O paulistano Marco Antônio Nadalino, de 61 anos, tem uma trajetória de duas décadas de combate ao câncer de pele. Nesse período, o aposentado passou por 25 cirurgias para retirar lesões suspeitas, incluindo cinco confirmadas como carcinomas e três melanomas, o tipo mais agressivo de tumores de pele, capaz de causar metástases até fatais.
Um novo capítulo nesta jornada de idas e vindas da doença foi iniciado em junho deste ano, quando Marco descobriu um novo tumor, desta vez no olho. Por se tratar de uma região muito sensível, os médicos tentam tratamentos menos invasivos, para evitar a necessidade de remoção cirúrgica, mas o aposentado diz que não tem medo de recorrer a nenhuma alternativa para lidar com a doença.
“Não tenho o que temer. Com mais de 25 remoções, várias cirurgias, se tornou parte do meu tratamento ir acompanhando as manifestações da doença. É um cuidado que eu tenho para sempre e vida que segue”, afirma.
Como reduzir o risco de câncer de pele?
- A cada dez casos de melanoma, nove estão vinculados à exposição solar.
- Observar alterações incomuns na pele, como pintas novas ou mudanças em características existentes, também é importante.
- Sinais e manchas atípicas devem ser avaliados por profissionais de saúde.
- O Cancer Research UK recomenda três medidas essenciais para reduzir o risco de câncer de pele.
- Elas incluem: ficar na sombra em horários de maior incidência de raios UV (entre 11h e 15h); cobrir-se com roupas adequadas e usar óculos de sol e chapéus de abas largas; e aplicar protetor solar regularmente, com FPS 30, no mínimo.
O primeiro diagnóstico de câncer de pele
A jornada de Marco Antônio contra o câncer começou durante uma viagem à praia no início dos anos 2000. No segundo dia do passeio, ele passou a mão na lateral direita da cabeça e sentiu uma pequena bolha. Ao ver este sinal, a esposa dele notou que havia ali uma coloração estranha, diferente das demais pintas da região.
“O crescimento foi muito rápido desde o momento que a gente percebeu aquele sinal. Em dois dias, quando voltei a São Paulo, ela já estava muito maior, então estávamos suspeitando já de que podia ser algo grave. Quando a biópsia veio, o resultado foi justamente o de câncer de pele, um carcinoma de esfera inicial, não profunda. Foi assustador demais ouvir a palavra câncer. Ela é suficiente para causar medo e insegurança”, lembra o aposentado.
Desde esta primeira manifestação da doença, o cuidado contra o câncer de pele se tornou parte da vida de Marco Antônio. Ele passou a fazer um acompanhamento especializado, com consultas a cada seis meses ou um ano, além de um mapeamento das pintas para acompanhar eventuais aparecimentos de manchas perigosas.
Desde o ano 2000, Marco faz acompanhamentos com frequência para monitorar o câncer de pele
Ao longo desses 25 anos, já fez mais de 25 pequenas cirurgias para retirar manchas suspeitas e passou por mais de 160 exames de imagem. Em cinco dos procedimentos realizados, manchas suspeitas foram confirmadas como carcinomas, e em três casos como melanomas.
Apesar da grande quantidade de cirurgias, o aposentado não ficou com grandes cicatrizes ou com a mobilidade comprometida pelo tratamento. “Sempre me cuido para evitar ter algum dia um melanoma tão agressivo a ponto de perder minha mobilidade ou enfrentar uma deformação. Não podemos subestimar o câncer e muito menos os cuidados para evitá-lo”, defende.
Atualmente, o paciente enfrenta um tumor no olho esquerdo. O tratamento inicial do tumor ocular foi feito com um colírio de quimioterapia. Agora ele está no intervalo de espera, que dura 50 dias, para avaliar os efeitos.
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Por que tantos cânceres de pele recorrentes?
O câncer de pele é o mais frequente no Brasil. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que serão detectados 220 mil novos casos de tumores não melanoma em 2025, além de quase 9 mil casos de melanoma, considerado o subtipo mais agressivo. Quando descobertos cedo, ambos têm altas taxas de cura.
Entretanto, a recorrência da doença é alta. Relatórios internacionais, como o da National Comprehensive Cancer Network, mostram que 61% das pessoas diagnosticadas com carcinoma basocelular recebem um novo diagnóstico do mesmo tipo em até uma década. Em homens, esse risco é 160% maior do que em mulheres.
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O câncer de pele é o tipo de alteração cancerígena mais incidente no país, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). A enfermidade pode aparecer em qualquer parte do corpo e, quando identificada precocemente, apresenta boas chances de cura
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A exposição solar exagerada e desprotegida ao longo da vida, além dos episódios de queimadura solar, é o principal fator de risco do câncer de pele. Segundo o Inca, existem diversos tipos da doença, que geralmente são classificados como melanoma e não-melanoma
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Os casos de não-melanoma são mais frequentes e apresentam altos percentuais de cura. Além disso, esse é o tipo mais comum em pessoas com mais de 40 anos e de pele clara
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O melanoma, por sua vez, tem menos casos registrados e é mais grave, devido à possibilidade de se espalhar para outras partes do corpo. Por isso é importante fazer visitas periódicas ao dermatologista e questionar sobre sinais suspeitos
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Apesar de ser um problema de saúde que pode afetar qualquer pessoa, há perfis que são mais propensos ao desenvolvimento do câncer de pele, tais como: ter pele, cabelos e olhos claros, histórico familiar da doença, ser portador de múltiplas pintas pelo corpo, ser paciente imunossuprimido e/ou transplantado
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Segundo especialistas, é importante investigar sempre que um sinal ou pinta apresentar assimetria, borda áspera ou irregular, duas ou mais cores, ter diâmetro superior a seis milímetros, ou mudar de tamanho com o tempo. Todos esses indícios podem indicar a presença de um melanoma
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Os primeiros sinais de não-melanona tendem a ter aparência de um caroço, mancha ou ferida descolorida que não cicatriza e continua a crescer. Além disso, pode ter ainda aparência lisa e brilhante e/ou ser parecido com uma verruga
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O sinal pode causar coceira, crostas, erosões ou sangramento ao longo de semanas ou até mesmo anos. Na maioria dos casos, esse câncer é vermelho e firme e pode se tornar uma úlcera. As marcas são parecidas com cicatrizes e tendem a ser achatadas e escamosas
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O câncer de pele geralmente aparece em partes do corpo onde há maior exposição ao sol, estando muito associada à proteção inadequada com filtros solares
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De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, o não-melanona tende a ser completamente curado quando detectado precocemente. Ele raramente se desenvolve para outras partes do corpo, mas se não for identificado a tempo, pode ir para camadas mais profundas da pele, dificultando o tratamento
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O diagnóstico do câncer de pele é feito pelo dermatologista por meio de exame clínico. Em determinadas situações, pode ser necessária a realização do exame conhecido como “Dermatoscopia”, que consiste em usar um aparelho que permite visualizar camadas da pele não vistas a olho nu. Em situações mais específicas é necessário fazer a biópsia
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Segundo o Ministério da Saúde, “a cirurgia oncológica é o tratamento mais indicado para tratar o câncer de pele para a retirada da lesão, que, em estágios iniciais, pode ser realizada sem internação”
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Ainda segundo a pasta, “nos casos mais avançados, porém, o tratamento vai variar de acordo com a condição em que se encontra o tumor, podendo ser indicadas, além de cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia”
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Entre as recomendações para a prevenção do câncer de pele estão: evitar exposição ao sol, utilizar óculos de sol com proteção UV, bem como sombrinhas, guarda-sol, chapéus de abas largas e roupas que protegem o corpo. Além, é claro, do uso diário de filtro solar com fator de proteção solar (FPS) 15 ou mais
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Segundo o cirurgião oncológico Matheus Lobo, coordenador da Comissão de Neoplasias da Pele da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), a recorrência de tumores na pele é mais comum diante de alguns cenários. São eles:
- Tamanho e localização do tumor: tumores maiores que 2 cm no tronco ou braços e pernas têm alto risco. “Além disso, qualquer lesão em áreas mais delicadas, como cabeça, pescoço, mãos, pés, canela ou região ano-genital, é vista como de maior risco”, explica o médico.
- Aspecto da lesão: quando o tumor tem bordas mal definidas, há uma dificuldade em fazer a sua retirada completa.
- Subtipos mais graves: tumores na pele de formato basoescamoso, morfeiforme ou micronodular também têm maior risco de reaparecerem.
- Condições do paciente: pessoas com o sistema imunológico enfraquecido (imunossuprimidas) ou que já passaram por radioterapia na mesma região estão mais vulneráveis.
- Invasão específica: quando o tumor invade nervos próximos (invasão perineural), o comportamento tende a ser mais agressivo.
Marco Antônio reconhece o desafio, mas leva a experiência de vida como um grande aprendizado, reforçando também as estratégias de prevenção. “Fiquei mais cuidadoso ao me expor ao sol, passei a utilizar protetor facial, solar e óculos escuros”, conclui ele.
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Fonte: Metrópoles