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Superquarta: o que esperar dos juros no Brasil e EUA a partir de agora

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Superquarta: o que esperar dos juros no Brasil e EUA a partir de agora

A bola já está cantada nesta (super) quarta-feira (17), nome dado ao dia em que a definição de juros no Brasil e nos Estados Unidos caem sob a mesma agenda.

Lá fora, o mercado antecipa um corte de 25 pontos-base pelo Fomc (Comitê de Política Monetária do Federal Reserve) — o primeiro desde dezembro do ano passado. É a expectativa de 96% dos operadores, segundo levantamento diário do CME Group.

A decisão será divulgada 15h, com falas de Jerome Powell consolidando o cenário às 15h30.

Por aqui, a expectativa é de manutenção da taxa Selic em 15%. O comunicado oficial do Copom sai três horas depois do vizinho norte-americano, a partir das 18h30.

Ambas as apostas fizeram preço — e recorde — na bolsa brasileira e americana. O Ibovespa, índice referência do mercado acionário brasileiro, fechou em máximas históricas na segunda (15) e terça-feira (16), sustentando os 144 mil pontos pela primeira vez no último pregão.

Nos EUA, o movimento de alta foi registrado na última semana, após divulgação de dados econômicos sobre emprego. Os três principais índices de Wall Street (Dow Jones, Nasdaq e S&P 500) chegaram a novas máximas na última quarta-feira (11). O Ibovespa, idem.

O que está acontecendo lá fora

Como os números do CME indicam, o mercado sequer cogita a possibilidade de o Fed não iniciar um ciclo de cortes esta semana. Cortesia de alguns dados (e posicionamentos) que começaram a sair a partir de agosto.

O primeiro indicativo do afrouxamento monetário aconteceu no dia 22. O (discreto) aceno foi dado por Jerome Powell, presidente da autoridade monetária, durante discurso em Jackson Hole.

“Com a política em território restritivo, a perspectiva básica e a mudança no equilíbrio de riscos podem justificar o ajuste de nossa postura política”, disse Powell. O aceno a um corte dos juros deixou os mercados incendiados, com altas na bolsa aqui e acolá.

Depois desse dia, uma batelada de dados importantes confirmaram, justamente, esse cenário de equilíbrio.

Ainda em agosto, saíram números do PCE (Índice de Preços das Despesas de Consumo Pessoal, na tradução do inglês), indicador de inflação preferido da autoridade monetária.

O índice teve alta de 0,2% em julho, avanço menor em relação aos 0,3% do mês anterior e em linha com as expectativas do mercado. A redução da alta foi lida por investidores como um sinal de desaceleração da economia.

Em setembro, investidores acompanharam de perto o Payroll, CPI (Índice de Preços ao Consumidor) e pedidos de auxílio-desemprego. Todos reiteraram uma estagnação da atividade econômica gringa.

Remédio para inflação

O CNN Money explica: uma desaceleração é, justamente, o que uma autoridade monetária busca quando aumenta os juros.

Apesar de parecer ruim para o país — com menor consumo das famílias, pouco investimento das empresas e desemprego elevado — o cenário ajuda a conter o aumento da inflação. É a mais antiga lei do mercado: demanda reduzida, preço reduzido.

Quando ela está sob controle, a tendência dos bancos centrais é começar a cortar taxas. A ideia é reestimular investimentos e consumo no país, que corre o risco de recessão caso sua atividade econômica não seja reavivada.

É trabalho dos dirigentes encontrar este difícil equilíbrio, baixando, subindo (e mantendo) os juros conforme os que indicadores econômicos se desenrolam.

Acontece que, contrariando o raciocínio acima, a inflação nos EUA aumentou nos últimos meses — principalmente devido ao tarifaço de Trump, em vigor desde o dia 6 de agosto.

O cenário indica algo que economistas chamam de estagflação: quando a atividade econômica começa a desacelerar e os preços seguem em alta — combo mortal para a economia de qualquer país.

Autoridades monetárias acreditam que o efeito tarifário é temporário. Contudo, enquanto estes tentam dar sentido ao quebra-cabeça econômico complicado, o governo Trump continua a pressionar o Fed.

Desde o início de seu segundo mandato, Trump tem criticado publica e incessantemente Powell e o Fed, entidade historicamente independente, por não reduzirem os juros este ano.

Nesta semana, em publicação nas redes sociais, o republicano pediu que a autoridade monetária promovesse um corte “maior” nas taxas de juros de referência, apontando para o mercado imobiliário.

A rusga não passou ilesa por investidores, que ainda temem uma interferência no corte já precificado. No pregão pré-superquarta, Wall Street operou em leve queda, com cautela antes de decisão do BC americano. Ao que tudo indica, o mercado terá a resposta aos seus anseios às 15h.

No Brasil

Por aqui, a autoridade monetária não é tão enigmática. O BC solta o Boletim Focus toda semana, dando a oportunidade de economistas e investidores externarem o que deve acontecer com a economia dali adiante.

No último, divulgado na segunda, economistas consultados pela autoridade monetária mostraram uma manutenção da previsão da Selic em 15% ao final deste ano pela 12ª semana seguida, e um ajuste nos cálculos para o ano que vem após 32 semanas de manutenção para 12,38% (ante 12,50%).

Em junho, o BC havia sinalizado que os juros deveriam ficar no patamar de 15% ao ano por período “bastante prolongado”. A ideia é preservar a evolução do quadro econômico e levar a inflação à meta de 3%.

No comunicado, o BC indicou o fim do ciclo de alta, mas enfatizou que “ficará vigilante” e que “passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”.

A empolgação por aqui, portanto, segue mais a terra do Mickey do que os trópicos. Afinal, a avaliação do mercado é que uma tesoura nos juros americanos pode estimular a economia global a fazer o mesmo — Brasil incluso.

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*Com informações de Bryan Mena, da CNN, em Washington

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