Capital para o clima é motor para o desenvolvimento, diz CEO Bradesco

Um dos maiores bancos privados do país, Bradesco, tem direcionado capital para projetos sustentáveis, um movimento que o CEO Marcelo Noronha define como uma estratégia de desenvolvimento para o Brasil. 

Em entrevista à CNN, ele aborda o papel do setor financeiro na mobilização de recursos, destacando como o banco busca gerar confiança e conectar a inovação a um retorno econômico.

 

O que o senhor e o Bradesco esperam como legado da COP30 para o país? 

A expectativa é que a COP30 vá além de um encontro diplomático e se consolide como um marco de transformação social e econômica para o Brasil. Sediar o evento em Belém, no coração da Amazônia, coloca o país em posição estratégica para demonstrar, de forma concreta, seu compromisso com a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. Mais do que uma vitrine internacional, trata-se de uma oportunidade histórica para engajar a sociedade, valorizar a bioeconomia, e consolidar o protagonismo brasileiro na agenda climática global. Se bem aproveitada, a COP30 pode deixar um legado duradouro: mais conscientização coletiva sobre o papel do Brasil como potência ambiental e mais articulação entre os setores público e privado para tornar essa agenda viável e escalável.

 

Na sua visão, como a iniciativa privada brasileira – em especial o setor financeiro – pode ajudar a acelerar o combate às mudanças climáticas no país?

A iniciativa privada tem um papel fundamental na transição climática ao influenciar cadeias produtivas, impulsionar a inovação e acelerar a adoção de práticas sustentáveis. No caso do setor financeiro, essa contribuição se dá principalmente pela capacidade de redirecionar capital para atividades de baixo carbono e integrar critérios ESG às decisões de negócio. Isso amplia o impacto positivo e ajuda a transformar a sustentabilidade em vetor de desenvolvimento.

 

Por que o financiamento climático se tornou um tema central na agenda global e qual o papel do Brasil nesse contexto?

A crise climática não é mais uma preocupação distante. Seus efeitos já impactam diretamente a economia brasileira — das cadeias produtivas à infraestrutura, da segurança hídrica à vida de milhões de pessoas. Estudos recentes indicam que, sem ação urgente, o Brasil pode perder até 18% do seu PIB até 2050 em decorrência dos impactos das mudanças climáticas — uma das maiores perdas projetadas globalmente. Esse dado é um alerta claro: redirecionar capital para soluções de mitigação e adaptação não é apenas uma pauta ambiental, mas uma estratégia de desenvolvimento, de estabilidade econômica e de competitividade de longo prazo. O Brasil ocupa uma posição privilegiada nesse cenário. Somos uma potência ambiental, com uma das maiores biodiversidades do planeta e uma matriz energética majoritariamente renovável. Além disso, temos escala, capacidade produtiva e influência internacional para liderar a transição para uma economia de baixo carbono. Isso nos coloca em vantagem para atrair investimentos verdes e impulsionar soluções sustentáveis com impacto global. O setor financeiro tem um papel decisivo nessa transformação. Cabe a nós mobilizar recursos, gerar confiança e conectar inovação com retorno econômico. No Bradesco, temos clareza desse compromisso. Estamos desenvolvendo produtos financeiros verdes, apoiando setores-chave na transição e contribuindo para uma economia mais resiliente, inclusiva e preparada para o futuro. O desafio é grande, mas a oportunidade é ainda maior. E o Brasil pode — e deve — liderar esse novo capítulo da economia global.

 

Como o banco tem atuado para financiar projetos sustentáveis e de impacto climático positivo?

Temos trabalhado para que a sustentabilidade esteja cada vez mais integrada à nossa estratégia de negócio – o que, entre outras coisas, significa direcionar capital para setores com alto potencial de impacto positivo. Isso inclui energia renovável, infraestrutura verde, transportes e agricultura de baixo carbono. Nossa jornada climática não começou agora – ela reflete um compromisso de longo prazo com a gestão das emissões, dentro e fora do banco. Fomos pioneiros na mensuração e compensação de emissões de carbono das nossas operações. Desde 2007, neutralizamos 100% das emissões dos escopos 1 e 2. A partir de 2019, passamos a neutralizar também o escopo 3 e, desde 2020, utilizamos exclusivamente energia renovável em nossas operações. Fomos o primeiro banco brasileiro a integrar a Net Zero Banking Alliance, com o compromisso de zerar as emissões da nossa carteira de crédito e investimentos até 2050. Embora a aliança esteja passando por mudanças em sua estrutura, nosso compromisso com a agenda climática permanece firme. Também buscamos fortalecer o uso das metodologias reconhecidas para monitorar emissões financiadas e ampliar o apoio a projetos com métricas claras e escalabilidade. O foco é agir desde já – apoiando nossos clientes em suas próprias jornadas de transição, com financiamento, orientação sobre riscos e oportunidades climáticas e soluções adequadas às suas necessidades. Fomos o maior repassador do Fundo Clima em 2024 e seguimos ampliando nossa capacidade de mobilizar recursos para financiar a transição. Já direcionamos mais de R$320 bilhões para negócios sustentáveis desde 2021 e estamos comprometidos em atingir R$350 bilhões até dezembro deste ano.

 

Na sua visão, quais são os instrumentos financeiros mais promissores para impulsionar essa transição?

O avanço da agenda de finanças sustentáveis tem ampliado significativamente o leque de soluções disponíveis para viabilizar a transição para uma economia de baixo carbono. Entre as mais eficazes, destacam-se os títulos sustentáveis, as estruturas de blended finance — que combinam recursos públicos e privados — e os mecanismos de proteção cambial, como o Eco Invest. Essas ferramentas são essenciais para destravar capital e viabilizar projetos com impacto ambiental e social positivo. No campo dos títulos, observamos uma evolução importante: hoje contamos com formatos ambientais, sociais e vinculados a metas de sustentabilidade, todos com foco em resultados mensuráveis. O blended finance, por sua vez, tem se mostrado decisivo para reduzir riscos e atrair investimentos em setores mais desafiadores, como infraestrutura resiliente e agricultura de baixo carbono. Já os instrumentos de proteção cambial são fundamentais para ampliar a participação do capital estrangeiro, especialmente em mercados emergentes como o Brasil. Essas soluções não apenas rompem barreiras históricas de financiamento, como também ampliam o apetite dos investidores e fomentam a inovação financeira. Os bancos têm um papel central nesse processo: somos pontes entre bons projetos e o capital que deseja financiar um futuro mais sustentável. Para continuarmos avançando, é imprescindível fortalecer os instrumentos que atraem investimentos internacionais. A transição climática exigirá aportes massivos em infraestrutura verde, energia limpa, transporte sustentável, agricultura regenerativa e tecnologias de baixo carbono. Estimativas indicam que os países em desenvolvimento precisarão de cerca de US$1,3 trilhão por ano até 2035 para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. Nós, como setor financeiro, temos a responsabilidade — e a oportunidade — de liderar essa transformação.

 

O que torna o Brasil especialmente bem-posicionado para liderar a transição para uma economia de baixo carbono?

O Brasil reúne um conjunto único de vantagens competitivas que o colocam entre os países mais preparados para liderar a transição global para uma economia de baixo carbono. Hoje, cerca de 90% da matriz elétrica brasileira é composta por fontes renováveis, como hidrelétricas, energia solar e eólica. Isso nos dá uma base sólida para avançar em soluções energéticas limpas e inovadoras. Além disso, o Brasil possui riquezas naturais essenciais para a nova economia verde. Temos a chance não apenas de exportar matérias-primas, mas de desenvolver cadeias produtivas completas, agregando valor e gerando empregos qualificados. Nosso país também se destaca no agronegócio sustentável, com potencial para ampliar práticas de baixo carbono, como a integração lavoura-pecuária-floresta e o uso de bioinsumos. E, com uma das maiores biodiversidades do planeta, temos um papel central na conservação de ativos ambientais estratégicos para o equilíbrio climático global. Se conseguirmos atrair capital e estruturar projetos com boa governança e escala, podemos transformar essas vantagens em liderança econômica. O avanço de instrumentos como títulos verdes, parcerias público-privadas e fundos climáticos é parte desse caminho. Essa transição exige investimentos, mas também pode gerar crescimento, impulsionar cadeias produtivas e abrir novas oportunidades para quem se posicionar desde já. Enxergamos essas vantagens como alavancas de desenvolvimento. Estamos comprometidos em mobilizar capital, apoiar a inovação e financiar os setores que vão liderar essa transformação. A transição ecológica é mais do que uma responsabilidade — é uma oportunidade histórica para reposicionar o Brasil como protagonista de uma nova economia global.

 

Apesar dessas vantagens, quais são os principais desafios que o Brasil ainda precisa superar para consolidar esse protagonismo?

Mesmo com condições únicas para liderar a transição climática, o Brasil ainda tem obstáculos importantes. É preciso ampliar a infraestrutura sustentável, garantir maior previsibilidade regulatória e desenvolver instrumentos capazes de atrair capital de longo prazo. Também é fundamental avançar na geração de dados confiáveis e capacitação técnica, tanto no setor público quanto no privado, para que os projetos sejam bem estruturados e os recursos, aplicados com eficiência. O setor financeiro pode ser um agente relevante nesse processo, apoiando estruturar projetos com governança sólida e métricas de impacto claras e capacidade de escalar. No fundo, esses desafios representam uma oportunidade: a de articular setor público, privado e sociedade civil para criar um ambiente mais favorável à mobilização de recursos e ao avanço de soluções sustentáveis.

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