As tarifas de 50% implementadas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras impactaram diretamente cerca de 10 mil trabalhadores brasileiros, sendo 4 mil deles demitidos. Já 5,5 mil foram colocados em férias coletivas e 1,1 mil enfrentam processo de layoff — suspensão temporária do contrato até segunda ordem.
É o que mostra um levantamento divulgado semana pela Abimci (Associação Brasileira de da IndústrOKia de Madeira Processada Mecanicamente), realizado junto às suas associadas.
A previsão da entidade é que, caso o cenário tarifário não se altere, cerca de 4,5 mil postos de trabalho também serão perdidos nos próximos dois meses. Isso significa que 15,1 mil empregos serão impactados pela decisão de Donald Trump, em vigor desde o dia 6 de agosto.
O que está acontecendo
Segundo dados da Abimci, o setor madeireiro exportou US$ 1,6 bilhão para os Estados Unidos em 2024, para onde são destinados, em média, 50% do total produzido no país.
Em alguns segmentos, a dependência é ainda maior, com 100% das vendas voltadas exclusivamente ao mercado norte-americano.
O impacto da aplicação das taxas norte-americanas nas empresas madeireiras coloca em risco aproximadamente 180 mil empregos diretos em todo o Brasil, afirma a associação.
Apesar os números relevantes, o setor de madeira não é o único que não escapou das tarifas de Trump. Café, carnes, pescados, frutas e equipamentos de construção civil, por exemplo, também sofrem com a interrupção de exportações ao país, que representava uma fatia relevante da clientela de todos os setores citados.
Até agora, férias coletivas e demissões não foram vistas na mesma escala.
Em entrevista à CNN, o superintendente da Amimci, Paulo Roberto Pupo, explicou que isso acontece por uma particularidade do setor de madeira: a personalização de parte da indústria exclusivamente aos EUA.
Os contratos são fechados com uma especificidade muito grande, que praticamente impossibilitam a mudança de um mercado para outro tão rapidamente.
O negócio dos mouldings (molduras de madeira, do inglês), por exemplo, é produzido especialmente para o mercado norte-americano. Não há mercado em nenhum outro lugar do mundo para o produto.
“Nestes casos, não há outra solução além da paralisação das unidades fabris”, explicou o especialista.
Outras ameaças
Além da ameaça tarifária, os EUA deflagraram uma investigação comercial contra o Brasil (chamada Seção 301) na qual citam a madeira brasileira.
O USTR (Representante Comercial dos Estados Unidos) avalia que o país parece não estar conseguindo aplicar efetivamente as leis e regulamentações destinadas a impedir o desmatamento ilegal, o que prejudicaria a competitividade dos produtores norte-americanos de madeira e produtos agrícolas.
Além da contratação de advogados para defender o setor das acusações, a Abimci também participou de uma comitiva empresarial liderada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em Washington no começo do mês para convencer os americanos a rever o tarifaço aos produtos brasileiros.
Na agenda, inclusive, estava a participação na audiência pública no USTR sobre as acusações, consideradas infundadas pela entidade.
“Temos defendido o setor de forma técnica frente às investigações que estão em curso dos processos das Seções 232 e 301, abertos pelos Estados Unidos e que também poderão atingir ainda mais o setor, caso as negociações entre os dois países não avancem”, disse a Abimci, em nota.
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