A Rússia afirmou na quinta-feira (31) que tomou o controle total da cidade Chasiv Yar, no leste da Ucrânia, após quase 16 meses de combate, uma alegação que Kiev rejeitou como “propaganda”.
A seguir, estão os fatos principais sobre Chasiv Yar e a longa batalha pelo seu controle que começou em março/abril de 2024.
O que sabemos sobre Chasiv Yar
Com uma população de mais de 12.000 habitantes antes da guerra, Chasiv Yar (que significa “Ravina Tranquila”) está situada na região industrial do Donbas, na região de Donetsk, Ucrânia — uma das quatro regiões que Moscou alegou ter anexado em 2022, algo que Kiev classificou como uma apropriação ilegal de território.
Cortada por um canal, a economia da cidade antes da guerra girava em torno de uma fábrica que produzia produtos de concreto armado e argila usada em tijolos.
Localizada em terreno elevado, a Chasiv Yar já serviu como ponto de reagrupamento e base avançada de artilharia para o exército ucraniano.
Era considerada pelas forças russas um dos redutos mais bem defendidos da Ucrânia devido à sua geografia, posição elevada, terreno e às fábricas e blocos de apartamentos onde as forças ucranianas conseguiram se entrincheirar.
Por que a Rússia quer o controle desta cidade ucraniana?
A captura da cidade pela Rússia, se confirmada, avançaria o esforço constante de Moscou para cercar a “cidade-fortaleza” de Kostiantynivka, que está tentando envolver em um movimento de pinça, e remover o que se tornou um obstáculo para o avanço do exército russo para o oeste, pelo restante de Donetsk.
Analistas militares russos listam Sloviansk, Kramatorsk, Druzhkivka e Kostiantynivka como as “cidades-fortaleza” no leste da Ucrânia acessíveis a partir de Chasiv Yar, se as forças de Moscou conseguirem chegar lá, algo que Kiev está determinada a impedir.
Analistas russos afirmam que seu exército usará Chasiv Yar como base para atingir as forças ucranianas no norte de Donetsk com fogo de artilharia e drones, além de tentar dificultar as linhas de suprimento ucranianas na área. Mas manter o terreno e avançar para o norte não será fácil, disse o blogueiro de guerra Rybar.
Como está a batalha por Chasiv Yar?
Analistas militares de ambos os lados dizem que a batalha tem sido uma das mais longas da guerra e um dos confrontos mais desgastantes, com altas, mas não divulgadas, baixas em ambos os lados.
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou na quinta-feira que seus paraquedistas avançaram mais de 20 km sob fogo de artilharia e drones ucranianos na tentativa de tomar a cidade, e que haviam tomado mais de 4.200 edifícios e estruturas.
A Reuters não conseguiu confirmar essa afirmação.
A Ucrânia diz que sua resistência em Chasiv Yar demonstra como conseguiu retardar e causar pesadas baixas a uma força numericamente superior, inclusive com a ajuda de suas unidades de drones.
O que significa a tomada da cidade ucraniana pela Rússia?
Analistas ucranianos minimizaram a importância de Chasiv Yar e sugeriram que a captura da cidade pela Rússia seria uma vitória onerosa, dado o alto preço que Kiev fez Moscou pagar pela cidade e o tempo que conseguiu resistir às forças russas.
Alguns analistas russos dizem que a captura da cidade seria uma vitória tática, e não estratégica.
Sergei Markov, ex-conselheiro do Kremlin, afirmou que a batalha durou tanto tempo que Chasiv Yar perdeu sua importância estratégica.
“Mas a captura da cidade tem um significado simbólico: é assim que a guerra pode continuar por muitos anos – lentamente, lentamente, o exército russo avançará”, escreveu Markov no Telegram.
Como Chasiv Yar está agora?
A maior parte da cidade está em ruínas e pulverizada após bombardeios extensos, ataques aéreos e ataques com bombas planadoras e drones pelas forças russas.
A Ucrânia afirma que um ataque russo a prédios residenciais na cidade em 2022 matou pelo menos 43 pessoas. A Rússia diz que os mortos eram tropas ucranianas.
O prefeito da cidade saiu há muito tempo e a maioria dos moradores foi retirada do local, pois os serviços públicos — energia, gás e água — foram destruídos.
Apenas 304 moradores permaneciam na área em novembro do ano passado, abrigados em porões, segundo Serhii Chaus, chefe da administração militar ucraniana da cidade.
O exército russo disse na quinta-feira que suas forças haviam retirado 65 civis.