda a indicar risco, mas o diagnóstico é feito com base em exames de imagem e sintomas clínicos.
- Prejuízos emocionais: a dor contínua pode causar depressão, isolamento social e perda da autoestima, especialmente quando afeta a rotina familiar e profissional.
- Tratamento: inclui uso de imunobiológicos, fisioterapia, atividade física e, em casos graves de artrose, cirurgia de artroplastia total de quadril.
- Prognóstico: apesar de não ter cura, a espondilite pode ser controlada com tratamento adequado. O diagnóstico precoce é crucial para preservar a qualidade de vida.
Doença crônica prejudica o movimento
Segundo o ortopedista Isaías Chaves, responsável pela cirurgia de Danielle, a espondilite pode comprometer toda a mobilidade do paciente. “A doença ataca as articulações, principalmente da coluna e do quadril. A amplitude de movimento vai sendo bloqueada até que o quadril esteja praticamente rígido”, afirma.
Segundo Chaves, a consequência é a perda de funções simples. O paciente começa a mancar, sente dor, não consegue cruzar as pernas ou se sentar em locais baixos.
Com a degeneração avançada, o tratamento conservador já não era uma opção para Danielle. Ela precisou de uma prótese total de quadril. “Optamos por uma técnica com acesso anterior, que preserva a musculatura e oferece mais estabilidade para pacientes jovens, com menos risco de luxação”, explica o médico.
O resultado surpreendeu: em apenas oito dias a enfermeira já conseguia andar. “Hoje ela tem uma vida praticamente normal, malha, pedala, faz tudo”, considera o ortopedista.
Danielle voltou a sentir prazer em tarefas simples, como lavar os pés e dormir em qualquer posição. Mas o mais importante foi poder carregar novamente o filho no colo. “A primeira e melhor mudança foi essa”, diz.
Mãe de uma criança autista, ela afirma que o diagnóstico do filho deu forças para enfrentar os próprios problemas de saúde. “Meu filho precisava de mim e só isso importava”, diz.
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Mesmo com a artrose curada graças à prótese, a espondilite ainda exige vigilância. Danielle faz tratamento com imunobiológicos, acompanhamento trimestral com reumatologista, além de praticar exercícios físicos e seguir uma alimentação saudável.
“Ainda sinto dor, mas de forma mais controlada”, relata. Hoje, com 38 anos, ela encara a rotina com esperança e disciplina. “Resiliência. Não desista, vai passar”, aconselha.
Danielle já não conseguia andar por causa da artrose grave e precisou colocar prótese total de quadril
Danielle Staziak/ Imagem cedida ao Metrópoles
Danielle faz exercícios em um centro de treinamento especializado em reabilitação física
Danielle Staziaki/ Imagem cedida ao Metrópoles
O educador físico e terapeuta corporal Jânio Kafé, responsável pela reabilitação de Danielle, explica que o protocolo de recuperação foi elaborado a partir de uma avaliação funcional e testes específicos do pós-operatório. O trabalho combinou exercícios que visam a consciência corporal, o equilíbrio, a mobilidade, o alongamentos e o estímulo à memória corporal com movimentos como pular corda e engatinhar.
A respiração intercostal diafragmática também foi parte central da abordagem, integrando corpo e mente em uma reabilitação sistêmica. “Essa conexão entre cadeias musculares foi fundamental para o sucesso do processo”, afirma o especialista.
Segundo o médico de Danielle, o tratamento da espondilite anquilosante precisa ser multidisciplinar. “É uma doença que não tem cura, mas pode ser controlada com medicação, fisioterapia e atividade física. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar sequelas como as que a Dani teve”, diz Isaías Chaves.
Danielle tem seguido à risca as orientações e já retomou parte da vida ativa. Faz fisioterapia três vezes por semana, pedala diariamente e pratica muito alongamento. O mais simbólico, no entanto, é o retorno da alegria de viver: “Me olhar no espelho e me achar bonita de novo, andar sem mancar e viver sem dor não tem preço”, garante.
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Fonte: Metrópoles