Mais de 14% das crianças e adolescentes de 10 a 19 anos em todo o mundo enfrentam problemas de saúde mental, de acordo com o relatório KidsRights Index 2025, divulgado em junho deste ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio já é a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
Entre os principais fatores associados ao aumento dos problemas de saúde mental em jovens estão as cobranças da escola, a comparação com colegas, a pressão social, o uso excessivo de redes sociais, desigualdades socioeconômicas e os impactos da pandemia de Covid-19, de acordo com Geiza Antunes, neuropsicóloga e responsável pelos grupos de apoio de crianças e adolescentes da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA).
“Além disso, segundo a OMS, relações familiares difíceis, situações como violência, bullying e até a busca por identidade podem pesar muito no bem-estar mental dos adolescentes”, afirma a especialista à CNN.
Uma das formas de combater os impactos desses fatores na saúde mental dos adolescentes é contar com uma rede de apoio, que envolve familiares, amigos e, até mesmo, a escola. Mas como os pais podem desempenhar esse papel respeitando o espaço individual dos filhos e evitando cobranças que podem piorar a condição?
“O ideal é encontrar um equilíbrio: mostrar expectativas, mas também dar apoio emocional e valorizar os esforços dos jovens. Uma sugestão é usar a Comunicação Não-Violenta, que ensina a observar sem julgar, falar dos sentimentos e necessidades, e transformar exigências em pedidos. Isso ajuda a criar um diálogo mais leve e de confiança”, orienta Antunes.
Além disso, ela reforça que a escuta ativa é essencial para que os jovens se sintam acolhidos. Neste sentido, os pais podem criar um espaço em que validam os sentimentos dos filhos sem julgamentos, para que eles se sintam mais à vontade para falar sobre suas angústias sem críticas.
“Pesquisas relatam que a presença ativa dos pais, mesmo com suas rotinas corridas, fortalece vínculos e cria senso de pertencimento. As evidências sugerem que não precisa ser o dia todo, mas ter momentos de qualidade, como refeições juntos, uma caminhada, ou até mesmo uma boa conversa, já fortalecem o vínculo”, afirma a neuropsicóloga.
“Quando os pais demonstram interesse real nos hobbies e na rotina dos filhos, eles se sentem mais valorizados e seguros. Esse tipo de presença é um fator de proteção contra problemas de saúde mental”, completa.
Outro ponto importante para a manutenção da saúde mental dos filhos é os pais cuidarem do próprio bem-estar emocional. Uma pesquisa publicada recentemente na revista JAMA Pediatrics mostrou que o sofrimento mental dos pais está associado a um desenvolvimento infantil abaixo da média, afetando áreas como cognição, habilidades socioemocionais, linguagem e desenvolvimento físico.
“Pesquisas mostram que a saúde mental comprometida dos pais pode gerar instabilidade familiar, insegurança e dificuldades na regulação emocional dos filhos. Depressão ou ansiedade não tratadas reduzem a qualidade da comunicação e do tempo em família, além de favorecerem conflitos que aumentam o risco de transtornos emocionais nos filhos”, afirma Antunes.
Como, então, fortalecer a saúde mental familiar? Segundo a especialista, manter uma rotina equilibrada pode ajudar bastante nesse desafio: melhorar a qualidade do sono, manter uma alimentação saudável e fazer atividade física.
“Mas não é só isso: momentos de lazer em família, passeios ou até mesmo atividades simples, com os pais, criam boas memórias e reduzem o estresse. Não menos importante é incentivar a conversa aberta, buscar apoio psicológico quando necessário e fortalecer as redes de amigos e familiares. Técnicas de respiração, ioga ou até leitura contribuem para um ambiente emocionalmente mais seguro”, finaliza.