Em meio ao recente anúncio de desembarque do União Brasil e PP da base governista, Lula adota uma estratégia calculada ao manter ministros dessas legendas em seus cargos, mirando especialmente o fortalecimento de alianças com parlamentares do Nordeste. A apuração é do analista de Política Pedro Venceslau para o CNN Arena.
O aparente desembarque dos partidos mostra-se mais simbólico do que efetivo, já que foi estabelecido um prazo de 30 dias para a saída dos ministros com mandatos eletivos. Além disso, a maioria das indicações desses partidos permanecerá em seus postos, como o ministro das Comunicações, Waldez Góes, e o presidente da Caixa, Carlos Vieira.
A manutenção dos ministros André Fufuca, do Esporte, e Celso Sabino, do Turismo, revela um cálculo político mais amplo. Ambos têm interesse em permanecer nos cargos visando suas candidaturas em 2024. Sabino almeja uma vaga no Senado pelo Pará, enquanto Fufuca comanda uma pasta estratégica com ampla capilaridade.
A movimentação de Lula indica um olhar específico para o chamado “Centrão nordestino”. A região, onde o PT tradicionalmente obtém expressiva votação, pode render aproximadamente 30 parlamentares da federação União Brasil e Progressistas votando sistematicamente com o governo.
Casos emblemáticos dessa estratégia incluem o deputado Damião, vice-líder do governo e é do União Brasil, que permanecerá no cargo. Já Silvio Costa Filho, do Republicanos, ministro de Portos e Aeroportos, deve ser candidato a senador em Pernambuco, na chapa de João Campos, que deve disputar o governo do estado, sinalizando possível aliança com Lula.
A manutenção dos parlamentares em suas posições atuais, mesmo após o anúncio oficial de saída dos partidos da base, sugere um arranjo que permite ao União Brasil e Progressistas declararem-se publicamente como oposição, enquanto na prática mantêm-se alinhados ao governo em votações estratégicas.