A Cisjordânia, território no centro do conflito israelense-palestino, é dividida em três zonas administrativas — A, B e C — segundo os Acordos de Oslo, assinados na década de 1990.
O tratado faz parte de um acordo temporário que visava transferir gradualmente o controle o território para a Autoridade Palestina.
Inicialmente, o acordo foi concebido para durar cinco anos, durante os quais se esperava que as negociações sobre o status final resolvessem o conflito israelense-palestino mais amplo. Nenhuma resolução final foi alcançada, o que mantém as divisões iniciais. Críticos dizem que o acordo consolidou o controle israelense e fragmentou a governança palestina.
As divisões permanecem em vigor décadas depois, moldando a governança cotidiana, a segurança e o uso da terra na região.
Área A
A Área A abrange cerca de 18% da Cisjordânia e inclui a maioria das cidades palestinas, como Ramallah, Nablus, Belém e Jenin. Essas áreas estão sob controle total da Autoridade Palestina (AP). A AP gerencia tanto a administração civil, como educação e saúde, quanto a segurança interna.
A Área A é habitada predominantemente por palestinos, sem assentamentos israelenses. Apesar desse acordo, as forças israelenses frequentemente conduzem operações militares na Área A, alegando necessidades de segurança, o que levou a tensões com a AP.
Área B
A Área B representa aproximadamente 22% da Cisjordânia e compreende cidades menores, vilas e áreas rurais. É governada por um sistema de controle duplo.
A Autoridade Palestina supervisiona assuntos civis, incluindo serviços públicos e infraestrutura. Israel mantém o controle da segurança, enquanto a AP cuida do policiamento local.
A autoridade compartilhada na Área B muitas vezes cria desafios administrativos para os moradores, com responsabilidades sobrepostas levando a atrasos e disputas.
Área C
A Área C constitui cerca de 60% da Cisjordânia e está sob controle israelense total, tanto para administração civil quanto para segurança. Inclui quase todos os assentamentos israelenses e a maior parte dos recursos naturais da região.
Aproximadamente 490 mil colonos israelenses vivem na Área C, ao lado de uma população palestina menor. Os palestinos enfrentam limitações severas em construções e desenvolvimento, exigindo licenças das autoridades israelenses.
A Área C contém grande parte das terras agrícolas e dos recursos hídricos da Cisjordânia, tornando-se um ponto focal de disputas.
Israel considera o controle da Área C essencial para a segurança, enquanto palestinos e grupos de direitos humanos argumentam que as restrições ali prejudicam os meios de subsistência e o desenvolvimento econômico dos palestinos.
Duas populações
A Cisjordânia, incluindo a Cidade Velha de Jerusalém, fez parte do Mandato Britânico da Palestina até 1948, quando foi ocupada pela Transjordânia durante uma guerra entre o recém-declarado Estado de Israel e países árabes.
Israel capturou o território durante outra guerra árabe-israelense em 1967 e o anexou Jerusalém — uma medida que nunca ganhou reconhecimento internacional.
Em 1994, a Autoridade Palestina foi estabelecida por meio de acordos de paz provisórios, garantindo aos palestinos autogoverno limitado enquanto Israel continuava a ocupar a Cisjordânia.
Sem incluir as áreas israelenses de Jerusalém Oriental, a Cisjordânia abriga cerca de 3 milhões de palestinos. Cerca de um terço deles são refugiados, pois eles ou seus ancestrais foram forçados a fugir de suas casas na guerra de 1948.
O número de colonos judeus aumentou para cerca de 529.450, de acordo com o relatório Estatísticas da População Judaica da Cisjordânia, vivendo em aproximadamente 141 assentamentos sancionados pelo governo e 224 postos avançados que não têm aprovação oficial, diz o grupo de vigilância Peace Now.
Visões conflituosas
A Cisjordânia é central para as aspirações palestinas por um Estado que incluísse a Faixa de Gaza e tivesse Jerusalém Oriental como capital. Mas o processo de paz se alonga há muito tempo.
Para Israel, a Cisjordânia é de importância estratégica e religiosa. É conhecida em Israel como Judeia e Samaria e abriga muitos sítios bíblicos — um fator que atraiu colonos.
Em 2019, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou planos para anexar partes da Cisjordânia. Mas Israel suspendeu tais medidas em virtude de um acordo de 2020 que normalizou os laços com os Emirados Árabes Unidos. Palestinos dizem que os assentamentos judaicos prejudicam a solução de dois Estados.
Confrontos
A Cisjordânia foi palco da primeira revolta palestina, ou Intifada, que eclodiu em 1987 e foi marcada por confrontos entre palestinos que atiravam pedras e soldados israelenses. Foi também campo de batalha de uma segunda Intifada, que começou em 2000 e se transformou em conflito armado.
Israel começou a construir altos muros de concreto isolando partes da Cisjordânia em 2002, alegando que o objetivo era impedir atentados suicidas. Para os palestinos, a barreira – a maior parte localizada na Cisjordânia – equivale a uma apropriação de terras.
A violência entre colonos judeus e palestinos tem se destacado na fase mais recente do conflito. Os ataques de colonos contra palestinos têm aumentado.
Visão Internacional
A maioria dos países considera a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, como território ocupado.
Uma resolução do Conselho de Segurança de 2016 reafirmou que o estabelecimento de assentamentos israelenses em territórios palestinos ocupados desde 1967 constitui “uma violação flagrante do direito internacional e um grande obstáculo para alcançar a solução de dois Estados”.
Por toda a Cisjordânia ocupada, postos de controle de concreto, muros de separação e soldados são lembretes do fracasso na construção da paz entre israelenses e palestinos desde que os históricos Acordos de Oslo foram assinados há mais de 30 anos.
O acordo, concebido como uma medida temporária para gerar confiança e criar espaço para um acordo de paz permanente, há muito tempo está congelado em um sistema de gerenciamento de conflitos sem fim aparente à vista.
Com a Cisjordânia em crise, poucos de ambos os lados acreditam que haja alguma perspectiva realista de uma solução de dois Estados, com uma Palestina independente existindo lado a lado com Israel.
A assinatura dos acordos trouxe um breve período de otimismo, simbolizado pela imagem do líder palestino Yasser Arafat e do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, sob o olhar atento do presidente americano Bill Clinton, apertando as mãos no gramado da Casa Branca.
Rabin foi assassinado por um israelense de direita em 1995, enquanto Arafat morreu em 2004.
Para Yossi Beilin, ex-ministro da Justiça e negociador israelense, o fracasso dos acordos em trazer paz ocorreu porque sucessivos governos israelenses preferiram transformar o que era originalmente uma trégua temporária em um status quo permanente.
Mas, embora vários no lado do governo israelense tenham falado abertamente sobre anexar a Cisjordânia completamente, as dificuldades práticas de tal movimento se mostraram proibitivas.
Palestinos e diversas organizações internacionais de direitos humanos já acusam Israel de operar um sistema de apartheid na Cisjordânia.
A violência na Cisjordânia aumentou desde o início da guerra em Gaza. Centenas de palestinos foram mortos, muitos deles homens armados, mas também jovens que atiravam pedras ou civis não envolvidos, e milhares foram presos pelas forças israelenses.