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“Meu desafio era ficar vivo”, lembra transplantado duplo de pulmão

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“Meu desafio era ficar vivo”, lembra transplantado duplo de pulmão

Tudo começou com uma pneumonia, mas a progressão do quadro clínico do operador de som Augusto Walmir Zuvela Péra foi tão grave que ele desenvolveu uma fibrose (tecido cicatricial no pulmão que dificulta o funcionamento do órgão). Anos depois, por conta do problema, ele chegou a perder 35 quilos durante uma internação e precisou de um transplante de pulmão duplo.

Quem o vê hoje, aos 65 anos, com uma rotina atribulada, não imagina a jornada que Augusto enfrentou para viver o que ele define como “uma vida absolutamente normal”.

O problema do operador de som se acumulou ao longo de anos. Em 1986, ele teve uma pneumonia grave. Na época, foi tratado e curado, mas ali se formou uma pequena fibrose em seu pulmão.

“Como eu tinha rinite, a médica da época já me avisou para ficar de olho, que poderia evoluir. Eu tinha 30 e poucos anos. De lá pra cá, toda vez que eu pegava uma gripe, a fibrose se manifestava. Com o tempo, ela foi aumentando e, depois de uns 10 ou 12 anos, me aconselharam a procurar um pneumologista”, lembra Augusto.

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O quadro evoluiu. Em 2014, durante uma viagem às montanhas nevadas na Argentina, ele percebeu que não conseguia caminhar e sentia uma falta de ar extrema. Ao voltar ao Brasil, os médicos descobriram que Augusto tinha fibrose cística, uma condição genética que faz com que o muco se acumule no pulmão e comprometa a capacidade do órgão de capturar oxigênio.

“Eu seguia trabalhando, tinha uma vida normal, mas os médicos perceberam minha oxigenação caindo. Antes mesmo de precisar do oxigênio, me disseram que eu precisaria de transplante eventualmente. Foi um choque para mim”, lembra.

Com o avanço da doença, ele começou a se sentir cada vez mais cansado. A falta de ar era tal que os médicos recomendaram que ele usasse um suporte de oxigênio quando se sentisse exausto ou ao dormir. Logo ele estava usando o equipamento até para tomar banho. O operador de som não conseguia mais trabalhar, ficou de licença e passou a usar o oxigênio 24h enquanto estava na fila do transplante.

“Tinha fisioterapeuta e home care para que eu aguentasse a cirurgia e ficasse bem. O desafio era ficar vivo. Eu saía, dirigia, mas era o tempo todo no oxigênio, usava mais de um litro por dia. Quando meu filho casou, fiquei no altar com ele de oxigênio, com uma porção de garrafinhas extras para caso precisasse”, conta.

Tempo de espera por pulmão

Foram dois anos na fila do transplante. Só em maio de 2016, Augusto conseguiu passar por um transplante pulmonar bilateral (quando os dois órgãos são trocados) no Einstein Hospital Israelita. A cirurgia foi comandada por José Eduardo Afonso Jr., atualmente coordenador do programa de transplantes do Einstein. “Três em quatro dos nossos transplantes são feitos pelo SUS e nosso compromisso é atender toda a população com qualidade”, diz o médico.

“Fui colocado na fila em junho de 2014. Me chamaram duas vezes, mas os órgãos não estavam bons e precisei voltar para casa. Na terceira vez, em 3 de maio de 2016, a cirurgia de transplante pulmonar bilateral aconteceu. O médico disse: ‘Hoje vai’. Emocionado, entreguei a Deus, rezei e fui, com a certeza de que daria tudo certo. Foram 14 horas de cirurgia”, conta Augusto.

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Doença deixou o operador de som Augusto sem trabalhar

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As dificuldades de respirar por conta de uma fibrose obrigaram o aposentado a passar por um transplante duplo de pulmão

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Ele descobriu a gravidade de seu caso ao perceber que não conseguia respirar durante uma viagem à montanha na Argentina

Arquivo Pessoal

Cordas vocais comprometidas

Augusto lembra de um susto na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) quando precisou ser reintubado e as cordas vocais foram atingidas. O problema fez com que o paciente ficasse o dobro de tempo em observação. A recuperação, porém, foi boa, e ele voltou para casa 30 dias depois.

“Quando me ligaram para fazer o transplante eram exatamente sete horas. Lembro que fiquei chateado que seria muito trânsito para chegar. Quando voltei e abri a porta da minha casa, exatamente um mês depois, eram extamente sete horas. Aquilo ficou marcado para mim, foi como se eu tivesse ganhado o tempo de volta”, conta.

Após a cirurgia, a mudança principal foi nos cuidados: exercícios, alimentação e muitos remédios. Ao longo dos meses de doença e do tempo de internação, ele perdeu 35 quilos, a maior parte de massa magra, e precisou de fisioterapia para recuperar a musculatura. Em poucos meses, já estava apto para trabalhar mas decidiu se aposentar.

“Minha vida é absolutamente normal hoje aos 65 anos. Cuido-me mais do que antes do transplante, fazendo exames de sangue e acompanhamento regular. A única coisa que não consigo fazer por conta da idade e do sedentarismo pós-cirurgia é correr, mas consigo caminhar rápido. Não tenho restrições alimentares, a não ser o açúcar, por causa da diabetes”, afirma Augusto.

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Fonte: Metrópoles

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