O primeiro-ministro da Nova Zelândia, Christopher Luxon, disse nesta quarta-feira (13) que seu homólogo israelense, Benjamin Netanyahu, “perdeu a noção” e que a ocupação planejada de Israel na Cidade de Gaza é “totalmente inaceitável.”
Os comentários de Luxon surgem enquanto seu governo de coalizão conservadora avalia se deve se juntar a outros membros da aliança de segurança Five-Eyes — Austrália, Reino Unido e Canadá — no movimento para reconhecer um Estado palestino; e enquanto crescem a condenação internacional e a indignação sobre a recente decisão de Israel de expandir sua guerra para tomar o controle da Cidade de Gaza, o estrangulamento da ajuda e a fome em massa no território palestino.
Luxon, que lidera o Partido Nacional de direita, disse que Netanyahu “não está ouvindo” as demandas da comunidade internacional por ajuda humanitária “sem entraves” para Gaza.
“Acho que Netanyahu foi longe demais. Acho que ele perdeu a noção. E acho que o que estamos vendo durante a noite com o ataque à Cidade de Gaza é total e completamente inaceitável”, declarou o premiê, em alguns de seus comentários mais contundentes contra as ações de Israel em Gaza até o momento.
Israel continuou seus intensos ataques aéreos a Gaza esta semana e a planejada tomada militar da Cidade de Gaza por Netanyahu, que deve forçar até um milhão de pessoas a deixar o local, foi amplamente condenada.
“Dissemos que um deslocamento forçado de pessoas e uma anexação de Gaza seria uma violação do direito internacional”, falou Luxon.
Cenas caóticas continuam emergindo de Gaza, com violência e fome se aprofundando em meio ao rígido controle de Israel sobre a ajuda ao território.
Pelo menos 227 pessoas — incluindo 103 crianças — morreram de desnutrição desde o início da guerra, segundo o Ministério da Saúde palestino, ligado ao Hamas.
Ministros das Relações Exteriores de dezenas de países disseram conjuntamente na terça-feira (12) que o sofrimento atingiu “níveis inimagináveis” e que “a fome está se desenrolando diante de nossos olhos” enquanto exigem que Israel permita mais ajuda a Gaza e autorize organizações humanitárias a operar lá.
Críticas a Israel
Luxon não é o único líder ocidental a criticar abertamente o primeiro-ministro de Israel nos últimos dias. Na terça-feira, o líder australiano Anthony Albanese disse que conversou com Netanyahu, mas o encontrou “em negação” sobre o custo humano da guerra em Gaza.
“Ele (Netanyahu) reiterou novamente para mim o que também disse publicamente, que é estar em negação sobre as consequências que estão ocorrendo para pessoas inocentes”, disse Albanese à emissora pública australiana ABC.
No início desta semana, a Austrália anunciou que vai reconhecer o Estado palestino na reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro, deixando a Nova Zelândia como o único membro da aliança de segurança Five Eyes, exceto os Estados Unidos, a não se comprometer com isso.
O presidente francês Emmanuel Macron também disse que a França reconhecerá um Estado palestino em um anúncio à Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro.
“A necessidade urgente hoje é acabar com a guerra em Gaza e resgatar a população civil”, disse Macron em um comunicado em julho, reiterando apelos por um cessar-fogo imediato, acesso à ajuda humanitária para a população de Gaza, libertação de todos os reféns e desmilitarização do Hamas.
EUA apoiam Israel

Washington tem se encontrado cada vez mais em desacordo com importantes aliados ocidentais sobre Israel e como a guerra em Gaza está sendo conduzida. Tanto Israel quanto os EUA condenaram as medidas para reconhecer um Estado palestino.
Luxon anunciou na segunda-feira (11) que a Nova Zelândia considerará sua posição sobre o reconhecimento no próximo mês, provocando críticas ferozes em casa pelo que é considerado por alguns como falta de ação em relação a Israel.
A ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clark, que passou a liderar o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas após deixar a política doméstica, criticou duramente o governo de coalizão de Luxon na terça-feira (12) por não agir com rapidez suficiente.
“Agora realmente parecemos não defender nada, exceto, você sabe, de alguma forma querer salvar nossa própria pele em uma guerra tarifária”, disse ela à emissora pública neozelandesa RNZ na terça-feira. “Acho que é realmente uma posição bastante humilhante para a Nova Zelândia estar.”
Nesta quarta-feira (13), a co-líder do Partido Verde, Chlöe Swarbrick, foi expulsa do Parlamento por se recusar a se desculpar por comentários que fez sugerindo que os legisladores da coalizão criassem coragem e apoiassem um projeto de lei para sancionar Israel.
“Se encontrarmos seis dos 68 deputados do governo com coragem, podemos ficar do lado certo da história”, declarou Swarbrick na terça-feira.