Petistas veem um espaço para o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atrair eleitores de centro após os ataques do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao ministro Alexandre de Moraes.
Aliados do presidente já começam a explorar a narrativa de que um perfil “moderado” de Tarcísio não existiria mais ou até mesmo nunca existiu de verdade.
O governador abraçou de vez as demandas do bolsonarismo no ato da oposição na Avenida Paulista no domingo (7). Ele escolheu a dedo o discurso do 7 de Setembro para virar a chave e tentar conquistar a base bolsonarista mais radical.
“Essa aura de bolsonarista moderado caiu por terra, acabou. Ele assumiu o discurso bolsonarista, autoritário. Vamos denunciar isso para a população”, avaliou o senador Humberto Costa (PT-PE).
Nas redes sociais, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), disse que Tarcísio “cruzou o Rubicão”. “Tarcísio não age como governador, mas como advogado de Bolsonaro. Quem ataca ministros e defende anistia para conspiradores não luta por liberdade: legitima o crime, sabota a Justiça e abre caminho para novos atentados contra a democracia”, diz trecho da postagem.
Apesar da desaprovação das falas de Tarcísio, aliados de Lula consideram que essa radicalização do governador ajuda o presidente na disputa pelo eleitor de centro — ou seja, eleitores de centro ou centro-direita que não concordam com a anistia a envolvidos na suposta trama golpista, nem com a subida de tom contra o Judiciário.
O cenário aponta a tendência de que a próxima disputa presidencial continuará a ser polarizada entre Lula e o candidato anti-Lula, sem espaço para uma chamada terceira via.
Neste caso, os eleitores de centro podem ser decisivos para o resultado final.
Pela primeira vez, Tarcísio atacou diretamente Moraes publicamente e a condução do julgamento de Jair Bolsonaro e outros réus pelo STF.
“Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo nesse país. […] Tentam criar uma narrativa de que o 8 de Janeiro foi uma tentativa de golpe de Estado. Todos os advogados disseram que não conseguiram fazer a defesa. Será que isso nos dá um julgamento justo? Não existe documento, não existe ordem. Como vou condenar uma pessoa sem nenhuma prova? Se a gente está aqui hoje defendendo a anistia, essa anistia tem que ser ampla”, disse o governador.
O mundo político de Brasília enxergou na investida contra Moraes um movimento de Tarcísio para se cacifar de vez como o substituto de Jair Bolsonaro na disputa presidencial do ano que vem.
A fala ajuda a acabar com as críticas internas na oposição de que faria um papel duplo. Por outro lado, esses ataques e a bandeira gigante dos Estados Unidos no ato na capital paulista ficaram de fora das redes sociais do governador.
O episódio também virou um prato cheio para o discurso em defesa da soberania nacional de Lula.
O centrão, por sua vez, continua a apostar em Tarcísio como o próximo nome da direita ao Planalto. No entanto, teme que a postura destrua pontes com o STF.
A reação também veio do próprio Supremo.
O presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, afirmou que o julgamento de Bolsonaro é “guiado por provas e não por disputas políticas”.
No 7 de Setembro de 2021, na mesma Avenida Paulista do discurso de Tarcísio, Bolsonaro disse que não cumpriria mais ordens de Moraes. Agora, em prisão domiciliar imposta pelo magistrado por descumprir medidas restritivas, não pôde participar do ato.
Nesta terça (9), o Supremo retoma o julgamento de Bolsonaro e mais sete réus por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes. O dia começa com a leitura do voto de Moraes. Se condenados, as penas de Bolsonaro podem chegar a 43 anos de prisão.