Um estudo revelou que mudanças na dieta podem tornar o glioblastoma, tipo de câncer cerebral extremamente agressivo, mais vulnerável aos tratamentos tradicionais. A pesquisa foi publicada na revista Nature em 3 de setembro.
Os pesquisadores investigaram como esses tumores utilizam a glicose de forma diferente em relação ao tecido cerebral saudável. Enquanto o córtex normal aproveita o açúcar para funções essenciais do cérebro, como a produção de neurotransmissores e energia, o tumor desvia esse recurso para fabricar nucleotídeos, moléculas fundamentais para multiplicação celular e crescimento tumoral.
Leia também
-
Ex-jogador da NBA Jason Collins é diagnosticado com tumor cerebral
-
Com dor de cabeça frequente, mulher descobre tumor cerebral de 15 anos
-
Mulher descobre tumor cerebral após alerta de smartwatch. Entenda
-
Tumor cerebral: veja 4 sinais que o corpo dá e você não deve ignorar
Além da glicose, os cientistas observaram que o glioblastoma depende fortemente de aminoácidos, em especial a serina, que o tumor retira do ambiente externo. Já o cérebro saudável tem maior capacidade de produzir essa substância internamente a partir da glicose. Essa diferença abriu espaço para testar uma estratégia experimental em modelos animais: uma dieta restrita em serina.
A serina é conhecida pelo impacto no sistema imunológico e, coincidentemente, na saúde cognitiva. Ela está presente em carne vermelha, alguns laticínios, grãos e vegetais.
Sintomas mais comuns de tumores cerebrais
- Dores de cabeça.
- Alterações na visão.
- Convulsões.
- Problemas de equilíbrio.
- Mudanças de humor e personalidade.
- Dificuldades na fala e memória.
Nos camundongos que receberam a dieta, os níveis de aminoácidos caíram e o crescimento tumoral diminuiu, sem afetar de forma significativa o tecido cerebral normal. A restrição levou a uma queda na produção de nucleotídeos, enfraqueceu a divisão celular e aumentou a sobrevida dos animais.
Quando associada aos tratamentos convencionais de quimioterapia e radioterapia, a estratégia mostrou efeito ainda mais potente, com tumores menores e resposta terapêutica mais eficaz. Os resultados, porém, ainda são iniciais e limitados a experimentos com animais.
Segundo os autores, será necessário avançar para testes clínicos antes de considerar qualquer aplicação em pacientes. Também é preciso avaliar a segurança de dietas restritivas, já que a ausência de aminoácidos pode comprometer a saúde geral e nem todos os tumores apresentam a mesma dependência da serina externa.
11 imagens
Fechar modal.
1 de 11
Tumor cerebral é o termo utilizado para descrever o crescimento acelerado de células que sofreram mutações no cérebro, ou nas meninges, e que passaram a se comportar de forma errada podendo, por exemplo, causar a formação de uma massa celular
Getty Images2 de 11
Os tumores cerebrais podem ser benignos ou malignos. Além disso, dependendo do quanto cresçam, são capazes de destruir o tecido cerebral saudável e comprimir o restante do cérebro
Getty Images3 de 11
Quando maligno, o paciente passa a ser diagnosticado com câncer cerebral, que, por sua vez, costuma ser mais letal devido ao diagnóstico tardio. Geralmente, o paciente não desconfia dos sintomas iniciais e procura o médico quando a doença já progrediu
Getty Images4 de 11
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa anual é de 11.090 casos de câncer no cérebro entre a população brasileira. A doença afeta, na mesma proporção, homens e mulheres
Getty Images5 de 11
De acordo com especialistas, tumores benignos e malignos causam sintomas semelhantes. Os malignos, entretanto, têm maior chance de se desenvolverem rapidamente, provocando maior frequência de dores, convulsões e alterações neurológicas
Getty Images6 de 11
Entre os principais sinais que o corpo dá quando há um tumor no cérebro está a dor de cabeça frequente. Pessoas com a enfermidade e que não costumam ter dores de cabeça podem começar a apresentar o problema de maneira recorrente. Quem já apresenta histórico deste tipo de queixa percebe piora na intensidade e aumento nas ocorrências
Getty Images7 de 11
A presença de um tumor cerebral também causa alteração nos cinco sentidos – tato, olfato, paladar, visão e audição. Mudanças na fala ou na capacidade intelectual, como compreensão, raciocínio, escrita, cálculo e reconhecimento de pessoas são sintomas que precisam ser investigados
Getty Images8 de 11
Além disso, perda visual, manchas ou visão embaçada, crises epiléticas, convulsões ou perda de equilíbrio também podem ser causadas por tumores no cérebro ou em outras partes do sistema nervoso
Getty Images9 de 11
As causas de tumores no cérebro ainda não estão definidas. Por enquanto, a doença é considerada multifatorial, ou seja, causada por um somatório de várias alterações genéticas
Getty Images10 de 11
Algumas dessas alterações são adquiridas durante a vida, por predisposição ou por exposição. Outras são hereditárias e estão presentes em algumas síndromes familiares associadas a problemas no sistema nervoso central
Getty Images11 de 11
O tratamento da doença dependerá da localização e do avanço do tumor. Na maioria dos casos, no entanto, quimioterapias, radioterapias, terapia-alvo e procedimentos cirúrgicos são indicados
Getty Images
Mesmo com essas ressalvas, o estudo abre uma nova linha de pesquisa: explorar vulnerabilidades metabólicas do glioblastoma por meio da dieta, de forma complementar às terapias já utilizadas. Para os cientistas, compreender como o câncer reprograma o metabolismo pode ajudar a encontrar formas de enfraquecê-lo e oferecer novas possibilidades de tratamento no futuro.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!
Fonte: Metrópoles