A poucos meses do início da COP30, em Belém, o Brasil ganha um vasto registro fotográfico da região costeira que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, uma área de enorme importância ambiental. “Eu estava imaginando que seria para, no futuro, daqui a 200 anos, as pessoas poderem olhar como era a costa brasileira. De repente, virou uma questão muito urgente, quase jornalística, digamos assim“.
A constatação é de João Farkas, autor do livro “Costa Norte”, da Edições Sesc, que traz 200 imagens selecionadas entre as mais de 20 mil que o fotógrafo produziu ao longo de quatro anos e sete expedições.
Desde a super turística região dos Lençóis Maranhenses à costa quase inexplorada do Amapá, o fotógrafo percorreu mais 2.200 quilômetros para fazer um registro no tempo. “Infelizmente, no Brasil a história anda muito rápido. O Pantanal que eu fotografei não existe mais. As cheias não são tão cheias, as secas são muito mais secas, os rios estão assoreados”, afirma o filho do renomado fotógrafo Thomaz Farkas (1924-2011), referindo-se a seu trabalho anterior no bioma do Centro-Oeste.
“Essa região (da Costa Norte), se a gente bobear, vai passar exatamente pelo mesmo processo. Antigamente, a natureza se impunha. Agora, não. Agora a gente tem tecnologia para derrubar floresta, para ocupar praia”, diz. “A gente como sociedade está muito mais equipado para ocupar do que para cuidar. E isso é muito triste.”
Turismo pode ser aliado
O fotógrafo, no entanto, acredita que ocupar uma região não necessariamente é só negativo. “Existem ocupações turísticas muito cuidadosas, lugares em que o turismo foi estruturado, planejado. Então, existem bolsões em que o turismo é positivo”, diz. Por outro lado, o fotógrafo diz que a desorganização do Estado brasileiro aliada a um imediatismo pela riqueza tem um potencial destruidor.
“Nós estamos destruindo o capital natural de um país que talvez tenha o maior capital natural do mundo. Estamos jogando fora por três tostões, loteando, sujando, poluindo e destruindo”, afirma. “Do ponto de vista econômico, não tem o menor sentido. O desenvolvimento a qualquer custo é míope, porque obviamente nós estamos ajudando as mudanças climáticas, e não nos preparando para elas.”
Por isso, a ideia do livro é também ser uma espécie de alerta. “Uma das missões que a gente tem como fotógrafo no Brasil é fazer esse registro por dois motivos. Primeiro, porque a gente preserva pelo menos a memória. E, segundo, que isso sirva de, alguma forma, como alerta, como inspiração e como atração de atenção e de cuidado em uma região que é absolutamente maravilhosa e preciosíssima. É a maior extensão de manguezais do mundo, os manguezais, são a vida dos oceanos“, afirma o fotógrafo.
COP na Amazônia
Como ser otimista, então, diante de tudo que ele vê? “Se a gente entrar em um pessimismo, a gente mergulha e não faz mais nada. Eu fui buscar um otimismo por falta de opção”, diz Farkas. O fotógrafo acredita que com a COP30, a visão deve ser a mesma. “Tem dificuldade de infraestrutura, mas é corajoso. Acho que o Brasil foi premiado com um momento difícil da humanidade, mas a gente tem que acreditar que isso pode melhorar um pouco a visão da Amazônia e a maneira como nós vamos trabalhar com ela”, finaliza.